Chico tio
Do Tio Chico, o que sei é que não foi rico. Nascido na Onça, na última década do século XIX, era filho do terceiro casamento de vovô Veluziano, que ainda iria chegar ao seu quinto matrimônio poucos anos depois. Chico começou cedo, na faina de ajudar, em meio à penúria do lugar.
Trabalhou na terra natal por algum tempo numa mineração de ingleses mas seu destino, sabia-o desde menino, era embarcar para São Paulo da garoa de das indústrias para lá fazer a vida. Mas nem demorou na capital, empregou logo numa estrada de ferro e dali ao porto de Santos foi mais um pulo. Virou estivador, fichado, saco às costas, quanto valor.
A irmandade do quinto casamento de vovô, filhos dona Inhana, tinham pelo meio-irmão Chico uma verdeira veneração. Dele é que vinha ajuda substancial para manter o lar velusiano.
De um seu raro retorno às Gerais, agora no vizinho povoado de São Gonçalo do Brumado, para onde a família original se mudara e a moçada vinha-se empregando na fábrica de tecidos, Chico liquidou as contas pendentes do pai, que já se amarelavam, e tagarelavam, nos armazéns oncenses e brumadenses. E ainda reencontrou amigos de seus tempos de rapaz para o futebol, as conversas, bebida, sinuca.
De regresso a Santos, seus anos foram breves. Cartas de um amigo do peito, - descrevê-lo, de que outro jeito? - o Anibal, a familiares davam conta do rápido e inexorável declínio de sua saúde, só interrompido com o consequente passamento, profundamente sentido da parte do missivista e de sua legião de leitores. Chico deixava uns poucos pertences amarfanhados, inclusive um traje de banho, daqueles comportados, listrados, e uma lembrança imorredoura dos que o conheceram naquela singeleza alourada, uma vida celibatária à sólida amizade, e à família, dedicada.