Biografia do Diplomata FLÁVIO MIRAGAIA PERRI
Flávio Miragaia Perri, diplomata, tornou-se conhecido por sua atuação em diversos postos diplomáticos, em diferentes países, como Cônsul-Geral em Nova York e Londres, ou como Representante Permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação [FAO], ou Chefe de Delegações em reuniões nas Nações Unidas. Marcou forte presença em inúmeros eventos e instituições nacionais, atuando na área do meio-ambiente, no combate à fome, na redução das desigualdades sociais.
Nasceu, 1º de dezembro de 1940, em Birigui, interior de São Paulo, filho do agente de negócios Rolando Perri e da professora de música Benedicta Miragaia Perri. É primogênito entre quatro irmãos: Flávio, Ronaldo, Cláudio e Márcio.
Desde a mais tenra idade, Flávio Miragaia Perri teve uma vida em constante mudança. Iniciou sua alfabetização na Escola Cristiano Olsen, em Araçatuba [SP], cidade para onde se mudou com sua família, aos seis anos. Prosseguiu estudos no tradicional Colégio Manoel Bento da Cruz.
Poucos anos depois, mudou-se novamente para acompanhar seu pai que assumira um cargo político em São Paulo. Ali frequentou o segundo grau [então Ginásio e Científico] nos Colégios Bandeirantes e Dante Alighieri. Flávio Perri foi sempre aluno aplicado, gostava de estudar e aprender um pouco de tudo, mas sua preferência sempre foi a Língua Portuguesa, paixão que adquiriu graças à influência recebida da grande professora Ernestina Pinheiro.
Aos 18 anos, ingressou no curso de Direito na Faculdade Toledo de Ensino, em Bauru. Estudava durante o dia e dava aulas de Português em Birigui e Araçatuba. No segundo ano, transferiu-se para a Pontifícia Universidade Católica (PUC), no Rio de Janeiro. Para custear suas despesas, prosseguiu dando aulas de Português em cursinhos preparatórios de Vestibular.
Além de estudar e trabalhar, Flávio Perri envolveu-se no movimento estudantil como membro do Centro Acadêmico Eduardo Lustosa e no “campus” da PUC atuando na Ação Universitária Independente. Em 1964, formou-se Bacharel em Direito. Flávio Perri trabalhava nesse período como jornalista na Revista “O Cruzeiro”, continuava lecionando em cursinhos, mas sonhava ir além. Prosseguiu estudando para aprimorar seus conhecimentos em busca de uma nova etapa.
Em 1967, passou no concorrido vestibular do Instituto Rio Branco, que é órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), com a função de formar Diplomatas. Dos 20 candidatos aprovados, classificou-se em 3º lugar entre mais de 1.600 inscritos. Formou-se com louvor como o segundo classificado em sua turma, recebendo sua primeira medalha Rio Branco.
Nesse mesmo ano, casou-se com Maria Luiza Martinho da Rocha, com quem teve dois filhos: Rodrigo Miragaia Perri e Mariana Miragaia Perri do que resultaram quatro netos: Pedro, Ana Luiza, Lucas e Alice.
Em 1968, passou a atuar como 3º Secretário na Secretaria-Geral de Planejamento Político do Ministério das Relações Exteriores, no Rio de Janeiro. Muitos órgãos ainda não tinham transferido suas sedes administrativas para Brasília.
Em 1970, Perri assumiu nova função no grande esforço de transferência do Ministério das Relações Exteriores para a nova capital. Ato contínuo, assumiu sua primeira Chefia na reorganização do Arquivo geral do Itamaraty.
Logo no início de sua carreira diplomática, Flávio Miragaia Perri envolveu-se com questões relativas ao meio ambiente. Seu primeiro trabalho nessa temática, sob a Chefia do Embaixador Sérgio Bath, foi sobre a captura de camarão na região de influência do rio Amazonas, nos estados do Amapá, Pará e Maranhão, uma das regiões mais ricas do Atlântico Ocidental, então explorados praticamente apenas por frotas estrangeiras, que ameaçavam dilapidar recursos nacionais com a captura sem regras. Restava para os pescadores locais apenas a exploração artesanal das zonas litorâneas, de baixo rendimento físico e econômico.
