BIOGRAFIA OFLÁVIO DA SILVEIRA TORRES
OFLÁVIO DA SILVEIRA TORRES ٭
Um Grande Empreendedor –
Perfil Sociopolítico e Familiar
Desportistas brumadenses, queremos saudar a todos vocês nas pessoas de Napoleão Barbosa (Presidente), do Diretor Jair Santos e de toda a Diretoria da LBF, aos quais a família de Oflávio da Silveira Torres agradece a lembrança do nome de seu patriarca, que ora é homenageado com este torneio futebolístico realizado no Estádio dos Prazeres. Ele, um aficionado, lutador, mantenedor e divulgador desse esporte, bem o merece.
Permitam-me traçar um rápido perfil da vida e das atividades de Oflávio da Silveira Torres, um pequeno homem em sua estatura física, porém de grandes ideias e iniciativas empreendedoras.
Ainda adolescente, foi para Contendas do Sincorá, distrito de “Ituassú” – hoje com nova grafia, Ituaçu –, trabalhar na empresa comercial Loja Neves – J. O. Neves & Cia –, do senhor José Olympio Neves, onde foi admitido em 28 de fevereiro de 1938, com salário de cem mil cruzeiros mensais (moeda da época), de onde saiu para montar um comércio próprio no ramo de panificação.
Seguindo a sua intuição de comerciante empreendedor, acompanhou os trilhos da RFFSA, instalando-se em Umburanas, distrito de Brumado, após ter adquirido a firma de consignações Antenor Castro & Cia (1945), de propriedade de Antenor Castro, com sede em Contendas do Sincorá e abrangência a várias cidades do sertão. Em Umburanas, foi contratado para construir o campo de aviação que serviria à empresa construtora da estrada de ferro e à própria RFFSA, empreitada que executou para o atendimento da urgência, inclusive no período noturno, com iluminação de lâmpada petromax.
Descendente de uma família de vocacionados para o comércio e a agropecuária, OST, mais conhecido por Flavinho, chegou a Brumado lá pelos idos de 1945, juntamente com os trilhos da estrada de ferro, prenunciadores de progresso, condizentes com as suas aspirações de um futurista que acreditou nas potencialidades desta terra. Aqui, desenvolveu atividades múltiplas: comerciais, agropecuárias, sociopolíticas e culturais.
Incansável e trabalhador, impulsionado pela sua visão mercantil, em 1941, foi admitido como funcionário da Singer Sewing Machine Company, onde trabalhou até 1945. A partir de então, passou a representante comercial autônomo da mesma empresa. Foi distribuidor dos refrigerantes da Fratelli Vita, revendedor da Brahma e bebidas em geral e dos produtos da Texaco, com venda de gasolina e querosene, além de possuir uma loja de móveis situada na Rua Cel. Tibério Meira.
Comprou uma gleba de terra e benfeitorias de Dr. Mário Meira e, em sociedade com o irmão Waldemar Torres, constituiu a firma Oflávio Silveira Torres & Cia, no ramo de armazém (açúcar, sal, querosene etc.), além de consignações e representações bancárias e comerciais. Nessa empresa, trabalharam 18 funcionários de carteira assinada, dentre eles Erico Dias Lima, que dela também participou como sócio minoritário, e João Caíres Soares, contadores da firma.
Irrequieto, versátil e progressista, empreendeu iniciativas inéditas e pioneiras em Brumado: instalou a primeira sorveteria brumadense, a Sorveteria Íris, localizada na estação da RFFSA, com instalações e tecnologia das mais modernas da época, dispondo de um grupo gerador de energia elétrica própria que também servia a suas outras atividades empresariais e à iluminação residencial, inclusive favorecendo alguns amigos.
Com a participação marcante do operador de máquinas cinematográficas, locutor e apresentador José Maria Viana Machado, inaugurou, na Rua Cel. Tibério Meira, o Cine Cairu, um dos mais modernos em equipamentos e instalações. Seu amplo palco serviu para apresentação de programas de auditório e de outras variedades culturais. Ali se apresentaram vários artistas de fama nacional e internacional, a exemplo de Zé Trindade e outros.
Criou o serviço de alto-falante com o prefixo PRVB – Publicidade Radiofônica A Voz de Brumado – anexo ao cinema, onde trabalharam diversos locutores, inclusive José Maria Viana Machado. Esse serviço de alto-falante dispunha de vários programas culturais, recreativos, esportivos, políticos e informativos, além de utilidade pública. Apresentou, através do programa jornalístico radiofônico, "A Folha de Urtiga", por meio da qual se faziam críticas aos políticos locais, a quem reivindicavam e de quem cobravam as necessidades básicas e prioritárias do município. Esse programa era produzido e redigido com a participação de Ludgero França Ribeiro (Piquitito), pessoa de grande inteligência e vasta cultura, que o assessorava. Muitas vezes, foram incompreendidos em suas colocações, sendo até ameaçados pelo seu trabalho que incomodava alguns poderosos descontentes. Daí, entender-se e considerá-lo como precursor dos programas atuais do gênero.
