Viuvez
Eu não queria ir àquela festa. Era o sexto ano da tomada de poder de Pinochet. Mas o fiz, por questão protocolar, à instância do Embaixador que, para a paz de sua consciência, mandou-me eu seu lugar. Sem um subalterno para subjugar, coube-me atuar.
Um início de noite do onze de setembro, pouquíssimos convidados deram as caras. Até entre regimes ditatoriais havia esse estranhamento. Saudei alguns circunstantes que já conhecia doutros encontros, apresentei-me a outros e logo se me ressaltou a figura risonha daquela secretária china menina: Lina.
De cara ela já desmentia duas improbabilidades: falava espanhol com uma fluência inimaginável e, conseguira fazer um permanente de seus cabelos impenitentemente lisos. E ainda logrou uma terceira, por nossa conta e cumplicidade: fazer-me cair nas malhas de Cupido - logo eu que andava arisco e descrente.
E viveríamos juntos por trinta anos. Pouco demais para um anjo daquela leveza.