José Bonifácio
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JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA
(74 anos)
Naturalista, Geólogo, Estadista e Poeta
* Santos, SP (13/06/1763)
+ Niterói, RJ (06/04/1838)
GEMEOS

José Bonifácio de Andrada e Silva foi um naturalista, estadista e poeta brasileiro. É conhecido pelo epíteto de "Patriarca da Independência" por ter sido uma pessoa decisiva para a Independência do Brasil.

Pode-se resumir brevemente sua atuação dizendo que foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823. De início, colocou-se em apoio à regência de 
Dom Pedro de Alcântara. Proclamada a Independência, organizou a ação militar contra os focos de resistência à separação de Portugal, e comandou uma política centralizadora. Durante os debates da Assembleia Constituinte, deu-se o rompimento dele e de seus irmãos Martim Francisco Ribeiro de Andrada Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva com o imperador.

Em 16/07/1823, 
Dom Pedro I demitiu o ministério e José Bonifácio passou à oposição. Após o fechamento da Constituinte, em 11/11/1823, José Bonifácio foi banido e se exilou na França por seis anos. De volta ao Brasil, e reconciliado com o imperador, assumiu a tutoria de seu filho quando Dom Pedro I abdicou, em 1831. Permaneceu como tutor do futuro imperador até 1833, quando foi demitido pelo governo da Regência.

 
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Os irmãos de José Bonifácio: Antônio Carlos e Martim Francisco
Origem Familiar

Membro de família da aristocracia portuguesa, José Bonifácio nasceu nos fins do século XVIII, em Santos, no litoral da então Capitania de São Paulo. O pai,Bonifácio José Ribeiro de Andrada, casado com sua prima Maria Bárbara da Silva, era a segunda fortuna da cidade, possuidor de bens no valor de 8:000$000. José Ribeiro de Andrada, o avô, casado com Ana da Silva Borges, pertencia a antiga família portuguesa do Minho e de Trás-os-Montes, parente dos Condes de AmaresMarqueses de Montebelo, ramo dos Bobadelas-Freires de Andrada.

Bonifácio José Ribeiro de Andrada, que morreria em 1789, era considerado ágil, desembaraçado e inteligente. Arredondou sua fortuna como mercante e ocupou diversos cargos e ofícios. Tinha dois irmãos formados em Coimbra, e um terceiro irmão era padre.

Sua mãe, Dona Maria Bárbara da Silva, teve dez filhos, quatro mulheres e seis homens. Seu pai foi seu primeiro mestre, mas em Santos não era possível ir além do ensino primário. Mudou-se para São Paulo em 1777.

 
Estudos

Em São Paulo, frequentou aulas de gramática, retórica e filosofia, nos cursos abertos por Dom Frei Manuel da Ressurreição, dono também de boa biblioteca. Era o ensino preparatório para o ingresso na universidade em Coimbra, para onde iam os brasileiros com alguns recursos. Tinha 16 anos quando, com seus irmãosAntônio Carlos e Martim FranciscoJosé Bonifácio requereu habilitação de genere, passo indispensável à carreira eclesiástica. Não havia universidades no Brasil nem qualquer prelo.
 
Em 1783, partiu do Rio de Janeiro para Portugal, matriculando-se em outubro na Universidade de Coimbra e iniciando a 30/10/1783 seu curso de estudos jurídicos, acrescidos um ano mais tarde, 11 e 12 de outubro de 1784, dos de matemática e filosofia natural.
 
Além dos cursos, leu muito. Já poetava, e em uma ode sua surgem os nomes deLeibnitzNewton e Descartes. Leu sobretudo Rousseau e Voltaire, mas leu também MontesquieuLockePopeVirgílioHorácio e Camões, e se indignou contra o "mostro horrendo do despotismo". Seus versos apelavam para as promessas da independência recém-proclamada dos Estados Unidos. Ainda estudante, cuidou de duas questões por cuja solução em vão se empenharia mais tarde: a civilização dos índios, a abolição do tráfico negreiro e da escravidão dos negros.
 
