A ORQUESTRA DO MAESTRO TADAHARU MIYAMOTO
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. A ORQUESTRA DO MAESTRO TADAHARU MIYAMOTO
Na década de cinqüenta do século passado, logo após o término da guerra, um pequeno grupo de amantes da música japonesa, consultou o professor Tadaharu Miyamoto sobre a viabilidade de formar um conjunto musical com o fim de acompanhar os cantores em concursos denominados ‘nodojiman’. O professor concordou e logo conseguiu vários alunos. Alguns desistiram logo no início, mas outros persistiram e dentro de poucos anos estavam ensaiando com a orquestra e atuando nos concursos. Eles eram bem requisitados pelas cidades da região, tocavam também nos bailes, nos ‘Bon Odori’, festa folclórica japonesa, destinada à comemoração dos Finados, ainda muito em voga entre os nipo-brasileiros.
Nessas ocasiões, o maestro contratava alguns músicos não ligados à comunidade japonesa, como saxofonistas, trompetistas e trombonistas. Entre esses músicos, estiveram sempre presentes alguns integrantes da Banda Linense, destacando-se os trompetistas João da Costa Pimenta e Antônio Grassi; os trombonistas Benedito Marinho, João Rosa e Lourival da Costa Pimenta, ‘Louro’; e o baixista, Geraldo Quirino, hábil com o baixo-tuba e com o contrabaixo de cordas.
Nos depoimentos, esses músicos se referiam à orquestra do maestro Miyamoto como Orquestra “Japonesa”, pois da mesma forma assim a denominavam outros músicos e a população linense.
Mas o tempo foi passando, os músicos envelhecendo e nada de aparecerem novos talentos, ou seja, não houve renovação dos instrumentistas. A orquestra, portando, foi definhando até a sua extinção, que se deu lá pelo final dos anos setenta.
É importante destacar que, nessa época, os avanços tecnológicos tornaram populares as gravações em fitas K-7 e com elas deu-se o surgimento e o grande desenvolvimento do ‘karaokê’. O ‘karaokê’, que significa orquestra vazia, tornou-se uma grande atividade de lazer no Japão e, no Brasil, entre os descendentes dos imigrantes japoneses, nisseis e sanseis. Surgiram cursos e escolas e passaram a se realizar grandes festivais e disputados concursos de cantores acompanhados pelo ‘play-back’ instrumental dos arranjos das melodias. As fitas K-7 deram grande impulso ao ‘karaokê’, pois com elas os cantores passaram a aprender e a ensaiar sozinhos, sem a necessidade do auxílio de um grande aparato orquestral. Se nos ensaios fosse cometido um erro, o cantor ou o sonoplasta simplesmente voltava a fita K-7 e o ensaio era repetido quantas vezes fossem necessárias para aprimorar o desempenho do cantor.
Em 1987, Kiyoshi Oyama, bandolinista ex-componente da orquestra de Miyamoto, hoje residente em Campinas, começou a ensinar ‘karaokê’ a um grupo de alunos e prosseguiu com as suas aulas por 18 anos, até há poucos anos. Atualmente, aqui em Lins, é a Profª Mary Hassunuma de Bauru que dá continuidade ao trabalho do professor Oyama. O departamento é presidido pela Setsuko Utiyama.
Do grupo inicial que integrava a orquestra do maestro Tadaharu Miyamoto, permanecem ainda entre nós, Takashi Nakano (trombone e bateria), Moriiti Yamamoto (bandolim), Helena Koizumi (acordeão). Mas todos eles já se aposentaram.
Um dos seus alunos, Seki Massumi, já falecido, após o término da orquestra, fundou um conjunto em Guaimbê, SP, que até hoje ainda está na ativa e anima os ‘Bon Odori’ da região.
Para a preservação da memória do maestro Tadaharu Miyamoto, devemos registrar que ele nasceu no Japão, em Kochi-ken, no dia 23 de julho de 1908. Ainda no Japão, se casou com a dona Katsumi, que lhe deu dois filhos. Tinha 22 anos quando imigrou para o Brasil, em 1930 e, como todo imigrante japonês, labutou nos cafezais do então Distrito de Paz de Getulina, SP, elevado a município em 1935.
A sua vida na lavoura, no entanto, durou pouco tempo, pois, vendo que não adiantava forçá-lo a trabalhar nas lides agrícolas, o dono da fazenda permitiu-lhe que começasse a lecionar música para os inúmeros patrícios que viviam no bairro.
Hitoshi Konai, sitiante e dono de pequeno armazém no Distrito, foi um dos seus primeiros alunos. Mais tarde tornou-se exímio violinista, fazendo parte da orquestra do professor. Konai deixou herdeiros com aptidão musical. A filha Aiko, que toca teclado, e o filho Tomoyoshi são vencedores em diversos torneios de ‘karaokê’. Outro filho, Kenyoshi, se tornou músico. Tocava à noite em Lins e agora toca nas casas noturnas do Japão.
O maestro Tadaharu Miyamoto dominava diversos instrumentos musicais e se tornou um professor muito bem conceituado.
Em 1974, em reconhecimento ao mérito do seu trabalho em prol da cultura, foi condecorado pelo Governo Estadual com a medalha José Bonifácio. Nessa época a sua orquestra foi classificada em primeiro lugar num concurso realizado em São Paulo, com a música “Califa de Bagdá”, apresentada em arranjo elaborado pelo próprio maestro.
No início da década de 1990, um grupo de São José do Rio Preto, SP, convidou o maestro para lecionar naquela cidade. Eles vinham buscá-lo e traziam-no de volta, semanalmente, durantes dois anos.
Em 1996, o grupo riopretense convidou o maestro Miyamoto para uma solenidade onde lhe seriam prestadas homenagens de reconhecimento e gratidão. O evento foi programado para o dia 9 de agosto, mas, como ele estava hospitalizado, pediu aos antigos companheiros do conjunto musical que fossem representá-lo. Mesmo no hospital, na manhã seguinte, dia 10 de agosto, fizeram-lhe a entrega da placa alusiva à homenagem e um brinde. Na noite do dia seguinte, 11 de agosto de 1996, pouco depois das 20 horas, aos 88 anos de idade, veio a falecer o grande maestro e professor Tadaharu Miyamoto, deixando imensa saudade no seio dos seus familiares, amigos e admiradores e uma enorme lacuna na vida cultural linense.
O Poder Público Municipal, em reconhecimento ao valor cívico e cultural do maestro, através da Câmara Municipal, aprovou o projeto de lei da vereadora Teresinha J. S. Martim, que foi sancionado pela prefeita municipal Valderez Vigiato Moya. No dia 13 de setembro de 2004, portanto, foi promulgada a Lei Municipal nº 4.725, pela qual foi denominada “Praça Maestro Tadaharu Miyamoto”, o Sistema de Lazer no Jardim Tangará, em Lins. (Este artigo é adendo à versão eletrônica do livro “A Banda Linense”, de José Roberto Franco da Rocha. Agora ele publicou-o em PDF no site www.liraserranegra.org.br. Ele é meu confrade na Academia Linense de Letras e coautor deste texto). Shigueyuki Yoshikuni