Atirador Vilela, Pai de Nanda Araújo

'Artilheiro' talvez ficasse mais elegante, mas 'Atirador' é que parecia servir melhor ao ardor doutrinário daqueles que julgavam dever inalienável o adestramento de nossos jovens para a sagrada defesa de nosso solo pátrio. E assim, sem unidade do Exército em minha pequena cidade natal, a Velha Serrana, é que fui conhecer o Tiro de Guerra na

progressista cidade dos Candidés, Divinópolis, cidade dez.

Mais, na verdade, vim a conhecer atiradores, do que propriamente o Tiro, já que dispensado da obrigação imediata do serviço militar andava eu por haver abraçado uma ordem eclesiástica, alistado assim que estava nas hostes do Senhor dos Exércitos.

E foi na condição de seminarista, já quase ex, que conheci o Atirador Vilela. Cinquentenário, ferroviário, vivia numa casa singela,num dos becos próximos da catedral diocesana, rodeado família, e da admiração dos que o conheciam. Fora Atirador da turma de 1938, na iminência do

grande conflito que envolveria e mais dividiria o mundo.

Homem alto e de porte elegante, estampava na face as marcas de uma vida morigerada, laboriosa, e rica no seu frutificar. E estavam ali, à mostra, os frutos de uma união feliz, enraizada nos bons costumes e no temor ao Pai. Eu fiquei foi encantado com um daqueles rebentos, que me eram proibidos em pelo menos dois quesitos: a minha condição de clérigo, celibatário por obediência, e a condição da fruta cobiçada, já prometida.

Não confessei minhas agruras d´alma ao Criador, nem ao Atirador Vilela. Mas tenho por mim que pelo menos o Atirador me manifestaria sua simpatia. Ele também já fora moço um dia. Tiro e queda.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 14/09/2015
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