A tecelã
Tia Lia começou a trabalhar - na fábrica de tecidos do Brumado - aos sete anos. Vendo as irmãs mais velhas e o irmão já empregados, deu nela aquela voragem de se juntar à tropa. E lhe bastou pedir ao Sinhô, o gerente dos meados daqueles anos vinte, ele cedeu, apenas advertindo-o que era ainda muito nova para entrar na faina. Voluntariosa por temperamento, ela bateu o pé, e ei-la lá dentro.
E foi uma festa, aquele primeiro dia, catando espulas vazias e delas enchendo o carrinho sob a afetuosa caçoada geral. Era menina e graciosa, que havia de mal? E ainda havia a expectativa de uns cobres no fim do mês. Mais certeza do que um talvez. A China continuava adormecida.
Lia chegou em casa feliz e extenuada. E comeu aquela pratada. Digna da operariada. Ainda em vias de ser cobiçada pelos marmanjos, foi dormir com os anjos. E tudo tinha para ser um sono longo, reparador até que tocou o despertador.
Vendo as irmãs se aprontarem para pegarem o trampo às seis da matina, só revirou na cama a Lia, menina. Ao pai que a chamava, foi logo dizendo:
- Vô não pai, tô cansada demais
Ao que o velho Velusiano redargüiu, na autoridade que o Pai lhe conferiu:
- Vai sim, cê tanto insistiu com o Sinhô, agora não pode mais faltar-lhe com a palavra.
Foi-se, então. Como continuou a fazer pelos seguintes quarenta e tantos anos, pulando da espula aos teares, vendo esmorecerem as caçoadas, os falares.