Em março de 1970, o Governo Brasileiro decretou a expansão das nossas jurisdições costeiras, adotando um mar territorial 200 milhas. Assim, as embarcações estrangeiras que exploravam a pesca do camarão nessa área passaram a ser consideradas ilegais e, portanto, passíveis de punição. Como Secretário, Perri assessorou as negociações de Acordos de Pesca firmados com diversos países (Estados Unidos, Trinidade Tobago, Jamaica, Suriname e Guiana), de modo que os barcos estrangeiros passaram a receber uma permissão específica para suas atividades em águas nacionais com pagamento de “royalties”. Consagrou-se pela primeira vez em instrumentos internacionais o critério do “defeso”.
A Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), órgão que mais tarde comporia a criação do IBAMA, disponibilizou alguns de seus técnicos e engenheiros de pesca para auxiliarem os representantes do Itamaraty nessas negociações, subsidiando-os com informações sobre avaliação de estoques pesqueiros a partir de dados coletados junto às frotas de embarcações atuantes naquela área. Era a SUDEPE também quem emitia a licença para as empresas pesqueiras, função que está atualmente sob responsabilidade do IBAMA.
Desse começo, Perri ampliou seu interesse pela temática marinha e ambiental, produzindo um detalhado estudo que o habilitaria a pretender ascensão ao cargo máximo na sua carreira diplomática, Embaixador. Com esse propósito, em 1982, defendeu no Curso de Altos Estudos (CAE) a tese: "Soberania e Liberdade: os interesses internacionais e os espaços oceânicos oferecidos às jurisdições nacionais à luz dos desenvolvimentos na III Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar: um estudo sobre as ilhas oceânicas brasileiras." Durante as prolongadas negociações da Convenção da Jamaica sobre o Direito do Mar, Perri participou, como membro da delegação do Brasil, de negociações e aplicou-se a acompanhar os trabalhos da III Comissão dedicada ao capítulo da Convenção que trata do controle da contaminação marinha e combate à poluição.
Os anos 80 foram extremamente frutíferos. Flávio foi removido para postos no Exterior, como secretário da Embaixada em Genebra, na Suíça. Depois, atuou em Paris, na França, e em Roma, Itália.
A carreira diplomática de Flávio Miragaia Perri foi especialmente marcada pelos ensinamentos e liderança do Embaixador Ramiro Saraiva Guerreiro, a quem assessorou na Secretaria Geral das Relações Exteriores e, posteriormente, no Gabinete, quando o Embaixador Guerreiro foi Ministro de Estado das Relações Exteriores. Perri acompanhou Guerreiro, como Secretário, Conselheiro ou Ministro-Conselheiro, em todos os postos que o ex-Ministro desempenhou no exterior.
Em 1987, acompanhou a evolução nas Nações Unidas do Relatório Brundtland, “Nosso Futuro Comum”, que introduziu amplo debate em torno das questões ambientais, com base no novel conceito do “Desenvolvimento Sustentável”.
Em 1989, foi nomeado Ministro Plenipotenciário na Missão do Brasil junto às Nações Unidas, em Nova Iorque. Nessa época, o Brasil encontrava-se sob fogo cruzado das campanhas internacionais ambientalistas, que focavam os inúmeros problemas envolvendo interesses na Amazônia, o que se tornou tarefa delicada nas negociações da Assembleia Geral da ONU. Flavio Miragaia Perri acompanhou de perto esse processo, cuja condução coube a dois grandes nomes do Itamaraty, o Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Paulo Tarso Flexa de Lima, e o Chefe da Missão junto à ONU, Embaixador Paulo Nogueira Batista.
Em 1992, o então presidente Fernando Collor de Melo, convidou-o para assumir o posto de Secretário Executivo do Grupo de Trabalho Ministerial encarregado da preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Conferência Rio-92. Nesse grandioso evento, estiveram presentes 107 Chefes de Estado e delegados de todos os países membros das Nações Unidas, o que marcou profundamente a história diplomática do país, produzindo inúmeros valores de sentido ambiental positivos na sociedade brasileira.
Em razão do sucesso desse trabalho, o presidente Collor incumbiu-o de nova missão. Dessa vez em Brasília, assumiu em julho de 1992 o cargo de Secretário Nacional do Meio Ambiente e ao mesmo tempo de Presidente do IBAMA.
