Biografia de MARISIA DIAS OLIVEIRA

Marisia Dias Oliveira marcou história no movimento classista como a primeira presidente da ASIBAMA-DF, que é considerada uma das organizações mais fortes e atuantes dentro do governo federal!!!

Nasceu em 28 de setembro de 1952, na cidade de Gilbués, interior do Piauí, filha de Aloisio Oliveira Costa e Maria Dias Oliveira. É a única mulher de seis irmãos: Raimundo, Carloman, Carlos Alberto, Marisia, Joaquim (tingo) e Tibério.

Quando tinha seis anos de idade, sua família fez uma longa viagem de 920 km até o planalto central. Vieram de “pau de arara” – como era conhecida a forma precária em que os retirantes saíam do sertão nordestino em busca de melhores condições de vida.

Assim, a família de Marisia e muitas outras se acomodaram na carroceria de um caminhão com seus pertences e animais domésticos para percorrerem as estradas empoeiradas até chegar à futura capital federal. Saíram de Gilbués em 25 de agosto de 1959 e levaram 30 dias para chegar ao seu destino final. Partes do percurso fizeram a pé, devido às más condições das estradas e por causa das quebras constantes do caminhão que transportava tanta gente ao mesmo tempo.

A primeira parada foi na Vila Amaury – um dos locais de morada dos operários que trabalhavam nas obras do Congresso Nacional e dos Ministérios. Ficaram pouco tempo ali, pois o Lago Paranoá já estava em formação, e à medida que o nível de água subia os moradores eram forçados a deixar a localidade. O Lago foi enchendo aos poucos, inundando as ruas, casas e comércios da Vila Amaury. A cada semana uma parte era alagada; os trabalhadores desmanchavam suas casas de madeira, pegavam a mobília, panelas, roupas, crianças, colocavam nos caminhões fornecidos pelo governo e se mudavam. Em geral, não deixavam nada para trás; levavam a madeira, as portas, as janelas, os pregos, a fiação elétrica e reerguiam suas casas em outras localidades.

A família de Marisia deixou a Vila Amaury e se mudou para Sobradinho, aonde residem desde então. Ela e seus irmãos estudaram os ensinos primário, ginasial e científico em escolas públicas de Sobradinho. Todos dividiam seu tempo estudando e trabalhando em pequenos serviços para ajudar na despesa de casa. Era mais comum as crianças e adolescentes trabalharem para incrementar a renda familiar.

Em 1972, passou no Vestibular do curso de bacharelado em Geografia da Universidade de Brasília (UnB), o que foi motivo de grande comemoração para seus pais e amigos.

Quando estava no segundo ano da faculdade, Marisia sofreu uma grande perda – seu pai foi atropelado e veio a falecer.

Essa situação atingiu sua família como uma bomba. Ela teve que trancar o curso e só retornou quando sua mãe conseguiu receber uma pensão pela viuvez precoce.

Em 1974, Marisia passou em 5º lugar no concurso do IBGE que teve mais de 3 mil inscritos. Trabalhou na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), que investiga diversas características socioeconômicas da sociedade brasileira, como população, educação, trabalho, rendimento, habitação etc.

Em 1976, deixou o emprego no IBGE para retornar aos estudos na UnB, se dedicando intensamente ao aprendizado e também nos movimentos sociais.

Com o golpe militar de 64, vários direitos civis estavam bastante restritos. As autoridades reprimiram as lideranças estudantis e desarticularam as principais organizações representativas. Primeiramente, a União Nacional dos Estudantes (UNE) foi considerada ilegal, depois foi a vez do fechamento das Uniões Estaduais dos Estudantes (UEEs) e os Diretórios Centrais dos Estudantes (DCEs). Os militares criaram novas regras e passaram a escolher a dedo os representantes das organizações estudantis. As reuniões acadêmicas eram constantemente monitoradas com a presença de representantes do governo para observar e vigiar possíveis ações contra a ordem imposta pelo governo.

Em março de 1977, os estudantes se mobilizaram em todo país para protestarem pelos nove anos da morte do estudante secundarista Edson Luís do Rio de Janeiro. O Reitor da UnB, Capitão da Marinha José Carlos Azevedo, suspendeu os alunos que protestaram. Ele era conhecido por sua dureza no tratamento aos estudantes e dissidentes das políticas governamentais.

Marisia Dias viveu o auge das manifestações e passeatas públicas que mobilizou os acadêmicos da UnB e diversas universidades por todo país. Ela fez parte dessa geração inconformada com o governo militar, e saia a rua com uma multidão de amigos para reivindicar o fim das prisões e torturas, além de pedir a anistia ampla, geral e irrestrita de milhares de brasileiros que estavam vivendo em outros países e desejavam regressar.

Após muitos protestos, as principais organizações estudantis foram reconstruídas. Primeiramente, os estudantes conseguiram os DCEs-livres, até finalmente conseguirem, ressuscitar a UNE, que havia sido declarada ilegal pelos militares.