Entendeu-se com o ministro da Educação da época e trouxe, para Brumado, um programa cultural radiofônico que mereceu do Padre Antônio Fagundes, pároco local, o comentário: “Como pode Flavinho, homem de pouca cultura, fazer um programa desse nível?”.
Fundou, juntamente com amigos, o PR – Partido Republicano – com o intuito de eleger o Marechal Lott, candidato à presidência da República. Oflávio Torres, cujo compromisso era o progresso e o desenvolvimento do município, agia sempre nos bastidores. Incentivava e promovia a cultura, o esporte e o lazer.
Em 1957, instituiu, com Djalma Torres, Enelzita Torres e Thelma Torres, na Praça Capitão Francisco de Souza Meira, a empresa comercial Torres & Sobrinho, com o nome fantasia de Armarinho Nossa Senhora do Rosário, o qual vendia, no varejo e por atacado, uma gama variada de produtos do ramo, inclusive importados, como brinquedos a pilha. A decoração natalina do armarinho, única casa comercial na cidade a enfeitar-se para o Natal, empolgava a todos pela beleza e criatividade. Ao final do expediente das festas natalinas, no dia da Missa do Galo (naquela época à meia-noite), distribuía presentes às crianças pobres que esperavam ansiosas por esse momento de praxe anual.
Foi correspondente de vários bancos e casas comerciais da Bahia, de São Paulo e do Rio de Janeiro com os quais atuava como intermediário. Foi também distribuidor da revista O Cruzeiro e do jornal A Tarde, dos quais foi leitor assíduo e correspondente do jornal.
Através da empresa de consignações OST & CIA, despachava mercadorias para todo o sertão, por intermédio de tropeiros e seus animais, caracterizando-se assim o pioneirismo no ramo de transporte de cargas.
Foi agente do IAPETEC – Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas – até 1966, quando houve a fusão de todos os Institutos de Aposentadoria e Pensões existentes à época e criou-se o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social). Aquele órgão, quando do seu afastamento, prestou-lhe elogios pelos serviços executados com zelo, dedicação e correção.
Após aposentar-se, em 1978, das atividades comerciais que exerceu por mais de quarenta anos, não se conformando com a inércia e a apatia, comprou as fazendas Várzea do Mocó e Rocinha/Barreirinho, no distrito de Cristalândia, em Brumado e iniciou uma nova e produtiva ocupação, a de agropecuarista. Ali desenvolveu criatório de gado vacum e outros animais de pequeno porte, além do cultivo de algodão, milho, feijão etc. Atuou também como corretor na compra e venda de algodão e mamona para as indústrias e empresas locais do ramo, trabalhando prazerosamente até o seu desenlace.
Nas áreas social e cultural, não menos ativo, impulsionou empreendimentos e atuou em suas gestões e iniciativas. Participou da fundação das seguintes instituições: Cooperativa Agropecuária Brumadense, União Operária e Recreativa Brumadense, Sociedade Centro Espírita Albertino Marques Barreto e Loja Maçônica Aliança Sertaneja, com a participação do viajante Nacim Fauaze, homem inteligente, o qual se candidatou a deputado estadual e teve o apoio do amigo Flavinho.
Promoveu, através do serviço radiofônico e no palco do Cine Cairu, novelas, programas educativos, de calouros, peças de teatro com a participação de pessoas da comunidade etc. Apesar de homem de poucas letras, como costumava intitular-se, era amante e admirador da cultura e das artes, sendo um grande incentivador e patrocinador de todas as modalidades culturais da cidade.
Desportista, ajudou a fundar e dirigiu a Associação Atlética Portuguesa, tendo conquistado muitos títulos e muitas glórias. Ao lado dos companheiros e amigos Juca Rizério, Geonísio Viana, Olavo da Silva Leite que juntamente com Mário Trindade do Real Atlético de Futebol – RAF – e Wilson Gonçalves (Magnesita) incentivaram o desporto em Brumado, lutando pela sua divulgação e manutenção, muitas vezes, arcando com despesas com jogadores daqui e de alguns trazidos de outras cidades.
Posteriormente, mudou-se para o lugar chamado Olhos d’Água do Meio – também conhecido por Laje –, onde montou um armazém com comércio de produtos diversificados e compra de algodão.
Religioso, participava de todos os eventos da Igreja católica, inclusive promovendo missas e novenas na zona rural. Devoto de Nossa Senhora do Rosário, professava a sua fé de católico convicto. Era sua intenção construir uma capela na fazenda. Para tanto, trouxe, de São Paulo, uma imagem de Nosso Senhor, mandou fazer uma cruz de madeira nobre e comprou um sino de bronze. Não realizou a sua intenção devido ao seu falecimento. A família, acatando a decisão de Ophélia Torres (filha), fez a doação desses bens hieráticos à Igreja de Santa Rita por intermédio da Irmã Sagrada.
