Teco, Beco e Veco
Rimavam, mas era praticamente só isso que os unia: o Teco, o Beco e o Veco. Os ortógrafos de plantão até lhes costumavam botar um acento grave no e. Mas a falta do acento, ou do ortógrafo, não há de ser grave.
O Teco chamava-se Evaristo, o Beco era Francisco e o Veco, Deus sabe. Mas não conta. E o que contava em todos os casos era como eram chamados, pois seus nomes mesmo só em cartório é que eram usados.
Teco e Beco tinha cada um seu comércio, sua família e sua reputação honrada junto à sociedade. Cada um à sua maneira, levava a vida. O Beco era comerciante de tecidos e armarinho, com a frequência assídua à igreja, confrade vicentino, e ativo pai de numerosa prole, de moços e moças alegres, ruidosos, charmosos e estudiosos.
Já o Teco, que tocava um comércio mais variado, vendendo do seco ao molhado, também homem de família e mui honrado envolvia-se menos com as atividades comunitárias. Cercado de belas donzelas, moças afáveis todas elas, a casa, conjugada ao estabelecimento era seu reino, seu condado. Teco experimentou a prazerosa situação de ser pai de duas primeiras damas da cidade, ao longo de quatro mandatos de prefeitos sucessivos.
Já o Veco, coitado, andava de léu em léu, seca e meca, até ir pro beleléu. Tinha também sua família, a mulher que o acompanhava, os meninos, mas sem rumo, sem pouso, sem repouso. E ainda tinha a cabeça leve, que uma dose da má cachaça (expressão tão redundante) - que era a que lhe estava ao alcance - o levava à estratosfera. E vivia mais dessa quimera.
Enrolado num cobertor, cobria um pouco da sua dor, mas bastava a cabeça expor e tudo rodava ao seu redor. Até que o levou o Senhor - sem cobertor.