Filha Grata!

Instigada pelo colega Facuri, "que venha o III", atrevi-me a escrevê-lo. Desta vez, porém, sob o prisma da gratidão... Há que sublimar a dor e deixar-se abraçar pelo amor...


No texto "II - Filha Ingrata", assim comentou o nobre poeta: "quase que um diário em síntese de lembranças e desabafos, mas descortinando-se um constatar de razões reconhecidas..." verdadeira tua afirmação amigo. A psicoterapia trouxe à tona, o extenuante trabalho psicoterápico de treze anos, construiu gradativamente, a coragem para exteriorizar sentimentos, externando minhas mazelas internas... Ninguém perguntou-me se autobiográfico ou fictício, sinto-me à vontade, no entanto, em assumir a condição de autora da própria história. Autorizar a si mesma é ir além, muito além de mim mesma, é permitir-me ser...

Autorizar-me ser como sou e aceitar o meu ontem, é tomar nos braços minha assustada criança interior, lhe fartar no peito e, saciar sua fome de afeto, num deleite que só o sabe quem de fato, se permitiu viver a plenitude desse reencontro... o processo de regressar à infância, ainda que carregado de incertezas e percalços, e o espanto desse reencontro, valem todo o risco da viagem interior... somente assim, hoje me é possível almofadar a dor, acalentar o desamparo, acarinhar o desamor e dizer à minha pequena, eu te amo como és... finalmente, o amor incondicional que não sentiu naquele tempo, pode experienciar hoje, no abraço de cumplicidade e no respeito de cada gesto, no inédito do nosso dia a dia mais rotineiro e singelo.

Preciso dizer que havia um temor dúbio e constante em meu ser durante essa travessia... temia encontrar minha menina e não suportar sua dor, assim como temia encantar-me consigo e narcizar... ah, como abreviei e temi afogar-me em meu próprio lago... o não saber, faz isso! Ainda assim, insisti... algo muito forte pulsava em mim e me empurrava desfiladeiro abaixo,
em minh'alma inquieta, sussurros diziam-me que seria assim, abissal, incrível e profundamente gratificante, e é...  

E, estranhamente ou não... ocorreu o inverso, aguçou-me a sensibilidade com o outro, o amor pelo ser que me faz tornar-me eu mesma, me eleva... hoje ao olhar cada ser humano, antes de qualquer prejulgamento, pergunto-me: o que lhe há de pulsar na alma... quem saberá? 

Então, olho para minha história e agradeço cada instante, de alegria ou de dor... sou o que sou, porque vivi o que vivi... Olho para minha querida mãe e perdoo seu jeito de ser, perdoo sua rudeza, na simplicidade e ingênua forma de agir, sei, foi assim que, profundamente, me amou. 

A filha é grata!
Grata à vida! Grata ao amor!
Grata à caminhada, poesia que segue a compor...
Cada dia, um verso ímpar... cada ser, um universo singular e,
Amanhã... se houver, um novo poema a viver, a amar, a escrever!

 
Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 09/09/2015
Reeditado em 10/09/2015
Código do texto: T5376690
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