678-MARIA MOSCHIONI GOBBO - Biografia - 3a. parte

Adaptação da Nova vida em São Sebastião do Paraíso

Anos difíceis da II Guerra Mundial – Falecimento dos Pais e do Tio Francisco

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Aceitando o convite do tio, Pedro, Maria e os dois filhos voltaram a residir em São Sebastião do Paraíso no segundo semestre de 1942. O imóvel da Rua Dr. Placidino Brigagão era enorme. Tão grande que tinha dois números: 1714 para a loja e 1724 para a entrada residencial. Do cômodo da frente, onde funcionava a loja, foi separada uma área, transformada em quarto, que abrigou a família recém chegada. Era de bom tamanho, porém ocupado pelos móveis – cama de casal, duas caminhas dos meninos, guarda roupa e toalete, tornou-se exíguo.

A casa ficou então sendo habitada por Tio Francisco, Carolina e Armando, ambos solteiros, e a família de Maria e Pedro. Zé Pina foi trabalhar na olaria de Alpineu, mas tinha seu pequeno quarto, onde dormia aos sábados e domingos.

Maria e Carolina cuidavam da casa, da alimentação, roupa lavada, essas coisas de dona de casa. Eram tempos difíceis. A segunda Guerra consumia esforços de milhões de pessoas em todo o mundo. Havia racionamento de sal, açúcar, farinha de trigo e querozene (muito usada nas lamparinas de casas da periferia da cidade e dos sítios e fazendas.)

Maria desdobrava-se no afã de ajudar na manutenção da casa: fazia sabão de cinza, para lavar roupas e limpeza pesada; doces de leite e de cidra, para colocar na venda do tio; na maquina de costura, sentia as costas doerem, de tanto fazer roupas para o marido, os filhos e vestidos para si e para Carolina. E à noite, encontrava tempo para tricotar, fazendo toalhinhas, toalhas, colchas e outros trabalhos em crochê, com linhas finíssimas, que vendia às madames abonadas do centro da cidade.

Reatou as velhas amizades com as vizinhas, que, pelas tardes, reuniam-se na grande sala de visitas, para fazer tricô, crochê e conversarem.

Via com alegria o marido voltar às atividades de marcenaria. A mão cicatrizou e ele já podia manusear as ferramentas; Construiu no quintal um pequeno puxado coberto de telhas de zinco, onde começou a trabalhar, reformando móveis. À noite, ajudava o tio, fazendo as anotações nos livros da loja. Sua letra era bonita, pois estudara até em seminário, e as anotações eram claras e feitas com capricho.

Pedro não tinha muito serviço na marcenaria, e passou a cultivar uma horta no grande quintal da casa. Em pouco tempo, produzia verduras, tomates e outros legumes, que serviam para a casa e ainda sobrava para ser vendido à porta de casa, o que aumentava a renda da família. Nos meses de férias de Antonio e Arthur, Maria arrumava cestas com molhos de alface, almeirão, chicória, couve, saquinhos com tomates, vagens, e enviava Tonico e Arthur para vender no centro da cidade, e aumentar um pouco a renda da família.

Aos domingos, com o marido e os filhos, visitava os pais, Aníbal e Beatriz, que moravam na chácara Lagoinha, com Alpineu e Elvira. Em 1943, o pai ficou gravemente enfermo e veio morar na cidade, na casa da filha Nena, casada com Francisco (Chiquinho) Bícego. Após três anos de enfermidade, Aníbal veio a falecer, o que causou uma grande tristeza na família e luto fechado por um ano.

Chegou o tempo de os meninos irem para a escola. Toniquinho gostava de estudar, não dava trabalho. Mas Arthur não queria nem ir à escola. Deu trabalho. Era ela quem o ajudava nos exercícios de casa e conferia os cadernos com as anotações feitas pelas professoras. Desdobrava-se na confecção dos uniformes dos filhos, que fazia de tecido barato. E fiscalizava a limpeza dos meninos, antes da saírem para as aulas: sapatos, roupas, mãos, tudo tinha de estar bem limpinho. E o cabelo, bem penteado.