Carreira

Cedo demonstrou vocação para as pesquisas científicas. A exploração de minas conhecia um auge considerável com o crescimento das necessidades ligadas àRevolução IndustrialJosé Bonifácio concluiu, em 16/06/1787, seu curso de Filosofia Natural e, a 05/07/1788, o de Leis.

Recebeu em Portugal apoio do Duque de LafõesDom João de Bragança, que em 1780 fundara a Academia das Ciências de Lisboa e, a 08/07/1789 fez, perante o Desembargo do Paço, a leitura que o habilitava a exercer os lugares da magistratura. Quatro meses antes, em 04/03/1789, fora admitido como sócio 
livreda Academia, o que lhe abrira os caminhos de uma carreira de cientista. Por temperamento, interessava-se por estudos de que resultassem em alguma utilidade, colocando a ciência a serviço do aperfeiçoamento humano. Tinha por divisa: Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria. Sua primeira memória apresentada à Academia foi "Memória Sobre a Pesca das Baleias e Extração de seu Azeite: Com Algumas Reflexões a Respeito das Nossas Pescarias".

 
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Excursão Científica Pela Europa

Foi comissionado em 18/02/1790 para empreender, às custa do Real Erário, uma excursão científica pela Europa, para adquirir, por meio de viagens literárias e explorações filosóficas, os conhecimentos mais perfeitos de mineralogia e mais partes da filosofia e história natural.
Assim, nos meados de 1790, José Bonifácio estava em Paris na fase inicial da Revolução Francesa. Cursou, de setembro de 1790 a janeiro de 1791, os estudos de química e mineralogia e, até abril, aulas na Escola Real de Minas. Seus biógrafos citam contatos com LavoisierChaptalJussieu e outros.
Foi eleito sócio-correspondente da Sociedade Filomática de Paris e membro da Sociedade de História Natural, para a qual escreveria uma memória sobre diamantes no Brasil, desfazendo erros. Já não era um simples estudante - começava a falar com voz de mestre. Partiu depois para aulas práticas na Saxônia, em Freiberga, cuja Escola de Minas frequentou em 1792, recebendo dois anos mais tarde um atestado de que havia frequentado um curso completo de Orictognosia e outro de Geognosia. Ali cursou também a disciplina de siderurgia, com o professor Abraham Gottlob Werner. Percebia o atraso de Coimbra em relação a outros centros de estudo na Europa - a escola de Freiberg marcaria sua orientação. Ali teve como amigos Alexander von HumboldtLeopold von Buch e Del Río. Percorreu minas do Tirol, da Estíria e da Caríntia. Foi a Pavia, na Itália, ouvir lições de Alessandro Volta. Em Pádua, investigou a constituição geológica dos Montes Eugâneos, escrevendo a respeito um trabalho em 1794, chamado "Viagem Geognóstica aos Montes Eugâneos".
Onde deu completo desenvolvimento a seus estudos foi na Suécia e na Noruega, a partir de 1796, caracterizando em jazidas locais quatro espécies minerais novas, entre os quais a petalita e o diópsido, e oito variedades que se incluíam em espécies já conhecidas - a todos esses minerais descreveu pela primeira vez e deu nome. Viajou mais de dez anos pela Europa, absorto em seus trabalhos científicos e, aos 37 anos, era um cientista conhecido e consagrado. Regressou a Portugal em setembro de 1800. Visitara, além dos países citados, a Dinamarca, a Bélgica, os Países Baixos, a Hungria, a Inglaterra e a Escócia.