Além de estudar e participar das manifestações, Marisia realizou inúmeros estágios remunerados durante sua faculdade. Estagiou no Estado-Maior das Forças Armadas, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), e Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER).

Em 1979, Marisia recebeu dois grandes presentes. Após muito tempo estudando, ela recebeu seu diploma universitário. Nesse período, teve a benção de ser mãe de uma bela criancinha: Maíra Oliveira Nery.

Em abril de 1982, ela começou a trabalhar no Ministério da Agricultura, no Provárzeas Nacional, que era um Programa criado pelo governo federal para beneficiar os produtores rurais e suas cooperativas, através de financiamento e suporte técnico/ administrativo na drenagem e sistematização de suas várzeas.

Esse Programa representava uma demonstração clara de como as políticas públicas podem ser tão opostas. Enquanto o Código Florestal era usado pelo IBDF para tentar restringir o uso que os produtores rurais faziam das várzeas, o Ministério da Agricultura garantia por meio do Provárzeas recursos financeiros para incentivar a ocupação dessas áreas. Marisia e diversos outros servidores viviam e tentavam corrigir essas contradições.

Ela também participava da Associação Nacional dos Servidores da Agricultura (ANSA), militando por melhores condições de trabalho.

Nesse período, o Brasil estava vivendo a “Diretas Já”, com manifestações pedindo o fim da Ditadura e o retorno do regime democrático. Mais uma vez, Marisia se fez presente nas passeatas – dessa vez levando a tiracolo sua filha.

Em 1988, uma reestruturação no Ministério da Agricultura (MA) levou a mudança do quadro de servidores. Praticamente todos os profissionais que não eram engenheiros foram remanejados para outras instituições. Por ser formada em Geografia, Marisia foi redistribuída para o IBDF, que era uma autarquia vinculada àquele Ministério.

Logo que chegou ao Instituto, ela começou a participar da Associação classista, ganhando destaque na greve que se instalou no período de dois meses no final de 1988.

Marisia Dias chegou mostrando para que veio. Em suas participações nas reuniões do servidores, ela se manifestava contundentemente deixando uma boa imagem para os colegas presentes. Ela não se intimida diante das situações e estimulava os servidores a lutarem por seus direitos.

Em fevereiro de 1989, o IBDF se fundiu com outras três instituições (Superintendência do Desenvolvimento da Borracha - SUDHEVEA, Superintendência do Desenvolvimento da Pesca – SUDEPE, e Secretaria Especial de Meio Ambiente – SEMA), dando origem ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

Com o surgimento do IBAMA houve um fortalecimento das ações dessas quatro instituições. O jornalista Fernando César de Moreira Mesquita foi responsável pela condução e divulgação dessa nova entidade ambiental. Aquele período foi bastante especial. Todos se sentiam engajados com as propostas de estruturação e fortalecimento da política ambiental.

Fernando Mesquita montou uma ótima equipe. Ele conseguia motivar e agregar os dirigentes das Associações dos quatro órgãos, envolvendo-os no planejamento das ações. Naquela época, a sala da presidência ficava onde é hoje a Procuradoria Federal, e o escritório da Associação situava-se no andar inferior. Uma escada permitia acesso fácil dos representantes dos servidores aos chamados de Fernando Mesquita, que democraticamente só tomava decisões após ouvir as lideranças.

Até hoje, os servidores do IBAMA nutrem grande admiração e respeito pelo primeiro presidente que marcou a história dessa importante instituição federal.

A princípio não foi nada fácil, pois vários ajustes precisaram ser realizados para acomodar os servidores e todos os recursos financeiros em um só objetivo. Além das adaptações internas, também ocorreram ajustes nas entidades classistas.

Foi assim que a ASIBAMA-DF foi criada em 14 de dezembro de 1989, a partir da convocação feita pelas Associações dos Órgãos que deram origem ao IBAMA, ou seja, a Associação dos Servidores do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - ASIBDF, a Associação dos Servidores da Superintendência da Borracha - ASSEHVEA e a Associação dos Servidores da Secretaria de Meio Ambiente - ASSEMA. Por decisão da Assembleia, também puderam participar da criação da ASIBAMA os servidores da Superintendência da Pesca - SUDEPE.

A Associação dos Servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis no Distrito Federal, ASIBAMA-DF, surgiu como uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de caráter associativo, cultural, recreativo e de classe, com personalidade jurídica de direito privado.

A Assembleia de criação da ASIBAMA aconteceu no auditório da sede nacional do IBAMA, e contou com a participação de grande número de servidores, que após aprovação do estatuto da entidade escolheram por unanimidade a diretoria provisória que deveria preparar as eleições, dentro do prazo de um ano, para definirem os rumos dessa instituição que surgiria e faria história juntamente com o recém-criado Instituto ambiental.

