Falta a Santa Maria
O Frei Raul, branquelão até para holandês, como helenista, tinha cor bem mais acentuada. Até ao fazer a chamada: os colegas que para nós eram simplesmente Mozár, Wéber, Laérso, na sua língua viravam Môtzart, Wêba, Laêrzon e assim ia. Até chegar ao meu Wângner.
Mas o seu grego, malgrado germanizado, era bem apreciado. Latinizando-o, eis uma amostra do que me lembro: Oi oiquia estin megalé: A casa é grande. E tinha também um pedaço da Ave Maria - profana, o Frei fazia questão de frisar - que vivo recitando a amigos e até a desconhecidos, só pra me exibir mesmo - e a algum eventual troiano, desagradar, já que a grego mesmo ortodoxo é que é o negoxo:
Raire quecaire tomene pártene María, ó Kirios estín meta tu, eloguemenos kai eloguemenos o carpos gastros tu Iéssus.
Falta a Santa Maria, ainda que profana, e mesmo agora sem o Frei, de aprendê-la um dia hei. No céu, no céu, onde reina Cristo-Rei, com minha Mãe estarei?