Era a paciência em pessoa: jamais se irritava, nunca se zangava. Enérgica, impunha obrigações e deveres aos filhos com suave persuasão.

Encarou com estoicismo e coragem os problemas de saúde do marido e do filho Tonico. Pedro teve uma apendicite aguda, complicada com peritonite, em 1943. Quebrou o braço em 1948. Toniquinho padecia de asma e sofreu intervenção cirúrgica para retirar as amígdalas.

Vivia bem com todos, embora fosse um pouco difícil a convivência com Carolina, com quem repartia todos os serviços da casa. Recebia de bom grado as brincadeiras constantes do irmão Armando, alfaiate, sempre bem humorado, que chegava sempre alegre em casa com novidades, notícias e gracejos. (1)

Com a morte do pai a mãe veio morar na cidade, na mesma casa. Sempre havia um quarto disponível, era incrível como a casa abrigava tanta gente. Uma verruga ou pequena ferida na fronte esquerda de Beatriz evoluiu rapidamente em câncer, e o padecimento da mãe afetou a todos na família.

Armando passou a cuidar da mãe com uma devoção sem limites. Era ele quem aplicava as injeções e tinha prática em trocar os curativos da terrível ferida. Passava as noites no quarto da mãe, muitas vezes sem dormir, pois ela gemia a noite toda, com s dores horríveis.

O tio, tendo encerrado os negócios da loja, passava os dias numa horta que mantinha num terreno ao lado da casa. Pedro, com bastante serviço, não tinha tempo para nada, trabalhava até ás nove da noite, desenhando moldes para os entalhes do dia seguinte. Carolina ficou muito nervosa e entrava em discussões com Maria quase que diariamente. O ambiente ficou tão tenso que Pedro mandou construir um fogão no antigo armazém da loja, onde Maria cozinhava para sua família, e Carolina, na outra cozinha, cuidava da alimentação para Armando, tio Francisco (e que então já era conhecido como Tio Gordo) e a mãe, acamada e que pouco comia.

Em dois de maio de 1949, véspera da Festa do Baú, tio Gordo sofreu um derrame cerebral e ficou semi-inválido, o que veio complicar mais as coisas para toda a família. As noites eram assim: Armando dormia no mesmo quarto com a mãe, que tomava altas doses de entorpecente para fazer passar as terríveis dores (não havia cirurgia nem tratamento para o câncer naqueles tempos, pelo menos em Paraíso). Maria e Carolina se revezavam nas noites em que dormiam com o tio. Muito gordo, exigia esforço das duas para levantá-lo da cama e colocá-lo n cadeira de rodinhas, feita por Pedro. Os dias também seguiam assim, comas atenções de Maria mais voltadas para os dois doentes, do que para os meninos ou o marido.

No ano de 1950 ou Anjo da Morte visitou a família por duas vezes: em 28 de junho, faleceu o Tio Francisco. Em 15 de julho, a mãe, Beatriz, também veio a falecer.

Maria sentiu como ninguém a partida dos dois entes queridos. Mas a fortaleza era sua característica, e mesmo no luto e no sofrimento, era nela que todos se amparavam.

Para Maria, bem como para todos os moradores da grande casa de Tio Gordo, a morte do velho patriarca e da querida mãe, além do imenso sofrimento, foram motivos de profundas transformações que mudariam por completo os rumos das vidas de Maria e as família.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 20 de julho de 2011

Conto # 678 da Série 1OOO HISTÓRIAS

Contos relacionados na Série Milistórias:

As Primas da Rainha” –Uma brincadeira de Tio Armando

A Primeira Comunhão de Lalá( inspirado em fatos da Primeira Comunhão de Tonico).

Décimo Terceiro Aniversário (inspirado em fato real: Pedro Gobbo quebrou o braço).

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 04/03/2015
Reeditado em 04/03/2015
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