Oflávio doou também uma imagem de São Cristóvão para a capela do Santo que a nomeia, localizada no Bairro Novo Brumado, como uma homenagem aos caminhoneiros, uma vez que era agente arrecadador do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETEC).
No cartão comercial da firma Oflávio S. Torres & Cia, constam as seguintes informações:
Comissões, consignações e conta própria; Recepção e expedição de volumes para o centro e vice-versa. Compram-se e vendem todos os gêneros do país. Casa intermediária, Depósito da Stand Oil Co. of Brasil. Transportes próprios e caminhões.
Oflávio S. Torres & Cia – Correspondente do Banco do Povo, Banco do Comércio da Bahia; Banco do Distrito Federal; Casa Bancária Popular; Banco Econômico da Bahia S.A.; Banco Mercantil Sergipense S.A.; Machine Cottons Ltda. S.A.; Magalhães Comércio e Indústria e várias casas comerciais da Bahia, São Paulo e Rio.
End. Telegráfico: OSTORRES – BRUMADO/BAHIA.
De espírito festivo, realizou grandes festas carnavalescas com carros alegóricos, concursos de misses e rainhas, desfiles e blocos, quase sempre custeados com recursos próprios.
Solidário, nas suas vindas da fazenda, bem como no seu retorno, nunca cobrou passagem de ninguém. Muitos vinham para tratamento de saúde. Na condição de pobres e necessitados, custeava-lhes consulta e pagava-lhes os remédios. Indulgente, distribuía pequenas feiras e dava remédios a pessoas idosas do seu relacionamento e convívio da zona rural que não conseguiram aposentar-se, sem alardear nem se promover. Fato que a família só tomou conhecimento após sua morte pelos próprios beneficiários que choraram a sua perda, portanto, um altruísta.
Participativo, promoveu e compôs, com a iniciativa da comunidade, a Fundação Hospitalar de Brumado e a respectiva construção das instalações do Hospital Municipal. Colaborou com ações e meios de arrecadação de fundos para o Hospital, cujo patrimônio posteriormente foi transferido para o Estado pelo poder municipal, quando passou a chamar-se Hospital Regional Professor Magalhães Neto em homenagem ao secretário de Saúde da época.
Vale ressaltar que recebeu, in memoriam, homenagem do vereador Aroldo Miranda Meira, que fez proposição de dar o seu nome a um logradouro da cidade, o que teve o apoio unânime de seus pares.
Assim viveu Oflávio da Silveira Torres, Flavinho, figura polêmica, com uma vida familiar atribulada e irregular, por conta das circunstâncias que viveu. Enfrentou a sociedade, assumiu tudo que fez sem nada ocultar, às claras, portanto não nos cabe julgá-lo. Suas atitudes e seu comportamento não nos envergonham. Amparou a todos conforme seu entendimento e posses. Orgulha-nos, pois, o destemor da sua liberalidade arrostando a sociedade crítica e preconceituosa.
Esse é o retrato e o perfil de Oflávio Silveira Tores, condeubense que nasceu sob o signo de Áries e enfrentou os desgastes e desequilíbrios que a vida e a conduta social lhe impuseram. Imprimiu objetividade, autenticidade, impetuosidade e dedicação em todas as suas ações e realizações com clareza.
Meus senhores e minhas senhoras, destarte, OST participou ativamente de todas as iniciativas de progresso, de desenvolvimento político, econômico, social, cultural e de lazer desta cidade, legado da sua personalidade. Parafraseava o slogan paulista do Governo Ademar de Barros e dizia: "Brumado não pode parar". É preciso trabalhar no rumo que seu povo deseja – o progresso e o desenvolvimento.
Em assim sendo, esta homenagem, achamo-la necessariamente justa, não só pelo interesse e pelos serviços prestados, mas também pelo amor que devotou a esta cidade, à sua comunidade, ao seu povo, à sua gente, enfim à terra de que tanto se orgulhou, adotando-a como a sua terra natal.
Oflávio da Silveira Torres nasceu em Condeúba-BA, em 17 de abril de 1918. Era filho de José Silveira Torres (Cel. Zeca Torres) e Ana Amélia da Silva. Faleceu em 17 de julho de 1989, com 71 anos de idade, em Salvador, no hospital São Rafael, e o seu corpo foi trasladado para Brumado. Está enterrado no cemitério municipal Senhor do Bonfim. Seus ideais continuam vivos na memória de seus descendentes, como exemplo do trabalho, da perspicácia, da perseverança na busca dos objetivos para a construção do porvir idealizado para si e para os pósteros.
(*) Palestra Proferida por Antonio Novais Torres, em agradecimento pela homenagem prestada ao seu pai Oflávio da Silveira Torres, na entrega da Taça Oflávio da Silveira Torres, no Estádio dos Prazeres, em Brumado, em 14.11.1993 e na ALAB – Academia de Letras e Artes de Brumado, em 28 de outubro de 2005.
Antonio Novais Torres
antorres@terra.com.br
Estádio dos Prazeres
Entrega da Taça Oflávio da Silveira Torres
Brumado, em 14.11.1993