O metro do Chiquinho
O Chiquinho Aleixo tinha a única loja de tecidos do povoado brumadense. Abrigava-a na própria casa, no espaço nobre do que teria sido a sala de visitas. E as paredes, cobertas de fazendas, exibiam os coloridos ou esmaecidos exemplares que enchiam os olhos da ávida freguesia. E freguesia no feminino plural.
As sequiosas e obsequiosas mães - e mocinhas - é que tinham gosto, tempo e paciência para lidar com aqueles dobrados que, ao menos nos sonhos, iam vestir seus meninos e decorar suas casinhas.
Morim, gabardine, musselina, fustão...nomeie aí, leitora confeccionista, a tela de sua necessidade e preferência. Não é que lá tivesse de tudo à completude, mas o bom do nomear e sonhar é que ilude e, se não diz que trai, distrai...
Chiquinho atendia bem à clientela, com paciência e explanações singelas que até as crianças acompanhantes podiam entender. E se maravilhar: sobretudo quando ele erguia, imperial, aquele seu viril metro de madeira, amarelo e quadradinho para mensurar e quantificar uma operação, que era o êxtase da compradora de plantão.
Não me ocorre agora se após cortar e dobrar, embrulhava. Dona Elisa, sua valquiriana companheira, cujas aparições eram raras, é que nada palpitava diante daquele imperioso ato do marido. Mas na certa que aprovava, com o olhar e molhar de um Cupido.