Carne de pescoço
O velho Friciano, já viúvo e morando com o filho casado José, gostava mesmo era de uma fogueira de São João. Tinha, contudo, que se contentar com a ereção do mastro só uma vez ao ano, em homenagem ao santo, padroeiro de seu filho Joãozinho - desavindo
com o mano José, e meio mundo.
Friciano, nada obstante, ia vivendo um ano atrás do outro, à espera da
fraternal reconciliação - e da fogueira, por quê não. Ao menos, aquecia o espírito a custo de oração, e a alma - já que o corpo andava quase em levitação - voltava à calma era com quentão.
Valia esperar todo o ano para aquela distração. Mas neca da paz entre
José e João. E ficava sempre para o ano...Até que por fim cansou-se o Friciano, do azedume do Zé à raleza de seu café, requentado e friim. O dia que o velhinho animou a sair de sua enxerga, no quarto em perene media luz foi para dar à nora Nininha aquela sua pratinha de estimação, já ensebadinha de tanta fricção - também pra que mais serve o tostão – para rogar-lhe, quase ditar-lhe, com os olhos fundos, que lhe comprasse carne. Queria comer carne e não iria esperar por outro São João.