CALDAS JÚNIOR (1868- 1913) E O SEU CORREIO DO POVO

No ano de 2013, comemorou-se o Centenário da morte de Francisco Antônio Vieira Caldas júnior (1868- 1913), responsável pela criação, em 1895, do jornal Correio do Povo. Em 2015, o jornal completará, no mês de outubro, 120 anos de fundação, sendo o mais antigo ainda em circulação, na capital gaúcha, e um dos principais veículos de comunicação do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Nascido em Sergipe, em 13/12/1868, era filho do bacharel Francisco Vieira Caldas e da poetisa Maria Emília Wanderley Caldas. Em 1872, sua família se mudou para Santo Antônio da Patrulha, e seu pai passou a exercer a função de juiz municipal.

No ano de 1880, a família se transferiu para Porto Alegre e Caldas Júnior passou a frequentar o curso secundário no Colégio São Pedro. Com 17 anos, trabalhou como revisor e noticiarista no jornal A Reforma (1869-1912), no período de 1885 a 1888, assumindo a direção desse periódico, na qual permaneceu até o ano de 1891. Este jornal, fundado pelo líder maragato Gaspar Silveira Martins (1835-1901), opunha-se ao centralismo político do Partido Republicano Rio-grandense (PRR), liderado por Julio Prates de Castilhos (1860-1903). Exerceu, também, o cargo de redator-chefe no Jornal do Comércio de 1891 a 1895. Neste ínterim, casou-se com a filha do escritor Aquiles Porto Alegre (1848-1926), nascendo dessa união Fernando Caldas.

Durante a Revolução Federalista (1893-1895), seu pai, que era maragato (lenço vermelho), foi preso pelos pica-paus (lenço branco), adeptos do Partido Republicano Rio-grandense (PRR), sendo fuzilado na Ilha do Desterro (SC) em 1894. Embora as dificuldades, após a morte de seu pai, Caldas Junior levantou um pequeno capital de 20 contos de réis entre o comércio porto-alegrense e investiu na criação do jornal, cujo título seria Correio do Povo. Fundado em 1º de outubro de 1895, o novo periódico trazia uma proposta de imparcialidade, afastando-se da esfera político-partidária. Até aquele momento, desde a criação do nosso 1º jornal, Diário de Porto Alegre (1827), o jornalismo político-ideológico norteava a imprensa local.

A população que se refazia de uma guerra fratricida, entre pica-paus e maragatos, aprovou o novo jornal que se propunha a informar, evitando o caráter opinativo e partidário. O Correio do Povo, em formato standard (grande), apresentou-se ao leitor como “Órgão de nenhuma facção, que não se escraviza a cogitações de ordem subalterna”. De acordo com o jornalista Walter Galvani, o Correio do Povo é um marco divisor do jornalismo no Rio Grande do Sul, pois assumiu o caráter empresarial, iniciando uma nova fase na imprensa gaúcha que adentrava no século 20.

Em 1910, o Correio do Povo adquiriu a primeira rotativa no Estado, da marca Marinoni, que aumentou a sua produção e qualidade. De acordo com o pesquisador Francisco Rüdiger, sua produção de 1000 exemplares, em 1895,cresceu para 10.000 quando se encerrava o primeiro decênio do século 20.

Além de figura ímpar da nossa imprensa, Caldas Júnior era também poeta e assinava com o codinome Tenório, sendo um dos fundadores da Academia Rio-Grandense de Letras (1901). O fundador do Correio do Povo percebeu como um visionário as mudanças que nossa imprensa exigia ao encerrar o século 19.

Em 9/04/1913, a morte de Caldas júnior causou preocupação quanto ao destino do jornal, porém a dedicação de sua segunda esposa, Dolores Alcaraz Caldas, manteve a família unida, evitando que o jornal encerrasse suas portas.

Entre outros nomes, destacou-se, na trajetória do jornal, o filho Breno Caldas (1910-1989) que esteve na direção de 1935 a 1984, período no qual a empresa cresceu bastante e inovou. Durante o tempo, em que Breno Caldas esteve à frente da Companhia Jornalística Caldas Júnior, destacaram-se o Caderno de Sábado (1967- 1981) que se constituiu numa das melhores produções culturais no Estado; a Folha da Tarde (1936-1984) que, na forma tablóide, foi um enorme êxito editorial; a Folha da Manhã (1969-1982) que inovou pela moderna diagramação e o suplemento Letras & Livros (1981), tratando de temas literários.

Entre outras Figuras, que se notabilizaram em nosso universo cultural, Mário Quintana (1906-1994) passou a colaborar no Correio do Povo, em seu Caderno H, a partir de 1953, e Manoelito de Ornellas (1903-1969), entre 1949 e 1966, escreveu uma coluna no jornal, cujo título era "Prosa das terças".

Ainda sob a direção de Breno Caldas, foram criadas a Rádio Guaíba (1957) e a TV Guaiba (1979) A primeira, em 1961, passou para a história, por liderar a Rede da Legalidade, criada por Leonel Brizola (1922-2004), em defesa da posse de João Goulart (1918-1976) na presidência do Brasil; já a segunda, enquanto esteve “no ar”, buscou um modelo alternativo em sua programação, diferenciando-se das concorrentes.

Infelizmente, em 1984, Breno Caldas enfrentou uma crise econômica que não conseguiu reverter, fechando a empresa jornalística. A população ficou aturdida com o término de seu tradicional jornal, que completava 89 anos de circulação. Felizmente, em maio de 1986, o Correio do Povo voltou a circular graças ao esforço do empresário Renato Bastos Ribeiro. O jornal foi o pioneiro na América do Sul com o sistema de transmissão digitalizada via satélite.

Atualmente, desde 2007, o Correio do Povo pertence à Rede Record e segue sua missão de informar, levando ao mais distante rincão os fatos mais importantes ocorridos no Rio Grande do Sul e noutros estados brasileiros. O ideal do seu fundador Caldas Júnior permanece...

Bibliografia:

DILLENBURG, Sérgio. Correio do Povo / História e Memórias. Passo Fundo: EDIUPF, 1997.

FLORES, Hilda Agnes Hübner (Org). Correio do Povo 100 anos. Porto Alegre: CIPEL / Nova Dimensão, 1995.

GALVANI, Walter. Um Século de Poder / Os bastidores da Caldas Júnior. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1995.