Num é, Darci?
Era como Gilda concluía suas prolongadas e estridentes manifestações orais. Sentado ao seu lado, atento e afortunado, Darci, semi-sorria - e assentia, de tácita e mineira maneira.
Num intervalo de nossa conversa, referimo-nos às nossas lembranças daquele casarão, a que se chamava de "convento", reminiscência provável dos anos quarenta, ou cinquenta, quando abrigava um enxame de jovens solteiras e palradeiras que trabalhavam na fábrica de tecidos do Brumado.
Presto, Darci dispôs-se a nos mostrar as aquelas acomodações, agora quase todas vazias, que ele vinha, paulatinamente, reformando. Tudo muito arejado, asseado - e bem justificado para aquele saudoso Brumado. Gilda, sempre gentil, nos acompanhou e, segundo registro mental meu, mais uma meia-dúzia de "né, Darci?", cometeu.
Tentei ainda puxar a boca daquele meu ex-colega de curso primário, mas foi como extrair um elogio a Pelé da parte de Romário: foi mais econômico, do que cômico. De pouco ou nada se recordava. Abriu-se contudo quando a conversa guinou para o futebol. Seu pai, o Joãozinho Aguiar fora um ás dos gramados e dos campos empoeirados e bem que o filho tentara seguir-lhe os passos. Mas, praticamente, só teve a guiá-lo, o velho Aguiar, de quem vos falo.
Ficamos de fazer uma nova visita quando voltássemos ao Brumado para relembrar os velhos tempos, que Darci e Gilda conosco compartilhavam, todos sessentões que já nada desbravam...
Mas uma fatalidade colheu o correto Darci antes de nosso reencontro. Ainda na maturidade, partiu para a eternidade. Consta que, pairando nas sumas e seguras alturas, pra nós inda sorri - num é, Darci?