BIOGRAFIA GILDÁZIA SILVA - DONA DAZINHA "VIÚVA CHIQUINHO GAVIÃO"
GILDÁSIA SILVA – DONA DAZINHA
VIÚVA DE CHIQUINHO GAVIÃO
Dona Dazinha, viúva do segundo casamento de Francisco Ramos da Silva, vulgo Chiquinho Gavião, é uma pessoa que conhece muitas famílias brumadenses pelo exercício das profissões de doméstica, comerciante e costureira profissional. É muito bem informada e detalha os fatos ocorridos do seu conhecimento. Conversa agradável, rica em assuntos, demonstra todos os seus saberes do tempo antigo e do atual, determinantes de uma prosa alegre, sem afetação.
Nasceu em quatro de setembro de 1922, em Piranha, povoado do município de Andaraí, onde foi registrada. É filha de Joaquim Silva e Hermínia de Jesus. Rurícolas, o pai era vaqueiro e a mãe, lavradora. São seus irmãos: Altelina, Altina, Ana, Maria, João, José e Josemiro.
Estudou até a terceira série primária, que funcionava da seguinte forma: ABC, 1º livro, 2º livro e 3º livro, em anos distintos, perfazendo quatro anos de estudos. Durante a sua infância de rurícola, além de ajudar nos serviços da roça com seus irmãos, protagonizou muitas brincadeiras: brincava com os irmãos e as colegas de esconde-esconde, boneca, cantiga de roda, lagarta pintada, quejando e outras concernentes à sua infância. Traquinas, subia em árvores, pulava no rio, brincava de balanço feito com cipó.
Durante a adolescência, enfrentou trabalho duro na labuta dos serviços da roça: carpia, derriçava café, plantava e colhia algodão em roças de terceiros, para se manter e ajudar a família.
Em 1939, aos dezessete anos, casou-se na Igreja com o garimpeiro Abílio Alves, em Piranha, no município de Andaraí, com quem teve um filho que não vingou. O esposo morreu um ano depois do casamento e ela continuou trabalhando na roça.
Após viver maritalmente com Francisco Ramos da Silva, conhecido como Chiquinho Gavião, por cinco anos, em 1958, com 36 anos de idade, casou-se com ele no religioso, em Redenção, município de Itaberaba, com quem viveu até a morte deste. Tiveram um filho natimorto.
Versátil, perspicaz e inovador, Chiquinho Gavião montou um bar com quatro mesas de sinuca (bilhar com 8 bolas e seis caçapas) e um restaurante (o primeiro de Brumado). Dona Dazinha ajudava o marido a administrar os negócios, além dos seus afazeres domésticos. Depois montaram barraca na feira da praça onde hoje se localiza o Mercado de Artes (Praça Armindo Azevedo), onde vendiam cereais e outros produtos com um grande sortimento e muitas variedades.
Era muito festeira, gostava principalmente de carnaval e costurava as fantasias para o evento. O marido, músico e também festeiro, era o organizador da festa. Fazia romaria à gruta da Mangabeira, situada no município de Ituaçu, terra natal do marido, e participava dos festejos pagãos e dos eventos católicos. Acredita na reencarnação, dogma espírita, de cuja religião participou fazendo passes e outros trabalhos concernentes. Ingressou no Espiritismo desde a época em que o senhor Albertino Marques Barreto dirigia o Centro Espírita. Hoje não o frequenta mais, por motivos de saúde, porém crê piamente na reencarnação da alma, sistema de auto aperfeiçoamento do indivíduo.
Com a generosidade e a grandeza do seu coração, “adotou” quatro filhos: com o falecimento das mães das meninas, vieram para o seu poder, uma com doze anos, Alba Silva Souza, filha da irmã Maria e outra com 9 anos, Hildete Pereira Silva, filha da irmã Altina. As meninas já recebiam os cuidados de Dazinha e de sua mãe que as ajudavam. Mais tarde, ficou com um menino de três meses, Evanjivaldo da Silva, filho de Valdete (Dete) que não tinha condições de criá-lo e foi para São Paulo. Por fim, a caçula Zelinda Almeida de Souza Caires. Todos foram criados como filhos biológicos. Dedica-lhes amor, carinho e atenção. “Deus me deu essa missão e a oportunidade de criá-los e educá-los conforme as minhas posses”, relatou ela.
