Douto Waldemar
Miro agora aquela casa antiga, colonial no estilo e no tempo, paredes brancas, portais azuis, hoje pelo tempo um tanto machucada, e que no passado, por Waldemar e Norma foi habitada. Nunca adentrei seu interior, circunspecto que era seu morador e tímido que sou, antes até de ser escrevedor.
Waldemar era doutor, mas mais se notabilzou como Professor. Inglês e francês é que o entretiveram com mais ardor. Norma, sua consorte, além da esponsal alegria, fruto de seu amor, o jovem Márcio lhe daria. Vinha ela de distinta estirpe pitanguiense, herdeira da lendária Joaquina do Pompéu, dama de ferro e de berro, para a qual ainda se tira o chapéu.
A rua onde a casa se situa, justamente em frente à dita casa se alarga, confrontando-a com a renovada habitação que foi de um Coelho Mourão e com o solar, dum doirado de arrasar, de um ainda não dito Doutor Dito, hoje, por atitude feliz e ousada, em pousada transformado. O calçamento em paralelepípedo, tão original, ao asfalto deu lugar. Pecado só venial?
Além do clínico que foi, de excelência, Waldemar, no magistério, foi além, com proficiência. The book is on the table. E de lá, se foi tirado, na biblioteca famosa, objeto de veneração em verso e prosa, há de estar resguardado. Impecável, quiçá, encapado. Só o amigo Walter, ao que eu saiba, nesta alexandrina Pitangui terá mais obras do que as propaladas aqui.
Um colega de trabalho, e amigo de papai, o Geraldo, certamente maravilhado com a descrita fachada do casarão, foi, contudo, pelo quintal que achou mais voluptuosa atração. O tempo era de jabuticabas e pela cerca dos fundos, que dava para um córrego, hoje todo coberto, foi que Geraldo cismou de ser o caminho certo. A cerca saltou e enquanto com as pretinhas se entretinha, nem percebeu o vulto que se aproximou. Era, armado, o Professor adorado, que o surpreendia, em meio à jabuti-cabal orgia.
Descido e pela verguenza rendido, Geraldo fez menção de reganhar a margem do córrego donde viera, saltando a cerca outra vez. A objeção de Waldemar, peremptória, foi inflexível.
- Não, moço, em minha casa se entra e se sai é como gente, pela porta da frente.
E o brilho daquele revólver continua a revolver a mente.