 
Em Portugal - Dois meses depois de chegar a Portugal, em novembro de 1800, partiu para a Estremadura com seu irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada e com Carlos Antônio Napion, encarregados de pesquisas mineralógicas, e sobre as quais escreveu uma memória. Mal chegado da viagem, foi designado para nova missão: examinar os pinhais reais dos Medos e Virtudes, nos terrenos de Almada e Sesimbra. Tornou-se dele admirador Dom Rodrigo de Sousa CoutinhoConde de Linhares. Eram parentes distantes e se tornaram amigos.
Ocupou a cátedra de Metalurgia, especialmente criada para ele, na Universidade de Coimbra, por Carta Régia de 15/04/1801. Era obrigado a ali permanecer pelo prazo mínimo de seis anos. Foi nomeado intendente-geral das Minas e Metais do Reino, e membro do Tribunal de Minas, pela Carta Régia de 18/05/1801, e deveria dirigir as Casas da Moeda, Minas e Bosques de todos os domínios portugueses. Por decreto de 08/07/1801, recebeu o encargo de administrar as antigas minas de carvão de Buarcos (Mina do Cabo Mondego) e restabelecer as abandonadas fundições de ferro de Figueiró dos Vinhos e Avelar. Por decreto de 12/11/1801, foi feito diretor do Real Laboratório da Casa da Moeda de Lisboa e incumbido de remodelar o estabelecimento. Pela Carta Régia de 01/07/1802 recebeu o encargo de superintender e ativar as sementeiras de pinhais nos areais das costas marítimas. Pelo alvará de 13/07/1807, foi nomeado superintendente do Rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra. Mas pouco ou nada pôde levar a cabo, pois tinha de enfrentar a rotina portuguesa, em resistência "ora passiva a qualquer esforço renovador, ora ativa, insidiosa, mal dissimulando sentimentos subalternos de inveja ou despeito". Lutou em vão contra o desleixo da administração pública e não lhe facultaram jamais os recursos indispensáveis ao trabalho. Não desejou a cátedra e não se sentia com dons de professor. E, em Coimbra, a reforma do Marquês de Pombal "não passara afinal de bons propósitos", segundo Octávio Tarquínio de Sousa, pois a universidade não possuía museu científico. Escreveu carta em 1806 aoConde de Linhares em que dizia: "Estou doente, aflito e cansado e não posso com tantos dissabores e desleixos. Logo que acabe meu tempo em Coimbra e obtenha a minha jubilação, vou deitar-me aos pés de S.A.R. para que me deixe acabar o resto dos meus cansados dias nos sertões do Brasil, a cultivar o que é meu." Em 1808, em conjunto com Fernando Fragoso Saraiva de Vasconcelos, comandou as forças do Batalhão Académico que guarneceram Coimbra, no contexto da Guerra Peninsular. Obteve o posto de major, chegando a alcançar a patente de tenente-coronel e depois comandante. Quando os franceses ameaçaram Lisboa, em outubro de 1810, recebeu ordens de reunir o corpo e marchar para Peniche, onde ficou até a retirada do inimigo. Na Academia Real atingiria o cargo de secretário perpétuo (1812). Sonhava com uma fábrica de aço e foi o responsável pela vinda para Portugal, e depois ao Brasil, de Guilherme von Eschwege, barão e mineralogista. Escreveu dois artigos, em 1815 e 1819, onde a palavra tecnologia é usada pela primeira vez, na língua portuguesa. Possivelmente teve seu primeiro contato com essa palavra no curso de siderurgia de Werner, em 1792, em Freiberg. Integrou o grupo de intelectuais que se reunia em torno de Domenico Vandelli, partilhando a visão de que o domínio da natureza era capaz de gerar riquezas e que, portanto, necessitava ser conhecido e explorado cientificamente.
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Retornou ao Brasil em 1819, com 56 anos. Passou trinta anos na Europa e a colônia agora era reino unido e a sede da monarquia. Alguns dos velhos pecados continuavam, e o principal, a seus olhos, era a escravidão, pois o trabalhador era quase exclusivamente o negro, e a economia se organizara em benefício de uma classe privilegiada. Apontou imediatamente os pontos necessários a um extenso programa de trabalho: abolição do tráfico, extinção da escravidão, incorporação dos índios à sociedade, miscigenação orientada para suprimir choques de raças e de classes e de constituir uma "nação homogênea", transformação do