BIOGRAFIA DE HIDERALDO VIANA VELAME

HIDERALDO VIANA VELAME

*25/03/1964

†08/12/2003

MISSA DO SÉTIMO DIA, UMA TRADIÇÃO DA LITURGIA CATÓLICA

No dia 14 de novembro, sexta-feira, celebrou-se, na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, padroeiro da Igreja, no horário das 19h30min, missa de congratulações e em Ação de Graças pelo segundo aniversário da rádio comunitária Nova Vida. Essa rádio tem como objetivo principal a valorização dos princípios básicos cristãos que orientam a conduta do indivíduo para o bem moral, os quais são fundamentos essenciais à dignidade das pessoas e da vida humana. Ligada à Igreja Católica, tem a finalidade de servir à comunidade, sem fins lucrativos, com informações de utilidade pública, educacional, cultural e evangelizadora, preceitos que levam ao aperfeiçoamento espiritual do indivíduo.

Depoimentos de simpatizantes, contribuintes e sócios da emissora fizeram elogios ao trabalho dos comunicadores da rádio. Rendo também homenagens de parabéns à Rádio Nova Vida pelo sucesso alcançado nestes dois anos, merecimento de um trabalho de equipe que se tem revelado competente na sua finalidade precípua, a comunicação.

Ocorre que essa mesma missa foi celebrada, também, “pro defunctis” − missa para o ofício dos mortos ou missa do sétimo dia –, em intenção da alma e memória dos falecidos Hideraldo Viana Velame e Ivan Clei de Almeida Souza. Essa associação de ritual é incompatível por finalidades divergentes que vão de encontro ao embasamento doutrinário da teoria e fundamentos dogmáticos da tradição católica.

A missa do sétimo dia tem a intenção de reunir amigos, parentes, enfim, a comunidade cristã para rogar a Deus pela alma da pessoa falecida, para o perdão dos seus pecados, especificamente, através da Eucaristia, sinal sagrado da salvação.

O réquiem, que na liturgia católica é a prece pelos mortos – “Requiescat in pace” (descanse em paz) ou “Requiem aeternum dona eis, Domine” (Concedei-lhe o descanso eterno, Senhor) – foi descaracterizado pelas comemorações da festa de aniversário da Rádio Nova Vida que apresentaram oferendas, cânticos, louvores, jogral e apresentação de coral entoando músicas em ritmo de samba.

Apesar de festa muito organizada, mas que nada tinha a ver para compartilhar com o ofício dedicado às almas dos falecidos, causou descontentamentos. É preciso não confundir “alhos com bugalhos”, até porque a modernidade da inovação não agrada a todos. Muitos dos que compareceram para o compromisso religioso de consolar e confortar o sofrimento de pesar dos familiares dos mortos ficaram incomodados diante da contagiosa alegria das comemorações. Várias pessoas, insatisfeitas, retiraram-se do recinto, aguardando, do lado de fora, o momento dos cumprimentos de solidariedade.

“A cada cabeça uma sentença”. Vale mencionar que o mestre de cerimônia, na sua empolgação pelo entusiasmo da comemoração do aniversário da rádio, foi traído pelo improviso, e pelo microfone. No início, ao fazer os anúncios, esqueceu-se de mencionar o nome de um dos falecidos, deixando parentes e muitos dos presentes confusos e surpresos. Desatenção essa que, posteriormente, foi corrigida, declinando-se o nome do falecido esquecido, ao tempo em que se prestou solidariedade aos familiares pela perda de seu ente querido. Ainda que as famílias tivessem conhecimento de que a missa seria para atender às duas finalidades, no estado em que se encontravam, de fragilidade emocional, não teriam a capacidade de percepção para avaliar o antagonismo dos objetivos.

Nesses momentos desditosos, o homiliasta, em sua pregação de evangelizador, deve apelar para a solidariedade cristã e a consolação dos familiares dos mortos, no intuito de mitigar o sofrimento e a tristeza oprimente. Procura-se, dessa forma, levar conforto espiritual aos enlutados, aliviando-lhes a angústia e a dor pela perda dos entes queridos. Esse momento da separação entre a alma e o corpo marca a passagem para outra dimensão espiritual, ou para a vida eterna, conforme a crença na doutrina da fé católica na celebração da Eucaristia.

