minha vida de peão de trecho - Goiás...

Goiás – Planalto Central....

Quando cheguei a Goiás a convite de um amigo e chefe Dr. Luiz Mello, que partiu desta vida tão cedo, e em sua homenagem que jamais tiro seu nome dos meus escritos, pois com certeza seus herdeiros são a continuidade da honradez e da maneira tão singela e deliciosa que tal profissional fazia valer seus ensinamentos profissionais e técnicos.

Com apenas uma visita a obra pela manhã e pela tarde, ele passava ao seu mapa de trabalho e em plena reunião de trabalho queria saber exatamente qual foi o problema ocorrido para que a tarefa não tinha sido cumprida, pois para ele não existe uma resposta negativa e sim sempre uma ação a ser efetuada, pois com certeza somos pagos para tal fim...

Se necessitamos de apoio logístico ou até mesmo algo que não exista em nossa empresa, com certeza existe na empresa ao lado que esta conosco no mesmo empreendimento e jamais podemos negar favor a alguém pois com certeza no futuro teremos algo que necessitamos e com isso uma mão lava a outra e as duas aplaudem a medida corretiva alcançada ou ate mesmo lavar o rosto, tente você lavar o seu rosto com apenas uma só mão e pegar o sabonete e enxaguar e lavar toda a sobra da espuma que com certeza ira sobrar ou no rosto ou na orelha do lado oposto a mão utilizada....

Assim nossas reuniões eram proveitosas, pois ninguém tinha como sair dela sem o dever cumprido ou com metas a serem cumpridas durante aquela jornada, e naturalmente fui convidado para substituir alguém que já estava buscando novo trabalho em outra região por problemas familiares ou algo parecido...

Ao chegar confidenciando com meu antecessor, o mesmo estava se separando da esposa e tinha um caso isolado como todo trecheiro que eu conheço, e todos tem algo em comum de serem infiéis ou pelo menos tentam minimizar tais soluçoes....

E assim ele me explicava tudo como o trabalho estava e eu teria apenas que me inteirar dos serviços junto ao responsável pela produção e demais envolvidos pelo campo, e ele pedia desculpas pois tinha um almoço marcado para as 12 horas em ponto e como devido a minha chegada foi exatamente as 11 horas daquele dia e o meu antecessor estava afoito para me deixar ali em seu trabalho e poder sair as pressas para algum encontro já programado...

Assim se despediu apressadamente de todos ali e quando de relance vi ele pegar carona num carro com vidro fume e algué m do sexo feminimo, dar um beijo apaixonado e saírem rumo a cidade próxima de Senador Canedo e naturalmente por ali não ter motel, o casal teria que se deslocar para a cidade vizinha e capital do estado de Goias, Goiania onde há bons motéis caros com almoço executivo....

Quando estava conversando com a recepcionista chegou uma senhora de meia idade, de carro com sua filha de uniforme da escola a procura do meu antecessor que havia saído a instantes e poderiam ter se encontrado pela via rodoviária caso tivessem utilizado a mesma rota, pois na região tem duas opções para sair de Senador Canedo com direção a Goiania, pela rota de rodovia que liga Goiania a outra cidade em direção a Minas Gerais que é a principal e tem uma saida para a esquerda para Senador Canedo de quem vem de Goiania para a base da empresa... e outra que liga Senador Canedo a Goiania por uma estrada rural cheia de curvas , mas asfaltada devido o percurso ser usado pelos caminhões que preferem encurtar o caminho para pegar a rodovia que liga Goiania a Brasilia e a S. Paulo.

Assim que a senhora chegou nem me cumprimentou e foi logo perguntando :-

- É por acaso você o caso do meu marido que trabalha aqui na empresa???

E a recpecionista pergunta:-

- Quem é o seu marido???

- O Gerente da Qualidade daqui, você não conhece o meu marido???

E a recepcionista que não tem papas na língua diz:-

- Claro que conheço o seu marido, mas ele acabou de sair com uma amiga dele para ir almoçar não faz nem meia hora, minha senhora!!!

Assim aquele almoço salgou demais para o meu gosto e com certeza aquela recepcionista se fosse funcionaria desse meu amigo já teria sido expulsa da obra, mas o meu colega ao saber , ele ria e disse a mim:-

- Nem preciso dizer o porque de você ter vindo aqui me salvar dos problemas que o seu antecessor estava tão enrolado que nem tinha tempo para o trabalho.

Assim foi a minha chegada em tal obra em que tínhamos todo o trabalho ainda pela frente pois com o atraso devido as chuvas não tão comuns na região e que atrapalharam nosso planejamento e a Contratante com interesse de inaugurar logo a base com a chegada dos tubos que interligavam a base a refinaria de Paulinia que encaminhava gás e gasolina para o estado de Goías ...

Naturalmente fui me acostumando a conhecer a região e a morar no alojamento da empresa no centro da cidade, um pouco mais para o bairro de Pedro Luduvico bem ao lado do Campo de Futebol do Goias Futebol Clube....

Tinhamos um trabalho fiscalizado por uma excelente profissional que atuava e tinha uma noção de que seu trabalho era ser fiscal da Contratante , que apesar de ser de menoridade tinha uma noção do que poderia ser medido durante o final do mês e claro a minha função era de ser o melhor amigo dessa profissional em função da nossa dependencia em que a medição não fosse prejudicada por algum fato que por ventura estivesse pendente por algo que se poderia resolver em algumas horas ou dias mas que não ultrapasse o fim do mês...