Após a morte do marido, fez o curso de corte e costura com a professora Manoelita Rocha Coqueiro, recebendo diploma de conclusão com a devida festa de formatura. Outras habilidades desenvolvidas por Dazinha: bordados manuais e a máquina, fiação, renda, crochê, ponto de cruz e ponto cheio. Com esses serviços, atendia a comunidade e a elite brumadense, obtendo daí o necessário para a sua manutenção e da família.
Hoje, com 92 anos de idade, lúcida e de raciocínio lógico, continua fazendo trabalhos manuais e costura como distração para preenchimento do seu tempo de aposentada. Não abre mão, apesar da sua condição de saúde (artrite severa) de, ela própria, fazer os serviços domésticos, principalmente de cozinha. Nesse particular, preza a limpeza e a higiene. Para tanto, conta com a companheira Marilete Teixeira dos Santos (Lete) que trabalha nos afazeres domésticos há mais de dez anos.
A sua família é composta das filhas Binha, Dete, Zelinda e o filho Vange, além dos netos, bisnetos, genro, nora e trinetas com os quais convive em harmonia e saudável relação de amizade. Procura estar presente em suas vidas com aconselhamento de pessoa mais velha e com experiência de vida. Compara a vivência da sua infância com a criação de hoje, díspares na forma e no conteúdo.
Envolvimento político: Na época da ARENA, dava apoio ao Dr. Juracy Pires Gomes (prefeito por três mandatos) e participava de quase todas as inaugurações. É defensora de “Fazer o bem sem olhar a quem e sem esperar nada em troca” e observa o conselho dos pais: ajudar, sempre que puder, o próximo. Esses procedimentos dignificam a pessoa.
Gosta de ouvir músicas, com preferência pelo cantor Roberto Carlos. Tem mania de limpeza e de colecionar dinheiro antigo. Tem estimação por animais domésticos, cria cachorros, gatos, periquito, papagaio e uma calopsita aos quais dedica carinho e atenção.
Dazinha relatou, como curiosidade, que seu Agnelo dos Santos Azevedo foi o primeiro comerciante a ter uma funerária em Brumado, e o primeiro caixão foi vendido para ela inumar o corpo de Chiquinho Gavião que faleceu em 06 de outubro de 1968, com 62 anos de idade e está enterrado no cemitério municipal Senhor do Bonfim.
Diz que a maior loucura que cometeu em sua vida foi a sua ida para São Paulo, sem conhecer o lugar, em companhia de uma família conhecida que visitava a sua localidade, na esperança de ganhar melhores salários. Foi para o Instituto da Imigração Paulista. Lá os fazendeiros levavam os imigrantes nordestinos para o interior, para trabalharem na lavoura, principalmente de café, algodão e cana-de-açúcar. Trabalhou nessa condição em fazendas de Araçatuba, Santa Fé do Sul e outras.
Muito tempo depois, morou em Salvador, em um apartamento que pertencia a uma família brumadense, por quatro anos, tomando conta dos filhos menores. Finalmente retornou para Brumado e aqui encontra-se muito feliz, ao lado dos seus filhos, parentes e amigos a quem devota muita consideração.
Conta que, quando alguém visitava a casa dos seus pais, a sua mãe tinha o hábito de presentear o visitante com algo. “Era um costume dela; hoje, eu tento fazer o mesmo.” E acrescenta: “Com a doença de Chiquinho Gavião, lutei para restabelecer a sua saúde. Fiz tudo que pude por ele. Infelizmente a doença o ceifou”.
Com relação à sua aposentadoria, conta que agradece primeiramente a Deus e ao Dr. José Álvaro Dantas – Dr. Zezito – que, com o seu relatório minucioso sobre a sua saúde, foi possível aposentar-se, fato que ocorreu em 12-04-1983. Recebeu dele a recomendação de que, ao entregar o relatório ao colega, citasse que foi enviado por Dr. Dantas, nome pelo qual era conhecido no meio médico. Porquanto, citando Zezito, denotaria a intimidade do conhecimento com ele, o que poderia prejudicá-la.
Os depoimentos são de Gildásia Silva (Dazinha) a quem agradecemos a colaboração.
Antonio Novais Torres
antorres@terra.com.br
Brumado, em 09 de julho de 2014.