BIOGRAFIA JOSÉ DA SILVEIRA TORRES

JOSÉ DA SILVEIRA TORRES

SEU ZECA TORRES

Meu avô paterno, José da Silveira Torres, é filho de João José da Silveira e Dona Raquel Augusta Torres da Silveira. Nasceu em 24/04/1885 e casou-se em 23/10/1906, com sua prima Anna Amélia da Silva. Depois de casada acrescentou o Torres ao seu nome. Ela Nasceu em 11/02/1884 e faleceu em 1943 com 59 anos de idade. José da Silveira Torres, seu Zeca, Morreu com 85 anos de idade em 10/04/1969 e está enterrado em Vitória da Conquista no Cemitério da Saudade. Zeca Torres era fazendeiro e sua propriedade chamava-se São Pedro, cansado da labuta vendeu a fazenda e se mudou para Vitória da Conquista.

O casal José da Silveira Torres e Anna Amélia da Silva Torres teve os seguintes filhos: Maria de Assis Torres, Alayde da Silveira Torres, Deusdedit da Silveira Torres, Waldemar Silva Torres, Oflávio Silveira Torres, Dalva Olívia da Silveira Torres, Enelzita Silveira Torres, Alvair Silveira Torres, Djalma Silveira Torres. Em outro relacionamento, após a viuvez, teve dois filhos: João (Nenzinho) e Raquel Torres.

Eu tinha com ele uma relação de intimidade, sentimento, creio, que nenhum dos filhos desfrutava. Morei em sua residência durante muito tempo, em Vitória da Conquista, antes de 64 e depois em 1968, quando regressei de São Paulo para gerir uma empresa paulista denominada CVB-Cia Comercial de Vidros do Brasil, com filial em Vitória da Conquista com o nome de CVB DA BAHIA.

Residindo com ele, coloquei uma senhora para cuidar dos afazeres da casa: cozinhar, lavar etc. Certa feita, quando cheguei do trabalho, encontrei a empregada com a sua bagagem pronta a esperar-me para acertar as contas e ir embora. Ao inquiri-la pela atitude, explicou-me que o velho a havia perseguido com segundas intenções, situação vexatória para ela que se considerava uma mulher “direita”.

Com muito custo, consegui convencê-la a ficar, explicando-lhe que o meu avô estava caducando, daí a atitude inconveniente, e que ela não deveria tomar por assédio tal situação, porquanto ele tinha idade provecta e não justificava o procedimento. Retorquiu: “É que o senhor não viu... O homem estava ‘armado’”. Para um bom entendedor, foi o suficiente para deduzir o acontecido. Após reprimenda, seu Zeca negou peremptoriamente o fato. Entendendo a situação, a colaboradora resolveu ficar.

Em conversas informais que tínhamos, ele me dizia: “Meu filho, não se case com mulher pobre, pois elas só têm dois engenhos: um de água e outro de vento. Não produzem nada. São um pé-rapado, não têm posição social nem dinheiro” e afirmava: “Vou-lhe arrumar uma parenta muito rica com quem você deve contrair matrimônio”. Dizia também que “mulher que casa com homem pobre tem duas funções: uma de lavar roupa e outra de cozinhar”. Como se vê, meu avô não aceitava a pobreza, tinha mania de riqueza. Consideremo-lo um megalomaníaco, porquanto só falava em grandeza. Igualmente tinha restrições a pessoas de cor preta e, preconceituoso, recriminava-me por andar com elas.

Em determinada ocasião, por questões familiares, um senhor apelidado de João Pretinho veio de Salvador para prestar serviços na empresa em que eu trabalhava, em Conquista. Era motorista e servia-me como tal na agência, pois eu não sabia dirigir. Como tinha poucos serviços, fazia outros trabalhos por alvedrio, colaborando comigo e com a companhia. Seu Zeca recriminava-me por essa amizade, e João Pretinho bajulava-me para adquirir favores e facilidades.

O coronel Zeca foi acometido de doença grave e precisou se internar. O médico solicitou uma radiografia do esôfago, pois suspeitava de um câncer nesse local. João Pretinho, por ser um homem de porte atlético e forte, foi acionado para levá-lo ao radiologista. Ao colocá-lo nos braços, inquiriu-o: “Por que não gosta de preto, seu Zeca? No entanto, é um preto que o está conduzindo”. O anacoreta, passando a mão na cabeça do condutor, sem perder a calma, argumentou que ele, João Pretinho, era um preto de alma branca. Por necessidade, sem perder a esportiva, confirmava a sua convicção.

O meu avô, já com a idade avançada, em situação de caduquice, tinha a lucidez comprometida e fazia coisas inimagináveis e hilariantes. O “Coronel” Zeca, por ser rurícola, era afeito aos serviços do eito. No seu quintal, quase uma roça, plantava muita coisa e cuidava pessoalmente desses afazeres. Um dia, por enxergar pouco, provavelmente com catarata, pediu seus óculos que já não usavam há algum tempo. Atendi-o com presteza, colocando-lhe os óculos, sem as lentes. Ele os aprumou e disse: “Agora está tudo claro”. Pegou a enxada e foi carpir o seu quintal.

Seu Zeca disse-me que queria ser enterrado com a mesma roupa do seu casamento, um fraque confeccionado em casimira inglesa importada, feito conforme o figurino da época. O seu desejo foi respeitado. No final da vida, já estava passando dificuldades financeiras. O rendimento dos juros que recebia com o valor da venda da fazenda, com as desvalorizações das moedas, já não representava muita coisa e mal dava para se manter. As despesas hospitalares ficaram às minhas expensas, e o funeral foi custeado pelo filho Oflávio da Silveira Torres (Flavinho).

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, em 20/02/2011.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 04/10/2014
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