Em 1993, Flávio Miragaia Perri foi Secretário-Geral da 3ª Conferência Ibero-Americana, em Salvador (Bahia).
Entre 1995 e 1996, foi Secretário de Estado do Meio Ambiente e sucessivamente de Projetos Especiais no Rio de Janeiro, durante o governo de Marcello Alencar no Estado do Rio de Janeiro.
Em 1997, atuou como Secretário Executivo da Rio+5, organizada por amplo conjunto de ONGs nacionais e internacionais, sob a Fundação Brasília para o Desenvolvimento Sustentável, cujo Presidente e inspirador foi o grande brasileiro Israel Klabin.
Perri tem como destaque ainda em seu currículo o importante papel de coordenador de duas visitas ao Brasil do Papa João Paulo Segundo, 1991 e 1997.
Em 1998, foi designado Cônsul-Geral do Brasil em Nova York, nos EUA, função que desempenhou até 2002. Atuou intensamente para integrar a comunidade de brasileiros imigrados para a costa leste dos EUA na área de jurisdição do Consulado-Geral. Nessa função prestou intensamente assistência aos brasileiros por ocasião dos atentados contra o World Trade Center, no 11 de setembro.
Nessa época, tornou-se Membro da Academia Nacional de Agricultura, ocupando a Cadeira Nº 9, do Patrono Lauro Muller. A Academia Nacional de Agricultura é vinculada à Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), que tem por meta traçar políticas nacionais que envolvam questões nas áreas do agronegócio, do meio ambiente e da pesquisa científica.
Em setembro de 2003, foi nomeado Representante Permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com sede em Roma, na Itália. Conduziu o processo de análise e revisão da própria estrutura da entidade. Atuou igualmente junto ao Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola- FIDA, coadjuvando o trabalho de incumbência do Ministério do planejamento, e ao Programa Mundial de Alimentos- PMA.
Além de dominar bem sua língua pátria, Flávio Miragaia é fluente em outros idiomas, especialmente Inglês, Espanhol, Francês e Italiano. Ao longo de sua vida, produziu inúmeros artigos para jornais e blogs em diferentes países.
Flávio Perri é poeta, havendo publicado quatro obras: Nel Mezzo del Cammin, em 2001; O Encanto dos Orixás, em 2003; Vulcano -Thera, em 2004; Italianità, em 2014.
Em 2008, foi nomeado Cônsul-Geral em Londres, onde acompanhou o caso do brasileiro Jean Charles, dando apoio aos familiares, assessorando-os no julgamento dos policiais envolvidos. Promoveu uma ampla modernização do consulado, instalando-o em nova sede, numa esquina de Oxford Street, de fácil alcance por diferentes meios de transporte público, reformando e atualizando aspectos funcionais, com aquisição de novos equipamentos e racionalização da gestão.
Em 30 de novembro de 2009, aposentou-se após quatro décadas de intenso trabalho. Retornou ao Brasil, estabelecendo residência no Rio de Janeiro.
Em 2012, usou sua bagagem profissional como consultor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), na preparação da participação dessa Federação em evento paralelo da Conferência Rio+20.
Deixou uma marca indelével na diplomacia brasileira, como líder propositivo, ágil, profundo conhecedor da administração pública, hábil articulador e com enorme paixão por seu trabalho e por nosso país. Atuou com intensidade e incessantemente para mostrar ao mundo os valores e as políticas públicas de sua pátria. Deixou nome e memória na vida pública.
Por seus serviços prestados recebeu homenagens e condecorações, internacionais e nacionais, entre as quais, no mais alto nível, a maior comenda atribuída a brasileiros, a Ordem de Rio Branco.
Flávio Miragaia Perri é personalidade com presença no cenário nacional nas últimas quatro décadas. Além de sua bem-sucedida carreira na diplomacia brasileira assumiu importantes funções típicas do executivo, com destaque, por ter abrilhantado significativamente a área ambiental, ao ocupar a presidência do IBAMA!
BIBLIOGRAFIA:
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Brasília – DF, Janeiro de 2015.
Giovanni Salera Júnior
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187
Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior