Ouropéis, arminho e harpejos
O jornalzinho, Município de Pitangui, órgão - e acho que também órfão - do poder executivo municipal circulava a cada duas semanas, e se compunha de quatro páginas. Trazia, ordinariamente, uma coluna do vigário paroquial, outra de seu co-adjutor, contribuições esporádicas de articulistas leigos, alguma poesia, uns classificados e notícias de intesse dos munícipes.
Sem recursos para modernizar-se, a imprensa fazia o que podia, na composição daqueles textos e preto-e-branco, na falta de ilustrações e em meio a tantos outros senões. E havia leitores que, com avidez, devoravam aquelas páginas duma sentada, duma vez. As alternativas eram pouco animadoras. O Estado de Minas tinha limitada circulação, destinada a assinantes, ou a algum abonado que ousasse comprá-lo na banca do Zé Lacerda. Jornaizinhos independentes costumavam ter vida curta, ou até a serem abortados, de tão insana que era a luta.
E foi numa das páginas do Município que me deparei com a poesia do ainda pre-adolescente Josanfrei. Amante da métrica e da formatação parnasiana, Josanfrei burilava e lapidava a palavra, enquanto intuitivo em sua lavra. Melífluo, é dele a pena apenas escrava.
Foi de um poema seu, de uma flamejante religiosidade que pincei as palavras que encabeçam este texto. Desde então não cheguei a ser assíduo leitor de Josanfrei, mas sempre que possível, sua obra procurei e até duma feita, um livreto-brochura ganhei.
Josanfrei, em quem a inspiração e a volúpia de passar uma mensagem abundam, continua sendo o artesão do verso, falto aparentemente dessa parafernália eletrônica, hoje tão espalhada e tão acessível
Mas o parnasiano, manualmente, segue na sua luta. Um dia, sonha, o reconhecimento da Academia inda desfruta?