Minha vida gay 3 - Escola Dominical

Uma das lembranças da infância que mais marcaram minha vida foram as idas à igreja com a minha vó. Era meio que um ritual acordar todo domingo de manhã pegar a bíblia e subir aquelas quadras caminhando.
Minha vó era meu modelo para tudo quando criança. Ela era forte, decidida e segura. E, principalmente, me protegia das loucuras da minha mãe.
Não saberia explicar o que acontecia, ao certo, mas, minha mãe era muito descontrolada emocionalmente. Tinha a necessidade organizar as coisas em casa todo tempo. Nada podia estar fora do lugar. Nunca!
Meu pai era uma pessoa mais normal. Doce. Parecia ser centrado com um pouco de juízo. Até os cinco anos devo ter tido uma infância normal, depois fiquei doente.
Há, quase esqueço de dizer algo muito importante. Foi na escola dominical ouvindo uma historinha infantil que decidi abrir meu coração para Jesus. Claro, demorei um tempo para entender como alguém que mora no céu poderia caber dentro do meu coração que era tão pequeno. A professora explicou que havia uma portinha ali , no meu coração. Só eu poderia decidir se abriria ou não! Fiquei inicialmente assustada. Como seria possível alguém morando dentro de mim? Será que Ele faria barulho? E se sentisse fome? Tantas inquietações. Decidi que seria "corajosa"! Abaixei a cabeça e repeti uma oração feita pela professora. Parei. Tentei ouvir passos ou qualquer manifestação de uma outra presença dentro de mim. Senti apenas paz. Como se meu interior fosse todo de algodão.
Não saberia viver sem tê-lo. Sem seu amor. Sem acreditar que ainda me ama como amou aquela menininha que o quis dentro de si, mesmo com medo.
Por isso, me senti sem chão quando achei que estava decepcionando quem me é tão querido.
Gostaria de seguir esses relatos por outros caminhos. Mas, em minha vida tudo tem a ver com Deus. Hoje, penso que a igreja não está mais preparada para mim. O ambiente não é acolhedor para quem é homossexual. Ninguém é obrigado a abrir mão da sua doutrina. Nem as igrejas ou outras organizações sociais. Também sei que ninguém ganha segregando. Enquanto a sociedade não mudar vários homossexuais continuarão morrendo - espancados, jogados em rios, assassinados ou tirando suas próprias vidas por não aguentarem a pressão.
O Brasil é líder em violência contra homossexuais. É dessa forma que ainda resolvemos nossos conflitos? Pessoas matam em nome da moralidade. Estou delirando ou é o mundo que virou de cabeça para baixo?
Ana Liszt
Enviado por Ana Liszt em 25/01/2015
Reeditado em 25/01/2015
Código do texto: T5113417
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