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Quinto Setínio Florente Tertuliano nasceu em Cártago, na Tunísia, por volta de 150, sendo descendente de uma família pagã de posses. Estudo assim Direito e nota-se depois em sua escrita um estilo romano, haja vista essa formação. Viveu de forma profana e mundana, se entregando as paixões do sexo e aos jogos, envolvendo gladiadores. Mas admirou-se com cristãos, e assim converteu-se. Mas mais que a conversão, se dedicou ao estudo da literatura cristã, em especial em Irineu e outros, de modo que tornou-se um verdadeiro advogado do cristianismo. Ele esteve vinculado a Igreja num período que houve grande perseguição contra os cristãos, feitas por Sétimo Severo, o que fez ele se inclinar a um puritanismo e ao montanismo, doutrina que de certa forma negava o mundo e de característica ascética. Mas houve um período em que ele rompeu com a Igreja e que alguns dizem ter chegado a fundar uma seita. Contudo foi um defensor do cristianismo e suas teorias foram tão fortes, que chegaram depois a serem confirmadas por Concílio. Não era de um pensamento tão profundo, tendo em verdade defendido uma antifilosofia, onde o cristão deveria agir com humildade e a ignorância seria até mais importante que a sabedoria pagã. Escreveu até um paradoxo e comparou os filósofos gregos a profetas dos pagãos, os desmerecendo. Isso porque o cristão tem de procurar o Senhor com simplicidade de coração. Mistura a isso um pouco de ideias estoicas e conceitos jurídicos. Então, para ele é preferível a loucura divina, a sabedoria humana. Fala da graça e do batismo, e vê que apesar dos pecados passados serem perdoados, os futuros devem ser evitados. Inventou a palavra Trindade. Mas na Trindade entende por Pessoas, não personalidades, mas modos objetivos de ser. Disse que Atenas e Jerusalém nada têm em comum. Defende a fé a tal ponto que diz serem inúteis outras doutrinas. Diferente de outros pensadores cristãos, ele separa a doutrina do platonismo e do estoicismo. De certo modo ele é contra a cultura e a favor de certa ignorância. Mas sua literatura é de um estilo acessível e de fácil acesso. Ele é um estoico em sua ontologia, entendendo que o Ser é o corpo. Admirava muito Sêneca. E sua concepção da alma é contrária aquela de Fédon de Platão. Fez uma primeira linguagem teológica. Escreveu várias obras, muitas contra o que chamou de heresia, como as gnósticas. O primeiro escritor cristão a escrever em latim. Também tem um estilo sarcástico de se manifestar. Em sua obra fala das acusações absurdas que se fizeram contra os cristãos, e mais uma vez se porta como um advogado dos mesmos. Tem muitas obras, mas destas, trinta e uma sobreviveram. Das acusações que defende os cristãos, está desde o incesto, até sacrifício de crianças e ingestão de sangue. Tais práticas no mundo pagão eram até existentes, ou foram anteriormente, mesmo entre chamados de selvagens, mas dificilmente estaria em cristãos. Algumas superstições sim, e rituais. Até na Idade Média isso sobrevive, e mesmo havia uma feitiçaria ou magia cristã. Claro que a Igreja e as autoridades sempre puniram essas confusões populares. Mas Tertuliano vivia em tempos difíceis, e talvez não foi apenas advogado de defesa, mas também de acusação, como em relação ao gnósticos, em específico aos valentianos, dos quais já falamos. Buscava-se uma doutrina cristã tão pura, mas as doutrinas já eram em verdade mescla de diversos entendimentos. Basta ver na Bíblia e será difícil encontrar em Apóstolos, ou mesmo em Paulo, a noção de Trindade que é defendida por Tertuliano e outros padres. Por isso que se combater todas as escolas gnósticas foi mais uma busca política, uma vez que não se ligavam tanto a instituição da Igreja, nem a rituais como o batismo, que era uma peça de salvação aos padres e bispos. Mas Tertuliano defende o creio porque é absurdo. Ele não se preocupa com a cultura e a filosofia, o que é negativo, uma vez que mesmo Cristo conhecia tradições dos judeus, a Torá e uma série de expressões culturais daqueles, e que se devia saber escrever cartas, senão até Paulo seria esquecido, se não fosse a sua cultura e erudição. Também combateram o montanismo, pela posição ascética defendida por estes, logo longe de bispos e padres. Foi chamado de primeiro Protestante, ademais. Morreu em paz, após 229.