regime de propriedade agrária com a substituição do latifúndio pela subdivisão de terras, preservação e renovação das florestas, localização adequada das novas vilas, aproveitamento e distribuição das águas e exploração das minas. Mas, desde 1808 na terra, Dom João VI jamais nomeara ministro um brasileiro. Mortos o Conde de Linhares em 1812, o Conde da Barca e o Marquês de Aguiarem 1817, e estando na Europa o Conde de Palmela, os homens de maior valor na confiança real eram Tomás Antônio de Vila Nova Portugal e o Conde dos Arcos.José Bonifácio recusou os convites recebidos para atuar como ajudante, e partiu para Santos onde seu irmão Martim Francisco era diretor de minas e matas da Capitania de São Paulo. O outro irmão, Antônio Carlos, estava preso na Bahia, pois participara da Revolução Pernambucana de 1817. Com o Martim Francisco fez "atentas" pesquisas durante cinco semanas, em março de 1820, indo a Cubatão, à serra de Paranapiacaba, Ponte Alta, Borda do Campo, São Paulo, ao pico do Jaraguá na serra da Cantareira, Parnaíba, Pirapora, Itu e Sorocaba (Onde visitaram a fábrica de ferro mal administrada por Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen), São Roque e Cotia. Estudou depois as salinas, a cargo do físico-mor João Álvares FragosoJosé Bonifácio tudo inquiria e anotava, comenta Octávio Tarquínio de Sousa."Das questões básicas, como a do tráfico e da escravidão, às aparentemente menos importantes, como as que se referiam à alimentação e ao vestuário do povo, ou a certos costumes pouco recomendáveis. (....) Tudo interessava a José Bonifácio em sua terra e nenhum assunto lhe parecia trivial ou impróprio." Dom João VI lhe deu, por carta de mercê de 18/08/1820, o título de conselheiro. Como mudar de atitude era próprio do caráter do rei, anulando o que prometera e cedendo a pressões de Portugal e a inquietação contínua, Dom João VI embarcou para Portugal a 24/04/1821, com quatro mil pessoas na comitiva. O Banco do Brasil se viu desfalcado de cinquenta milhões de réis. Ia começar a última fase da independência do Brasil e nela teria papel preponderante José Bonifácio.
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O Processo da Independência do Brasil
Era difícil perceber o rumo no ano de 1821. A Revolução Portuguesa apresentava fachada liberal e expunha como objetivo o estabelecimento de um regime constitucional. Os brasileiros queriam também liberdade e constituição. Por isso, até se desmascararem os móveis verdadeiros da Revolução Portuguesa, houve confusão no Brasil, e aceitaram mandato de deputado a Lisboa indivíduos de cunho nativista, antes implicados em revoluções contra a metrópole. Descobriu-se, mais tarde, que a Revolução Portuguesa imporia, caso vitoriosa, a supremacia econômica e política da antiga metrópole.
Mas, enquanto isso, iam-se formando em todas as províncias juntas governativas provisórias. Em São Paulo, em 12/03/1821, o governador e capitão-general João Carlos Augusto de Oyenhausen-Gravenburg anunciou o regime constitucional. Para dar os primeiros passos, José Bonifácio aceitou convite para presidir à eleição dos membros, e propôs que fosse por aclamação. Indicou Oyenhausen como presidente do governo provisório, recebeu aclamação de seu próprio nome como vice-presidente e, como um dos secretários (eram três, do Interior e Fazenda, da Guerra e da Marinha), foi indicado seu irmão Martim Francisco. Em 23 de junho de 1821, José Bonifácio iniciava seu papel político no Brasil. Enquanto as demais juntas governativas se deixavam atrair por Lisboa e viam o Rio de Janeiro com desconfiança, a Junta de São Paulo foi a primeira a reconhecer a autoridade do príncipe regente Dom Pedro de Alcântara. Em carta de 17/07/1821 ao pai, o príncipe menciona José Bonifácio como o homem "a quem se deve a tranquilidade atual da província de São Paulo".
