676-MARIA MOSCHIONI GOBBO- Biografia - 1A. parte

Nascimento, Infância, Escola, Festas, Mortes e Casamento.

Quando abriu os olhos para o mundo, em 13 de junho de 1900, Maria veio a ser a terceira filha de Aníbal e Beatriz, precedida por Rosa e Carolina. Nasceu ali mesmo, na chácara Lagoinha, local que não era nem urbano nem rural: distava quatro quilômetros da Igreja de Nossa Senhora da Abadia, no Bairro da Mocoquinha, em São Sebastião do Paraíso.

O parto foi assistido pela Comadre Mariucha, gorda italiana que morava na cidade, amiga do casal, que já tinha pratica devido à numerosa prole que dera a luz.

A infância foi solta e cheia de traquinagens e perigos. As crianças daquela época usavam como indumentária diária um camisolão (tanto as meninas como os garotos), do tipo que a gente pode ver nas histórias em quadrinhos do Yellow Kid. A Chácara era um mundo de mistérios a serem desvendados, locais secretos a serem explorados, árvores nativas e frutíferas, o córrego encachoeirado e espaços amplos, sem limites para curiosidade e a energia da garotada.

Mas aqueles momentos de folguedos eram vividos só depois de ajudar a mãe nas lides da casa. Rigorosa na educação das filhas, exigia que arrumassem as camas, pusessem para fora os urinóis usados na noite e varressem a casa.

A família crescia. A cada dois anos, um novo irmão ou irmã aparecia. Eram tempos nos quais os maiores mistérios da vida (nascimento e morte) não tinham explicação para as crianças. Dizia-se que os nenês vinham ao mundo trazidos por uma cegonha. Pois a cegonha vinha à casa de Aníbal e Beatriz a cada dois anos, com um novo filho.

Cronologicamente, de 1887 a 1910, os filhos do casal estão assim,:

Nasceu em Morreu em com

1 – Rosa Muschioni ..?01.1897- 02.01.1969 - 76 anos

2 – Carolina Muschioni 15.11.1898- 09.01.1988 – 89 anos

3 – Maria 13.06.1900- 28.03.1986 – 85 anos

4 – Alberto (Velho) 1902

5 – Avelino 1904 1912- 8 anos (afogado)

6 – Aristeu 1906

7 – Arthur 1908- 1926-18 anos-suicidou-se

A primeira mudança drástica de sua vida aconteceu aos nove anos, quando Maria foi matriculada na escola da cidade. Para freqüentar o curso primário, único na cidade, devia passar os dias da semana na casa do tio Francisco, comerciante solteirão estabelecido na Rua Barão (Barão do Rio Branco, atualmente Rua Dr. Placidino Brigagão). A casa residencial, que era continuação da loja e armazém, era grande, com quatro quartos, além de duas salas e cozinha.

O tio Francisco (conhecido mais tarde como Chico Cervejeiro e Tio Gordo) era irmão mais velho de Beatriz, mãe de Maria. Foi com ele que os irmãos Nicola e Beatriz vieram da Itália, na grande corrente migratória de europeus, a partir de 1880.

Rosa e Carolina já freqüentavam, de segunda a sexta-feira, a escola do Professor Gedor Silveira, e Maria ia com elas. Nos sábados e domingos voltavam para a chácara. Os colegas eram quase todos filhos de imigrantes, já que a então pequena cidade era um reduto de italianos. Dessa ocasião resultaram alguns conhecimentos e amizades que iriam perdurar por toda a vida de Maria: os Dramis da padaria, os Joeli, a família Bícego, os Colombrolli, Martoni, Novelini...

Em 1912, estando Maria com 12 anos, uma tragédia abateu-se sobre a família: Avelino, nascido em 1904, morreu afogado nas águas mansas e rasas do córrego que passava no fundo da chácara Lagoinha. Com oito anos, era um garoto esperto e vivo, e ninguém encontrou explicação de como poderia se afogar em lugar tão tranqüilo.

Após os quatro anos do curso primário, deveria voltar a residir na chácara, mas então apareciam coisas para fazer: aprender a costurar, a fazer tricô e crochê e essas coisas que as mulheres daquela época se orgulhavam de saber fazer. Além disso, tomavam conta da casa do tio, isto é, cuidavam da limpeza, de cozinhar e de lavar a roupa.

Por volta de 1920, quando Maria completou 20 anos, a irmandade havia aumentado para onze membros, com o nascimento dos quatro seguintes irmãos e irmã:

Nasceu em Morreu em com

8 – Alfredo 1910

9 – Alpineu 1912

10 - Aristina (Nena) 1914

11 – Armando (caçula) 30.10.1916-15.03.1991 – 76 anos

Em 1926, uma outra tragédia familiar: o suicídio de Arthur, com 18 anos. Com um tiro na cabeça. Morte só explicável por um complexo, pois era muito tímido, além de mancar (tinha uma perna menor que a outra)

Tio Francisco era um solteirão convicto. Afável, tratava a todos com respeito e às sobrinhas e aos sobrinhos dedicava especial atenção e carinho.

Portanto, a casa estava sempre cheia de meninas e meninos, depois, de rapazes e moças. As distrações eram poucas, os folguedos, como se dizia, eram o cinema (mudo), pic-nics familiares, e as festas religiosas com novenas, leilões, banda de musica, barracas de prendas, correio elegante ou maçã do amor.

Festas como a de São Sebastião, padroeiro da cidade, em janeiro; Semana Santa em fevereiro ou março; mês de Maria, em maio, com terços todas as noites; Santo Antonio, São João e São Pedro em junho; Nossa Senhora da Abadia em agosto. Nossa Senhora Aparecida em setembro; Natal (com congadas) no final do ano.

Alegre e comunicativa, Maria tinha muitas amigas e não perdia uma festa. E foi numa noite da festa de Nossa Senhora da Abadia que conheceu Pedro. Tanto pode ter sido em 1931 ou 1932 quando se viram pela primeira vez.

Pedro era viúvo, havia perdido a esposa no parto, juntamente com a criança.

— Quando nos conhecemos, era um homem muito calado, parecia triste, pouco sorria. — Maria lembrava, em comentários com os parentes, muitos anos depois.

Namoro e noivado levaram dois ou três anos. E após todos os requisitos da época, casaram-se em outubro de 1934. Maria estava com 34 anos e Pedro, nascido em 1906, estava com 28 anos. Passou-se a chamar então, como mandava a lei, Maria Muschioni Gobbo.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 30 de junho de 20011

Conto # 676 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 03/03/2015
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