Pseudo-Auto-Biografia

Tanta gente tem dado auto-louvores em forma de texto literário (calma que estou aqui menos como crítico e mais como autor, ou seja, estou do outro lado do muro de palavras) que pensei em fazer o mesmo. Só depois lembrei que eu tenho menos de 40 anos, não passei nem perto do que os filósofos gerais chamam de provável ápice de minha vida...desisti do projeto.

Mas, ah! existem ideias que são tão fixas que considero serem irmãs daquela que foi aperrear a alma de Brás Cubas em seu último devaneio ocorrido obviamente em seu leito de morte. Não, não... não desvie teus olhos do conto pois não sou tão cíclico a ponto de querer enriquecer com tão pouco tempo de vida. O tom do texto é outro...

Procurei em minha vida fatos que poderiam ser levados em conta para dar mais do que um par de contos, os chamados fatos biográficos. Juro que não os encontrei, vão em frente, podem rir, que eu mesmo não reagi de forma diferente. A única coisa na minha vida de diferente era minha literatura...

Mas espere, por que não falar de minha literatura? Contanto que eu fosse sincero... pelo menos mais sinceros que nossas atuais estrelas da (pseudo)cultura popular. Para distanciar-me ainda mais, bastava escrever como se eu fosse um outro qualquer (como sempre tenho feito as coisas). Era tarde demais, as bases já estavam lançadas...

O Ernani deu-se o sobrenome de Blackheart para dar ares de estrangeirismo a sua obra mesmo tendo em si a plena consciência de que, em termos de conhecimento literário, a única autora estrangeira que o interessa é Sylvia Plath pelo fato somente dela ser (como ele mesmo diz) “belamente triste”.

Sua obra pode se dividir em três partes, muito embora a escrita de versos componha quase toda ela. Em questão de teatro, seus textos sofrem de uma auto centralização altamente desinteressante, muito embora o autor pense o contrário. Pode-se seguramente dizer que a leitura desses atos teatrais imuniza o leitor do sentimento de novidade pelo resto das páginas.

Nos contos, atenta-se a algumas pérolas minúsculas de ironia que (muito embora não chegue aos pés do tom machadiano que tem viciado a Academia) tem seu devido charme. Quando a pena escreve versos percebe-se o verdadeiro valor do autor, que se conta como restos do troco do pão.

Ernani tenta com tanto fervor ser original que o leitor sente pena vendo sua prosaica odisseia, pois é óbvio para todos o quanto que ele vive debaixo da sombra de mestres muito maiores que ele (Fernando Pessoa em particular).

Ainda estamos à espera de alguém que faça a ponte entre o esforço (infrutífero) gasto em se cunhar alguma genética literária e suas fragilidades psíquicas (que ele julga, de forma estranhamente exata, ser fruto de bons poemas).

Chegamos, sem uma gota sequer de suor, na questão das vidas que não são as suas, ou seja, seus heterônimos...

Se formos alinhando em uma fila suas facetas decrescendo seu valor literário, veremos Felipe Redom encabeçar a fila (por ser, obviamente, sua maior criação) pois ele não tem amarras temáticas nenhuma. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer de suas influências, tendo em vista que ele tenta (sem sucesso) continuar o estar-no-mundo de Carlos Drummond de Andrade.

Mas, se a obra for lida como se lê os primeiros textos, verá na sua poesia um verdadeiro tratado de filosofia, mais ainda, o estudante de primeira classe notará como a metafisica foi quase que inteiramente dissecada de seus questionamentos.

Como se para recompensar a falta de sentimento e espiritualismo, foi-se criado Hugo Hevol, que chega a ser tão piegas que ele é abatido por todas os outros poetas inventados.

Neste poeta pode se dar aulas de como se fazer poesia... desde que seja para a primeira série do primário. Ele faz poemas da mesma forma como tem se feito poesia desde que o mundo existe: com o coração. Há no mundo incontáveis poetas que fazem rimas subjugados a mesma linha de raciocínio (e, sejamos franco, com resultado final melhor).

Carregando a lanterna dos afogados esta Victor Teady, poeta que se diz aluno de Augusto dos Anjos produzindo uma poesia que seu mestre não leria nem sob ameaça de morte. Copia-se seu marcante niilismo, deixando de lado a sua originalidade.

Esta aí a verdadeira biografia literária do auto-intitulado poeta Ernani “Blackheart”, o que se diz fora disso não passa de bajulação pura...

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 17/11/2014
Código do texto: T5037961
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