Foram eleitos seis deputados paulistas à Constituinte em Lisboa, entre elesAntônio Carlos, recém saído da prisão e que se revelaria grande orador em Lisboa; o padre Diogo Antônio Feijó, mais tarde regente; Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, depois senador e regente em 1831. Os seis deputados receberam do governo instruções na forma de um documento coletivo, intitulado "Lembranças e Apontamentos", programa completo em que as necessidades primordiais do Brasil eram postas em foco. No documento estavam as principais ideias de José Bonifácio. A parte mais desenvolvida dizia respeito ao Brasil, em doze itens: Estabelecimento de um governo geral executivo, a cuja autoridade ficassem sujeitos os governos provinciais, definidos os limites da subordinação; a instrução pública, aumentando o número de escolas e criando pelo menos uma universidade; o desenvolvimento do povoamento do interior; a catequese e civilização dos índios, ou seja, sua integração; a emancipação gradual dos escravos e a proibição do tráfico; a alteração da estrutura fundiária, com a reintegração ao domínio do poder público das terras improdutivas. José Bonifácio era contrário tanto à escravidão quanto ao latifúndio e, nesse ponto, chocou-se com os poderosos interesses dos grandes proprietários e dos traficantes. Outra sugestão foi a fundação de uma cidade central no interior do Brasil, como efetivamente foi depois realizado no século XX com Brasília, para assento do governo nacional; sugeria ainda uma nova legislação sobre o regime de terras, pois as chamadas sesmarias, verdadeiros latifúndios, eram uma forma de exploração antieconômica e anti-social; e os deputados foram advertidos para incentivar um novo surto de mineração.
Contudo, nada do que continha o documento seria aproveitado no trabalho das Cortes portuguesas. Dos 70 deputados brasileiros, apenas 50 chegaram a exercer mandato. O programa paulista era contrário ao que pretendiam as Cortes e, percebendo que o governo do Príncipe Regente no Rio de Janeiro seria o melhor instrumento de que poderiam servir-se os patriotas brasileiros, resolveram anulá-lo. Em fins de maio de 1821 chegaram de Lisboa as bases da Constituição ali promulgada a 10 de março. A tropa portuguesa, que aderira à Revolução do Portoe se tornara perturbadora da ordem fez, a 5 de junho, um pronunciamento, e obrigou 
Dom Pedro, a princípio relutante, a jurar as bases. O impulso definitivo para a emancipação brasileira foi dado pela obstinada política recolonizadora das Cortes. As medidas tomadas em Lisboa tinham o mesmo objetivo: desunir e desarticular o Brasil, fazê-lo novamente colônia. E o maior perigo, percebido por José Bonifácio, era o sacrifício da unidade brasileira. A Junta Governativa da Bahia, por exemplo, com predominância de interesses comerciais portugueses e forte presença de tropa lusa, recusava obediência ao Príncipe Regente e se subordinava a Lisboa e às Cortes. Em Pernambuco se esperava algo mais radical, a adoção de um governo republicano. À dispersão geográfica se somava o desentendimento político. Desde outubro de 1821, os patriotas do Rio de Janeiro queriam proclamar a independência do Brasil, com o príncipe Dom Pedro feito imperador. E este os advertiu do "delírio" que os empolgava e declarou-se pronto a morrer por "três divinais coisas - a Religião, o Rei, a Constituição". Em 09/12/1821, porém, chegaram ao Rio de Janeiro os textos dos últimos atos das Cortes que criavam governos provinciais anárquicos e independentes, mas sujeitos a Portugal, determinando o regresso quanto antes de Dom Pedro para uma viagem, incógnito, aos reinos de Espanha, França e Inglaterra. Nada mais poderia manter a ilusão da continuidade do sistema de reino unido. As Cortes pretendiam anular a obra de Dom João VI, fazendo de cada província brasileira uma província de Portugal.
O príncipe regente chegou a rascunhar um manifesto de despedida aos brasileiros. Mas já estava em curso uma ativa campanha, do clube da resistência na casa deJosé Joaquim da Rocha, e o príncipe foi mudando de atitude. Nas províncias, especialmente São Paulo e Minas Gerais, os atos recolonizadores produziam reação idêntica à do Rio de Janeiro. Começaram a receber assinaturas para uma representação em que se pedia ao príncipe ficar no Brasil. Para José Bonifácio, chegara a hora das grandes decisões e de uma ação enérgica para que o Brasil não se esfacelasse. A carta do Governo de São Paulo ao príncipe regente, datada de 24/12/1821, é de sua autoria. Sobre a carta, disse Octávio Tarquínio de Sousa:

"Se o tom é de violência, justificavam-na sua indignação e sua revolta, e era necessária para que Dom Pedro sentisse claramente a disposição em que estavam os brasileiros de não mais se deixar dominar por Portugal."
Seu pedido ao príncipe era quase uma ameaça:
"É impossível que os habitantes do Brasil que forem honrados e se prezarem de ser homens, e mormente os paulistas, possam jamais consentir em tais absurdos e despotismos. V. A. Real deve ficar no Brasil quaisquer que sejam os projetos das Cortes Constituintes não só para nosso bem geral mas até para a independência e prosperidade futura do mesmo Portugal. Se V. A. Real estiver (o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso decreto de 19 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando-se escravo de um pequeno número de desorganizadores, terá também que responder, perante o céu, do rio de sangue que decerto vai correr pelo Brasil."
A carta chegou às mãos do príncipe no Rio de Janeiro a 01/01/1822. Foi divulgada imediatamente por 
Dom Pedro, e mandada imprimir na Gazeta do Rio, em 08/01/1822. Em carta ao pai, de 02/01/1822, Dom Pedro escreveu:
"Farei todas as diligências por bem para haver sossego, e para ver se posso cumprir os decretos 124 e 125, o que me parece impossível, porque a opinião é toda contra, em toda a parte."
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O Fico e o Resto do Ano de 1822

Dom Pedro, no início de 1822, já tinha clara consciência do papel que os patriotas brasileiros lhe destinavam, e estava disposto a desempenhá-lo. No dia 09/01/1822, quando José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro, lhe entregou a representação fluminense, tentou adiar a resposta mas acabou declarando:
"Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que fico!"
Por sua vez, José Bonifácio chegou ao Rio de Janeiro a 17/01/1822, na representação paulista. Foi nessa ocasião que se entreteve na fazenda de Santa Cruz com a princesa Dona Leopoldina. O príncipe de 23 anos o nomeou, aos 60 anos, seu Ministro do Reino e dos Estrangeiros - o primeiro brasileiro a ocupar um cargo semelhante - demitindo Marcos de Noronha e Brito. Disse Octávio Tarquínio de Sousa:
"Não estava mais em idade de contentar-se com a simples aparência das coisas, nem o enganavam palavras, por mais prestigiosas que fossem."
Suas ideias estavam esboçadas nas instruções feitas para os deputados paulistas às Cortes, e atacavam os problemas sociais e econômicos. Queria uma organização democrática, queria governo responsável, sistemas representativos, garantias constitucionais. Mais importante que tudo era a preservação da ordem pública - pois a tropa portuguesa se passara para Niterói.
A 21/01/1822, José Bonifácio ordenou ao desembargador do paço chanceler-mor que não mais fizesse a repartição das leis vindas de Portugal sem antes as submeter ao 
Príncipe Regente. E, a 30/01/1822, concitava os governos provisórios de todas as províncias a promoverem a união das mesmas com sujeição à regência de Dom Pedro.
Decreto de 22/02/1822, referendado por José Bonifácio, convocou a Junta de Procuradores das províncias. Já começava a ter problemas com certo grupo de políticos do Rio de Janeiro: Joaquim Gonçalves LedoJanuário da Cunha BarbosaJosé Clemente Pereira apareciam a seus olhos como demagogos e agitadores que só queriam precipitar os acontecimentos.
José Bonifácio se deve seguramente a adesão de 
Dom Pedro ao movimento emancipador. E sua orientação foi fundamental para que este se desse sem transbordamentos inúteis, sem choques. Como medida preliminar, entendia-se necessária a união das províncias - mas no Pará, na Bahia, no Maranhão, não faltava quem quisesse continuar na dependência das Cortes. A posição de Pernambuco parecia-lhe ambígua. Sua primeira atitude foi assegurar a adesão efetiva de Minas Gerais e por isso fez o Príncipe Regente viajar para lá. Essa viagem serviu para uma radical transformação de ânimo em Dom Pedro. Em sua ausência, por decreto de 23/03/1822, cabia a José Bonifácio como ministro do Reino a chefia do governo.
Nos primeiros meses os dois se entenderam tão bem, de modo íntimo e sem etiquetas, e 
Dom Pedro vinha vê-lo para despachar em sua casa no Rossio Grande (atual Praça Tiradentes ). Com isso, despertaram ciúmes no grupo de patriotas cariocas, que desejavam influência, entrar para o governo, manejar o poder. Esse grupo foi o indutor de que o título de "Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil" fosse oferecido a Dom Pedro e, a 13/05/1822, dia de gala e beija-mão do povo por ser o do aniversário do rei Dom João VIDom Pedro aceitou ser aclamado "defensor", mas disse que "o Brasil não precisava de sua proteção e a si mesmo se protegia". A iniciativa foi tomada à revelia de José Bonifácio.
O problema seguinte do ministro do Reino foi a convocação de uma Assembleia Constituinte, ideia de todos os patriotas - e desde 03/04/1822, carta do príncipe regente a José Bonifácio a considerava "o único açude que possa conter uma corrente tão forte". José Bonifácio não seria em princípio contrário, mas hesitava decerto acerca de sua oportunidade. Preferia, antes assegurar a unidade nacional, firmar a solidariedade das províncias, e temia o que chamava "as desordens das Assembleias Constituintes".
Mas, as Cortes continuavam em seu propósito de fazer o Brasil voltar à situação colonial, sentia a necessidade de uma ação imediata. Fez-se, então, uma representação a 
Dom Pedro, em 23/05/1822, para que a convocasse sem demora. Dois dias antes, o príncipe regente escrevia ao pai:
"As leis feitas tão longe de nós, por homens que não são brasileiros e não conhecem as necessidades do Brasil, não poderão ser boas."
Mas, ao receber a representação, teve palavras moderadas, dilatórias, que devem ter-lhe sido inspiradas por José Bonifácio. No Rio de Janeiro não escasseavam os elementos reacionários, chamados "pés de chumbo", gente do comércio e traficantes de escravos, o que estimulava ardores nativistas e favorecia mesmo o surto de ideias radicais, nitidamente republicanas ou democráticas puras. Ganhava mais do que nunca ascendência, o grupo de Gonçalves Ledo à frente, os quaisJosé Bonifácio considerava sôfregos agitadores.
A 01/06/1822, o príncipe regente baixou uma proclamação em que falava da pátria ameaçada e marcava para 02/06/1822 a reunião do Conselho dos Procuradores-Gerais das províncias, para saber o que pensava da constituinte. Em 24 horas o conselho lhe enviou um requerimento, em que pedia a convocação. A 03/06/1822 foi expedido decreto em que José Bonifácio convocou a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, no qual ainda se falava em manter a integridade da monarquia portuguesa e a união com Portugal.
Mas, a 15/06/1822 foi dado outro passo rumo à ruptura com Portugal, pois José Bonifácio comunicou ao cônsul inglês que mandava admitir nas alfândegas os navios britânicos, independente do certificado do consulado de Portugal em Londres, até que fosse nomeado um cônsul do Brasil naquela cidade. Pernambuco aderiu rapidamente ao príncipe regente, mas na Bahia a situação continuava séria e, a 15/06/1822, 
Dom Pedro enviou carta em que mandava o general Madeiraembarcar sem demora para Portugal. Foi necessário enviar uma expedição contra ele e, como comandante, José Bonifácio indicou o general francês Pedro Labatutque já havia submetido a província de Sergipe.
Enquanto isso, em São Paulo ocorria o golpe que se chamou "A Bernarda de Francisco Inácio", do qual entretanto saíram fortalecidos os Andradas, e Martim Francisco foi nomeado ministro da Fazenda em 04/07/1822, passando Caetano Pinto de Miranda MontenegroMarquês de Vila Real da Praia Grande, para a recém criada pasta da Justiça. As finanças estavam em estado caótico, e o novo ministro foi, como em São Paulo, inflexível com os devedores do erário, em regra os poderosos da terra, habituados a não recolherem aos cofres o que deviam. A oposição aos irmãos, com isso, só podia crescer.
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A Guerra da Independência do Brasil
Em fins de julho chegaram ao Rio de Janeiro notícia de que as insensatas Cortes de Lisboa enviavam numerosa tropa para dominar o país. José Bonifácio já se entendia melhor com Gonçalves Ledo e com os membros mais destacados da maçonaria no Grande Oriente, sobretudo com o general Luís Pereira da Nóbrega de Sousa Coutinho, nomeado ministro da Guerra desde 27/06/1822. Tomou medidas da maior gravidade, como a de declarar inimigas as tropas que Portugal mandasse para o Brasil, por meio do decreto de 01/08/1822, em que Dom Pedro se dava como "regente do vasto Império do Brasil pelo consentimento e espontaneidade dos povos" e, a bem dizer, declarava guerra a Portugal.
O decreto e o manifesto que o acompanhava eram já sinal da decisão tomada: a ruptura completa. Mas eram atos dirigidos ao povo brasileiro. José Bonifácio, como ministro dos Estrangeiros, preparou o arrazoado em que se baseava o príncipe para ser levado aos demais povos. Foi ele, juntamente com Gonçalves Ledo o autor do documento de 06/08/1822: extenso, imoderado, de linguagem por vezes inconveniente, onde expunha o legítimo ressentimento por três séculos de dominação, e avisava ao mundo que os brasileiros não mais admitiriam a volta ao regime anterior.
Na cópia enviada a 14/08/1822 ao corpo diplomático acreditado no Rio de Janeiro,José Bonifácio explicou a posição do Brasil:
"Tendo o Brasil, que se considera tão livre quanto o reino de Portugal, sacudido o jugo da sujeição e da inferioridade com que o reino irmão o pretendia escravizar, e passando a proclamar solenemente a sua independência e a exigir uma assembleia legislativa dentro do seu próprio território, com as mesmas atribuições que a de Lisboa…"
Desde 12/08/1822 estavam nomeando Felisberto Caldeira Brant Pontes, o futuroMarquês de Barbacena, encarregado de negócios junto ao governo britânico;Manoel Rodrigues Gameiro Pessoa para Paris; e Luís Moutinho para Washington. Em suas instruções, redigidas por José Bonifácio, o item principal era a independência do Brasil.

Dona Leopoldina assina a declaração de Independência do Brasil