Assim além do meu trabalho de coordenar os profissionais que atuavam no controle da qualidade, ficou reservado a mim de utilizar o carro e servir a fiscal nas medições durante todos os dias e principalmente no final do mês quando fechava o faturamento para que tal medição fosse a mais próxima da planejada pela nossa chefia da Matriz, de tempos em tempos nos visitava e exigia que pudéssemos atuar como verdadeiros profissionais e donos da empresa e não empregados....

Assim foram exatamente 2 anos de trabalho árduo e prazeiroso de acompanhar tal profissional durante seu período de lazer em que ela estudava o curso de Tecnica e pretendia trabalhar fora dessa área de produtção devido as costumeiras cantadas dos peões pela sua beleza morena e seu corpo ainda de menina mas com certeza em breve de mulher que faria parar o transito dentro da obra....

Nesse mesmo tempo, tentava fazer uma amizade maior com alguém na área de Planejamento que inclusive sabia que seu aniversario se aproximava e assim programei uma festa surpresa, convidando a sua mãe, irmã e amigos para um restaurante fora da obra da empresa, e segundo ela adorava perfume Frances mas nem tinha idéia do nome.... mas que tinha um numero 5....

Claro que conhecendo as mulheres e vivendo essa vida louca de nômade e estar em cada obra trabalhando , mas tendo algumas companhias interessantes e naturalmente conhecendo Chanel 5, e o preço do custo dele, para que não parecesse meu interesse único em ser cavalheiro fiz uma vaquinha com todos e a presenteamos como se fosse um presente de todos....

Naturalmente aquele perfume rendeu um jantar a luz de velas no Tacho de Cobre, um restaurante maravilhoso proximo aos mais conhecidos freqüentadores do Estadio Serra Dourada em Goiania....

Foi uma noite maravilhosa, sem nada mais a não ser alguns beijos e ela sabia que tinha outra pessoa em minha vida e isso a mantinha com restrições comigo ou com qualquer homem casado, e depois das confusões ocorridas na base de Senador Canedo, que por sorte acabou naquele almoço, e nosso colega veio com suas malas e receber sua quitação e informando que havia se separado da mulher e da filha e regressava para casa de seus pais em São Paulo.

Assim amigos é a nossa vida de trecho que para alguns parece um paraíso de encontros e desencontros e nem sempre isso pode acarretar apenas prazer , mas problemas como esse não previstos em nossa relação a dois ou a três, que dizemos que peão de trecho, não tem dono e nem sabe o caminho de casa de tantos e tantos endereços em estados diferentes....

Sei que passei nessa minha vida de trecho por momentos maravilhosos e outros nem tanto afinal nem sempre as pessoas nos vêem com olhos de bons amigos e nos acham que somos apenas interesseiros em busca de prazer e momentos furtivos com suas filhas ou até mesmo com suas companheiras....

Pois a maioria se dizem solteiros, mas a maioria são muito bem casados em seu domicilio, com filhos e até netos , afinal nem todo são tão jovens e trabalham a longa data viajando por este Brasil imenso e onde nunca deixamos endereços e nem telefones a não ser novos chips que compramos em cada lugar por onde passamos e não me esqueço jamais um dia que o padre numa missa em Itajai na matriz dizia:-

- Filhas, não se envolvam com esse pessoal de fora que aqui chegam para apenas ganhar o seu salário e mandar para suas esposas, pois todos são casados e bem casados e não usam alianças em seus dedos!!!

E as mulheres olharam para mim e eu apenas mostrei a minha aliança no meu dedo anular esquerdo provando que eu era casado e usava o meu anel de casado para provar que era um dos únicos que realmente usava e nem mesmo por isso as mulheres evitavam a nossa amizade...

Assim é o trecho, o casado muitas vezes é mais benquisto, pois não sai por ai comentando que fiz isso ou aquilo com a fulana de tal, enquanto que o solteiro é como se diz no trecho um BOCA ABERTA , que conta tudo, nome, telefone e ate endereço, igual a piada do Joãozinho que vai a igreja e conta para o padre que teve um caso com uma mulher casada....

E o padre curioso pergunta, foi com a Joana da padaria, e o Joãozinho :-

- Não foi seu padre!!!

- Então foi com a Maria do Mercadinho???

- Não !!! responde Joãozinho!!!

- Ah já sei foi com a Luiza da confeitaria???

- Não seu padre!!!

Terminada a confissão e a penitência de quantas

Ave Marias e quanto Padre Nossso a serem declamados para eliminar os pecados...

O colega pergunta para o Joãozinho:-

- E ai o padre te deu a ficha???

- Ah se deu e cada ficha !!!!

Assim amigos vivemos de momentos e de momentos felizes ou infelizes , pois quando perdemos algum amigo em acidentes, na obra ou em trajeto a obra fica a nossa culpa de que poderíamos ter evitado tal morte, com prevenções ou ate mesmo menos bebida que é muito comum do pessoal ir almoçar fora do canteiro de obra e tomar excessivamente álcool, o que é terminantemente proibido em obra, pois tira naturalmente o bom sendo e aumenta a coragem tornando o profissional mais propenso a ter acidentes em trabalho ou durante o trajeto de obra ao local de onde se alimentou e nem percebeu que tomou demasiadamente e nem tem noção do perigo de dirigir embriagado e levando mais amigos e pais de familia mais cedo para seu destino certo:- O CEMITÉRIO, o único lugar comum de todos nós que estamos nesta passagem por aqui como trecheiro ou cidadão comum....