Otariescência
Otariescência
O saber-se otário, ou se reconhecer como tal é um grande passo. Se, por um lado não chega a limitar eventos desagradáveis, por outro, evita momentos de extremado desgosto.
Acho importante dizer aqui, que não votei no Collor. Mas confesso que comecei a ficar seduzido quando das primeiras aparições na mídia. Espero que tenha sido um momento de lucidez, quando a perceber que “é bom demais para ser verdade”.
Já tendo descartado, desde muito o caráter genético de se ser otário, apesar de ter indicativos familiares interessantes, achei que teria de aprender a conviver com a característica do meu fenótipo. O que esclarece o papel do meio ambiente.
Sempre tentei chegar no “evento zero”. Ou seja, aquele que mudou drasticamente o meu destino. Mas quanto mais longe ia minha memória, mais e mais eventos eu encontrava. Cheguei a recordar minha mãe comentando que a gravidez que me gerou ultrapassou em muito as 40 semanas, e falava em praticamente 10 meses. Me questionei se me faltou uma bússola, ou coisa que o valha!
As recordações mais consistentes são do período pós adolescência. popularmente conhecida como idade adulta! Ou próximo disso.
Acho que o hábito de acreditar que o que as pessoas dizem, é o que elas dizem, acho que nunca foi valioso. Quantas vezes acreditei no que me foi dito e fiquei esperando. Sentado, claro, afinal sou otário, mas não totalmente desprovido de sinapses úteis.
Me recordo .de quando morava em outro estado, tinha um gato chamado Paçoca. Típico gato SRD (sem raça definida).. Certo dia encontrei ele brincando com um rato morto. Imediatamente, troquei com ele o “brinquedo” por uma sardinha.
O evento começou a se repetir com uma frequência preocupante. Ele miava na porta da cozinha com um rato abocanhado. E eu trocava por uma sardinha. Eu já havia consultado a lista telefônica sobre empresa de dedetização e desratização. Preocupadíssimo.
Certo dia estava na laje, arrumando a antena da TV, quando percebo o esperto bichano saindo pelo corredor lateral da casa e indo a um terreno baldio em frente. E rapidamente voltando comum rato na boca. Passou pelo corredor e colocou o rato na porta da cozinha e se pôs a miar.
Eu fiz aquele movimento que chamo de “sorvetestálico” (enfiar um sorvete de casquinha na testa). “Até o gato me passa a perna!!!”
Pensei com os meus botões: Acho que no passaporte do Paçoca, deve estar escrito Paçoca Pavlov! O gato havia me condicionado!