Diante do ocorrido, há de se alertar a sociedade, a igreja e os governantes para uma profunda reflexão sobre a origem e a razão de tanta violência que esgarça o tecido social, corrompido pela miséria e pela fome e de tantas outras mazelas, pelas quais somos todos responsáveis. Refiro-me às mortes violentas por assassinatos perpetradas por praticantes de latrocínios, como foi o caso do assassinato de Hideraldo.

É necessário que se avaliem, também, as fraquezas humanas, invocando o sentimento cristão do perdão e a acedência aos desígnios divinos, sem que haja apelação para a vingança nessa hora de incompreensões. Quando o sofrimento transcende a razão, a consciência perde a noção do racional. Cabe à lei cumprir o seu papel de punição.

Diante do arrazoado, não há de se combinar missa festiva com missa de caráter estritamente religioso, que mexe com os sentimentos emocionais de afetividade de pessoas enlutadas. O que aconteceu na noite de sexta-feira (14/11) foi um equívoco, uma desconsideração aos que se propuseram a levar às pessoas estimadas os pêsames, o afeto e o carinho, a solidariedade pelo sentimento religioso de piedade, num momento em que todos estavam condoídos pela infelicidade da tragédia da morte.

Não tenho, neste posicionamento, nenhuma intenção de repudiar, de ofender ou de magoar ninguém. Move-me, apenas, o propósito de chamar a atenção para o constrangimento que incomodou a mim e a muitas outras pessoas para, no futuro, não se repetir, a meu juízo, a mesma situação de incoerência, motivo deste comentário. Espero que a comunidade católica compreenda o meu posicionamento com a isenção de quaisquer motivações.

HISTÓRICO:

Hideraldo Viana Velame, também conhecido por DECO, nasceu em 15-03-1964 em Palmas de Monte Alto/BA. Filho de Eraldo da Silva Velame e de Maria de Lourdes Viana Velame.

O Casal teve a seguinte prole: Erna, Elenize, Eraldo, Edilay, Raimundo e Waltércio e Hideraldo Viana Velame que perfazem sete filhos.

Hideraldo teve uma infância normal e praticava as peripécias da idade. Era quieto, tranquilo e de comportamento educado.

Cursou o primário e o ginásio na Escola Nossa Senhora de Fátima. O segundo grau cursou na Escola Técnica Federal da Bahia. O terceiro grau na Universidade de Governador Valadares/MG., (UNIVALE), Engenharia Elétrica, no período de 1986-1990.

Era solteiro e empresário. Fazia projetos da sua formação profissional para toda a região, dirigia uma unidade lotérica da Caixa Econômica Federal – O ZEBRÃO. Gostava de futebol em todas as suas modalidades, especialmente o futebol de campo.

Professava a religião Católica Apostólica Romana e era atento aos conselhos dos pais: “Estudar para vencer na vida”; “Quem trabalha com honestidade tem futuro garantido quem o faz com roubalheira tem o destino merecido”.

Nunca foi de se exasperar. Viveu o cotidiano fazendo amigos e amizades, atinando para as verdades e realidades da vida, sem rancor e ódio. Os homens são portadores do bem e do mal e a escolha recai sobre o indivíduo conforme a sua intenção e consciência. Infelizmente, os do mal, ceifaram a vida e as alegrias de viver de DECO, em 08-12-2003, fato que comoveu toda a cidade. O corpo foi velado na Câmara Municipal de Vereadores e está inumado no cemitério municipal Senhor do Bonfim.

A Câmara de Vereador de Brumado através da indicação 31//2003, autoria do vereador Leonardo Quinteiros Vasconcelos, apresentou à família de Hideraldo Viana Velame, Moção de Pesar e solidariedade aos seus familiares em 10/11/2003.

Deixo aqui as seguintes mensagens para reflexão, análise e apreciação dos leitores: “Que é o ser humano? Um nada diante do infinito, e um tudo diante do nada, um elo entre o nada e o tudo, mas incapaz de ver o nada de onde é tirado e o infinito para onde é engolido” Citação do filósofo, matemático, físico e escritor místico, francês, Blaise Pascal, uma das mentes privilegiadas da história intelectual do ocidente. “Pelo amor, pela arte, pela fé e pela esperança pressentimos que há algo que vai além da morte.” Citação do teólogo Leonardo Boff. “Que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, em 15/01/2003.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 01/10/2014
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