A 1ª Diretoria da ASIBAMA-DF foi composta da seguinte forma: Marisia Dias Oliveira (presidente), Dalvacir Evaristo Cunha Reis (vice-presidente), Ailton Gustavo Rodrigues (diretor financeiro), João Batista Ferreira (diretor administrativo), Wilson Miguel da Fonseca (diretor sociocultural) e Hermínio Lacerda de Lima (diretor esportivo).

Para comporem o 1º Conselho Fiscal da ASIBAMA-DF foram igualmente eleitos os presidentes das três Associações fundadoras (ASIBDF, ASSEMA e ASSHEVEA), respectivamente: Lindalva Ferreira Calvacanti, João Batista Monsã e Manuel Lima Feitosa. Para os seus suplentes foram escolhidos os vice-presidentes, respectivamente: Luiz Fernando Cardoso da Cruz, Joaldo Bezerra da Costa e Adalberto Iannuzzi Alves.

Em 1990, Marisia coordenou o processo sucessório que elegeu a chapa da geógrafa Ana Maria Evaristo Cruz como presidente da Associação.

Nesse mesmo ano, ela mudou-se para trabalhar no Escritório Regional do IBAMA em Barreiras, oeste da Bahia, aonde nasceu seu segundo filho: Tiago Dias Oliveira .

Desde que iniciou sua atuação no IBAMA, ela sempre teve preferência pela fiscalização. Teve que superar muitos obstáculos e preconceitos, pois ainda hoje não é comum a presença feminina nessa atividade.

Em Barreiras, Marisia Dias fortaleceu a presença do órgão, atuando de maneira intensa nos 32 municípios na jurisdição do Escritório Regional do IBAMA. Combateu intensamente o tráfico de animais silvestres nas feiras-livres do município. Reduziu os índices de desmatamento e o comércio ilegal de madeira e carvão vegetal. Em parceria com a Colônia de Pescadores promoveu a distribuição de Carteirinhas de Pesca para mais de 3.000 moradores da região. Além de buscar a legalização da atividade pesqueira, a equipe de fiscais e técnicos apoiava ações de educação ambiental para conscientizar a população sobre a preservação dos recursos naturais. Em razão dessas ações, rapidamente se tornou conhecida e admirada como uma gestora eficiente e correta no cumprimento de suas obrigações funcionais.

Em 1993, retornou para Brasília, justamente quando aconteciam as protestos dos “caras-pintadas” – um movimento de jovens que pedia o Impeachment do presidente Fernando Collor de Melo. Marisia chegou e participou dos protestos. Permaneceu lotada no Departamento de Fiscalização (DEFIS), onde assumiu a chefia da Divisão de Operações de Fiscalização, empreendendo seu estilo de trabalho intenso no combate aos ilícitos ambientais.

Em 1997, mudou-se para Porto Velho (RO), aonde coordenou por dois anos a equipe de fiscalização estadual.

Foi convocada pelo então presidente do IBAMA, Eduardo Martins, como interventora no Escritório na cidade de Ji-Paraná. Foi para passar apenas três meses, acabou ficando alguns anos.

Em 2002, Marisia Dias assumiu recém-criada Gerência Executiva (GEREX) de Ji-Paraná, permanecendo até 1º de abril de 2003.

Ao deixar o cargo, retornou para Porto Velho, onde permaneceu atuando na fiscalização até se aposentar em julho de 2013.

Atualmente, Marisia está vivendo com sua família em Brasília, sempre acompanhando o dia a dia dos acontecimentos do IBAMA.

A vida de Marisia é um espelho da ASIBAMA. Ela sempre teve uma vida de lutas e superações. Ainda criança empreendeu uma longa jornada atravessando o sertão para se tornar uma das pioneiras da nova capital federal. Aprendeu cedo a trabalhar duro para conquistar seus objetivos, e para ajudar familiares e amigos.

Teve que superar a grande perda de seu pai. Estudou em uma universidade de qualidade, mas nunca deixou de atuar em movimentos populares para mudar a realidade política da nação.

Por onde passou deixou sua marca como profissional diferenciada e competente. Fez muitas amizades e conquistou resultados significativos em diferentes áreas.

São inúmeras as pessoas que admiram sua valorosa trajetória. E não tenho dúvidas que seus filhos e netos (Gabriel e Guilherme), sempre vão ter muitos motivos para se orgulhar dessa biografia tão rica e honrada.

Marisia Dias Oliveira teve o privilégio de ser uma das fundadoras da ASIBAMA-DF, que no decorrer desses 25 anos acumulou muitas histórias de lutas e conquistas em prol dos servidores de carreira ambiental como da construção das políticas públicas de proteção da natureza do Brasil!!!

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Brasília – DF, Março de 2015.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 27/09/2014
Reeditado em 30/03/2015
Código do texto: T4978583
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