Mercedes Sosa (San Miguel de Tucumán, 9 de julho de 1935 — Buenos Aires, 4 de outubro de 2009) foi uma cantora argentina, uma das mais famosas na América Latina. A sua música, tem raízes na música folclórica argentina. Ela se tornou uma das expoentes do movimento conhecido como Nueva canción. Apelidada de La Negra pelos fãs, devido à ascendência ameríndia (no exterior acreditava-se erroneamente que era devido a seus longos cabelos negros), ficou conhecida como a voz dos "sem voz".
nasceu em San Miguel de Tucumán, na província de Tucumán, no noroeste da Argentina, cidade onde foi assinada a declaração de Independência da Argentina em 9 de julho de 1816, na casa de propriedade de Francisca Bazán de Laguna, que foi declarada Monumento Histórico Nacional em 1941.
Nascida no dia da Declaração da Independência, e na mesma cidade onde foi assinada, Mercedes sempre foi patriota. Afirmou inúmeras vezes que "pátria só temos uma". Foi também uma árdua defensora do Pan-americanismo e da integração dos povos da América Latina.
Criada durante o governo de Juan Domingo Perón e sofrendo - como quase todos da sua geração - uma influência muito grande de Eva Perón, Sosa cresceu embalada pela ideologia peronista.
Sua ascendência era mestiça (mistura de europeus com ameríndios): francesa e dos indígenas do grupo diaguita.
Sua carreira se iniciou em 1950, aos quinze anos de idade, quando Sosa venceu uma competição de canto organizada por uma emissora de rádio de sua cidade natal e ganhou um contrato para cantar por dois meses.
Carreira
Em 1961 grava seu primeiro álbum, intitulado La voz de la zafra 1 (publicado em 1962). Em seguida, uma performance no Festival Folclórico Nacional faz com que se torne conhecida entre os povos indígenas de seu país. Sosa e seu primeiro marido, Manuel Óscar Matus, com quem teve um filho, são peças chave no movimento musical da década de 1960 conhecido como nueva canción. Em 1965 lançou o aclamado Canciones con fundamiento, uma compilação de músicas folclóricas da Argentina. Em 1967 faz uma turnê pelos Estados Unidos e pela Europa e obtém êxito internacional. Em 1970 grava Cantata Sudamericana e Mujeres Argentinas com o compositor Ariel Ramirez e o letrista Felix Luna. Em 1971 grava um tributo à cantora e compositora chilena Violeta Parra, ajudando a popularizar a canção "Gracias a la vida". Mais tarde grava um álbum em homenagem a Atahualpa Yupanqui.
Nos anos seguintes, Sosa interpreta um vasto repertório de estilos latino-americanos, gravando tanto com artistas argentinos como León Gieco, Charly García, Antonio Tarragó Ros, Rodolfo Mederos e Fito Páez, quanto com internacionais como Chico Buarque,Raimundo Fagner, Daniela Mercury, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gal Costa, Sting, Andrea Bocelli, Luciano Pavarotti, Nana Mouskouri, Joan Baez, Silvio Rodríguez e Pablo Milanés. Mais recentemente, grava com a colombiana Shakira, cantora latino-americana de maior sucesso no exterior.
Após a ascensão da junta militar do general Jorge Videla, que depôs a presidente Isabelita Perón em 1976, a atmosfera na Argentina tornou-se cada vez mais opressiva. Sosa, que era uma conhecida ativista do peronismo de esquerda, foi revistada e presa no palco durante um concerto em La Plata em 1979, assim como seu público. Banida em seu próprio país, ela se refugiou em Paris e depois em Madri. Seu segundo marido morreu um pouco antes do exílio, em 1978.
Sosa retornou à Argentina em 1982, vários meses antes do colapso do regime ditatorial como resultado da fracassada guerra das Malvinas, e deu uma série de shows no Teatro Colón em Buenos Aires, onde convidou muitos colegas jovens para dividir o palco com ela. Um álbum duplo com as gravações dessas performances logo se tornou um sucesso de vendas. Nos anos seguintes, Sosa continuou a fazer turnês pela Argentina e pelo exterior, cantando em lugares como o Lincoln Center, o Carnegie Hall e o Teatro Mogador.
