BIOGRAFIA JOÃO RIBEIRO DE NOVAES

JOÃO RIBEIRO DE NOVAES

HISTÓRIAS DE SANTINHO

João Ribeiro de Novaes – Santinho, filho de Antonio Alves Ribeiro de Novaes e de Octávia de Souza Jardim. Não há informação referente ao nascimento e falecimento.

É comum a família identificar o recém-nascido por apelido, de forma que as pessoas ignoram o nome civil, tornando a alcunha referência conhecida. João Ribeiro de Novaes recebera o apelido familiar de Santinho e, à medida que o indivíduo crescia, tornava-se o diabo em figura de gente. Fazia diabruras de menino estripulento, atazanava todo mundo, especialmente os irmãos. Parece até que tinha prazer nas traquinagens que fazia, revestindo-se de molecagem e maldades perpetradas.

Adolescente, tornou-se vaidoso, hílare, namorador, de porte físico avantajado, cabeleira cheia e bonita. Frequentava muitas festas, era um verdadeiro pé-de-valsa, mas não deixava de espicaçar as pessoas com seu procedimento satírico.

Inteligente, e por falta de empregos, veio a ser professor leigo, passando a ensinar nas fazendas. Aprendeu, também, a arte de fogueteiro e de cabeleireiro, de forma que não ficava ocioso. A investida nessas profissões foi a necessidade de obter ganho para aumento da renda.

Curioso, conheceu um ferreiro denominado Doro, o qual praticava incorporação de espíritos em rituais de magia, organizados por ele. Foi a partir daí que surgiu o seu problema com o álcool e, nessa compulsão etílica, enveredou-se pelo alcoolismo, perdendo a dignidade e os demais valores que norteiam a integridade do homem.

Esses excessos que provocavam uma embriaguez inveterada foram a principal causa de muitos transtornos e dissabores para os familiares, amigos e demais cidadãos, embora alguns achassem graça de suas estripulias, outros o consideravam louco devido aos atos praticados. Certa feita, um irmão comerciante pediu aos vendeiros de bebidas alcoólicas que não as vendessem ao indigitado, evitando-se assim mal-estar e constrangimento para todos.

Para se vingar do irmão, fez uma bomba caseira e avisou que ia jogá-la dentro da residência do mano, amedrontando os familiares. Dizia que iria fazer ir para os ares a casa, provocando apreensão na família. Por fim, revelou-se um grande blefe, pois a bomba não explodiu, tendo em vista não conter material explosivo. Era mais uma das levadas do beberrão Santinho.

Todos os dias, Santinho repicava o sino da igreja, impreterivelmente, nos horários das 6, das 12 e das 19 horas, com a quantidade de badaladas correspondentes, o que se tornou um parâmetro para a população que se acostumou com o fato. Certa feita, um enxame de abelhas alojou-se nos sinos da igreja e atacou Santinho que caiu da torre, esborrachando-se no chão. Precisou de cuidados até se restabelecer.

De outra feita, juntou-se a uma débil mental chamada “Catita”. Amarrou a ponta de uma gravata em seu pescoço e a outra no da mulher, rodeando uma praça lotada de transeuntes, imitando o trem com o som do apito característico da máquina maria-fumaça: “piuí... piuí... piuí...” e do trem em movimento: “café-com-pão-manteiga-não”, causando hilaridade nas pessoas que assistiam ao espetáculo.

Certo dia, um sujeito mão-de-vaca queria cortar o cabelo e estava pechinchando à procura de quem o fizesse mais barato. Santinho propôs prestar-lhe o serviço pela metade do preço. Acertados, o cabeleireiro, de posse de uma tesoura e um pente arrebanhados na casa de uma irmã, dirigiu-se com o cabeludo para uma vendola. Santinho mandou o cliente sentar-se num banco e começou o trabalho. Logo solicitou que lhe fosse servida uma “branquinha”, por conta do seu freguês. Pediu mais uma, mais outra... Extrapolando o preço combinado. O freguês berrou, mandando o vendedor parar de servir, pois o valor acertado do corte já fora consumido.

Espirituoso, o profissional malandro debochou do cliente, alegando que ele queria apenas “dois mil réis” de cabelo cortado, o valor da conta, deixando o sujeito com o corte por terminar, obrigando-o a procurar outro profissional para concluir o serviço. Eis aí o resultado do pão-durismo.

Em outra ocasião, sorveu a bebida despachada e, não tendo dinheiro para pagar, levou uma coça do proprietário do bar que o sovou com uma correia do ventilador do carro, causando-lhe vergões e hematomas no corpo. Ao se achar em condições físicas de reagir, dirigiu-se até o bar, localizado em frente a uma construção, e, à luz do dia, arremessou-lhe tijolos, provocando estragos nos pertences, atingindo, inclusive, o algoz, ao tempo em que gritava: “Em homem não se bate. Isso é uma amostra do que lhe farei”.

Diante do episódio, foi prestada uma queixa na delegacia, e a autoridade policial, a pedido do dono do bar, deportou-o, com a imposição de nunca mais voltar, no primeiro transporte ferroviário, o trem mochila, que passava na cidade de seus parentes. Santinho alojou-se na última classe do trem e, com as pernas balançando e abanando as mãos em despedida, gritava: “Adeus, cidade querida, breve voltarei”.

Essas e outras histórias foram as peripécias do alcoólatra Santinho, que faleceu e foi enterrado como indigente. Onde ocorreu o óbito, não se sabe ao certo, provavelmente na região de Condeúba ou Cordeiro, de forma que, para os parentes, é um mistério a ser desvendado.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado em 10/03/2010.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 03/10/2014
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