O repertório de Sosa continuou a ampliar, tendo gravado um dueto com a sambista Beth Carvalho, intitulado "So le pido a Dios", cada uma cantando em seu idioma. Em 1981 gravou o sucesso "Años" com o cantor cearense Fagner. Seu último álbum, Cantora, traz duetos com artistas que são referência na música latino-americana.
Ativismo político
Sosa, que sempre foi ativa entre os movimentos peronistas de esquerda, fez oposição ao presidente Carlos Menem e manifestou apoio às eleições de Néstor e Cristina Kirchner.
"Na década de 1960, Mercedes participou do Movimento do Novo Cancioneiro, surgido em Mendoza e centrado na música popular latino-americana, com ênfase no componente social. Além de obter sucesso na Argentina, a artista ganhou palcos pelas Américas e também na Europa. A temática social e a ligação com a esquerda lhe renderam também dissabores. Em 1979, um show da artista foi invadido pelos militares, durante a ditadura argentina (1976-83). Não apenas ela foi presa, mas inclusive o público presente. Naquele mesmo ano, Mercedes decidiu se exilar. "La Negra", como também era conhecida, voltou à Argentina em 1982, na fase final da ditadura. Na década de 1980, Mercedes realizou trabalhos em parceria com Milton Nascimento. Entre os brasileiros que também cantaram com ela estão ainda Caetano Velloso, Daniela Mercury e Beth Carvalho."
Sua preocupação sociopolítica refletia-se no repertório que interpretava, tendo sido uma das grandes expoentes da Nueva canción, movimento musical com raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas marcado por uma ideologia de rechaço ao imperialismo norte-americano, ao consumismo e às desigualdade sociais.
Prêmios e honrarias
Sosa era Embaixadora da Boa Vontade da UNESCO para a América Latina e o Caribe. Em 2000, ela ganhou o Grammy Latino de melhor álbum de música folclórica por Misa Criolla, feito que repetiria em 2003 com Acústico e em 2006 com Corazón Libre. Sua interpretação de "Balderrama", de Horacio Guarany, fez parte da trilha-sonora do filme de 2008 Che, sobre o lendário guerrilheiro argentino Che Guevara. Seu último álbum, Cantora, encontra-se indicado a três prêmios Grammy Latino.
O obituário de Sosa no jornal londrino The Daily Telegraph afirmou que ela foi "uma intérprete incomparável de obras de seu compatriota, o argentino Atahualpa Yupanqui, e da chilena Violeta Parra". Helen Poopper da agência Reuters anunciou sua morte dizendo que ela "lutou contra os ditadores da América do Sul com sua voz e se tornou uma gigante da música latino-americana contemporânea".
Morte
Mercedes Sosa (sentada) e Cristina Fernández de Kirchner, em 2005. Kirchner, para quem Sosa fez campanha, declarou luto oficial pela morte da cantora.
Sosa morreu aos 74 anos de idade em 4 de outubro de 2009, às 5h15min (horário local), em Buenos Aires3 . Ela foi internada no dia 18 de setembro na Clínica de la Trinidad, no bairro de Palermo, por causa de um problema renal. Seu quadro piorou a partir do momento em que teve complicações hepáticas e pulmonares. Em seus últimos dias, foi mantida sedada, respirando com a ajuda de aparelhos. Seu corpo foi velado no Congresso Nacional, em Buenos Aires, e cremado no cemitério da Chacarita no dia 5 de outubro de 2009. Uma parte de suas cinzas será espalhada em sua província natal. A outra será colocada em Mendoza, província pela qual havia declarado sentir um grande amor. O restante permanecerá na capital argentina, cidade onde morava há décadas.
A cantora havia trabalhado intensamente até poucas semanas antes de sua morte. Em 2008, havia dito que continuaria cantando "até os últimos dias", como uma cigarra . Antes de todos os jogos de futebol da sétima rodada do Torneio Apertura 2009 foi prestado um minuto de silêncio em homenagem à cantora . A presidente argentina Cristina Kirchner declarou luto oficial de três dias pela morte de Sosa, e decidiu antecipar o retorno de uma viagem à Patagônia para comparecer ao velório da cantora6 . Sua morte também foi lamentada pelo chefe de estado venezuelano Hugo Chávez, que declarou que Sosa lhe "iluminou a vida", e por cantores como Shakira7 , Daniela Mercury, Fagner e Wagner Tiso8 . Os governos do Equador, Chile e Brasil também demonstraram pesar em notas divulgadas à imprensa.
Posteridade
O Ministério da Cultura do Brasil veiculou artigo publicado pelo Jornal O Globo em 5 de outubro de 2009. Vale a pena transcrever trechos deste apaixonado depoimento sobre a maior cantora da América Latina:
"Habitualmente de costas para a música de “nuestros hermanos” latino-americanos, o Brasil começou a despertar para a riqueza da voz de Mercedes Sosa em 1976, após um dueto da cantora argentina com Milton Nascimento. A faixa “Volver a los 17″, da compositora chilena Violeta Parra - de quem Mercedes foi uma das principais intérpretes -, virou um dos maiores destaques do hoje clássico álbum “Geraes”. A partir daí, a barreira da língua não mais impediu que brasileiros se apaixonassem pelo marcante timbre de contralto de Mercedes Sosa e por seu repertório, que incluía desde canções folclóricas a músicas de conteúdo político e social.Os discos de Mercedes passaram a ser lançados regularmente no Brasil, e a cantora gravou novos encontros com artistas da MPB, como Fagner e Chico Buarque. Em outubro do ano passado, aproveitando uma visita ao Rio para receber a ordem do mérito cultural, em cerimônia no teatro Municipal, Mercedes gravou com Caetano Veloso uma faixa que fez parte do disco de duetos dela, lançado este ano, com vários convidados, incluindo a colombiana Shakira, o uruguaio Jorge Drexler e a mexicana Julieta Venegas. (...)Independentemente das posições políticas, Mercedes merece ser ouvida por sua grande voz e seu repertório, em discos como “El grito de la tierra”, “Homenaje a Violeta Parra”, “Cantada sudamericana”, “Interpreta Atahualpa Yupanqui”, “Corazón americano” (com Milton Nascimento e León Gieco) e “Alta fidelidad” (com Charly García). Seu último disco, “Cantora, vol. 1″, teve três indicações ao Grammy Latino deste ano - que será anunciado no mês de novembro.(...)A morte de Mercedes Sosa entristeceu não somente seus amigos e familiares, mas também políticos e intelectuais, além de parceiros musicais.(...)A presidente Cristina Kirchner, que nos últimos anos organizou shows de Mercedes na Casa Rosada, decidiu antecipar seu retorno da província de Santa Cruz, onde costuma descansar com sua família, para participar do velório. A presidente, que também convocou a cantora para o ato de comemoração de sua posse, em dezembro de 2007, decretou luto nacional pela morte de Mercedes Sosa."
Também o site do Memorial da América Latina prestou sua homenagem à cantora:
"A América Latina inteira reverencia a cantora Mercedes Sosa (1935 – 2009), falecida na madrugada desse domingo, 4 de outubro. Suas cinzas serão repartidas entre Tucumán, Mendonza e Buenos Aires. O Memorial se junta à corrente que homenageia a grande artista argentina, que com seu talento corajoso e voz tonitruante catalisou os ventos de mudança dos anos 60, 70 e 80 e manteve a bandeira da utopia até o fim. Simbolicamente, suas cinzas também ficarão eternamente depositadas no Memorial da América Latina. O Memorial já estava programando - e agora vai apressá-la - uma grande homenagem à cantora, com a participação de intérpretes brasileiras."
Assim como no Brasil, são inúmeras as manifestações de pesar e se multiplicam homenagens, em toda a América Latina, à "Negra", Mercedes Sosa. Tal como Eva Perón ou como Getúlio Vargas ela também "saiu da vida para entrar na história", tornou-se um mito. Agora Mercedes Sosa é imortal!
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