NARCEU DE PAIVA FILHO, MEU MESTRE.
Localizada a 74 km de Vitória, a capital do Espírito Santo, Ibiraçu é uma cidade simples mas, linda e produtiva. É aqui que moro e que moram perto de 12 mil habitantes.
Houve uma época em que a dificuldade da Educação era mais política do que administrativa. Pois aqui reinava um certo cuidado em relação a direção das escolas estaduais. Nesta época aqui residia e lecionava (era assim que se dizia antigamente) um professor especial: Narceu de Paiva Filho, que nasceu no município de Baixo Guandu, no Estado do Espírito Santo, em 18/10/1934. Filho de Narceu Alves de Paiva e Maria Alves de Paiva. Fez o Curso Primário em Baixo Guandu. O Curso Ginasial e o 2º grau foram concluídos no Colégio Pan-Americano de Aimorés, Minas Gerais.
Foi seminarista por dois anos, em Manhumirim-MG, desejo de sua mãe.
Aprovado em concurso público para o IBGE, exerceu o cargo de Agente de Estatística a partir de 1955, tendo escolhido trabalhar em Ibiraçu/ES. Porém, quando o IBGE fechou as agências do interior, preferiu deixar o cargo a ter que se mudar para Vitória ou Linhares.
Cursou Geografia, Supervisão Escolar, Orientação Pedagógica, História e Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Colatina/ES. Na UFES, em Vitória, cursou Administração.
Em Ibiraçu, fundou o time “Ibiraçu Esporte Clube” e os extintos Jornais "O Imigrante" e "O Trabalho". Fundou o Curso Ginasial noturno, ministrando aulas de Matemática e Geografia. Na Escola "Nossa Senhora da Saúde" lecionou História e Geografia do Espírito Santo e, em 1969, fundou a Escola de Contabilidade "Pe. José Simionato", na qual lecionou Geografia, tendo formado a primeira turma em 1971. Assim, exercendo o magistério, começou a pesquisar a história de Ibiraçu para ensiná-la aos alunos do referido curso. Foi vereador em Ibiraçu de 1962 a 1966 e de 1966 a 1970.
Recebeu os títulos de “Cidadão” dos seguintes municípios: Ibiraçu, Itaguaçu e João Neiva. Incentivou enormemente o “Círcolo Ibiraçuense de Cultura Italiana”, o folclore e o congo.
Pertenceu à ALEAS - Academia de Letras e Artes da Serra, onde ocupou a cadeira 28. Foi Vice-presidente do Clube dos Poetas Trovadores Capixabas. Pertenceu ainda à Academia de Letras da França e à Galeria dos Trovadores do Brasil. Pertenceu também à Loja Maçônica Rufino Manoel de Oliveira.
Em sua homenagem a Escola Polivalente de Ibiraçu, passou a denominar-se Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio "Narceu de Paiva Filho". Ele era um profissional correto e nós que fomos seus alunos assim o afirmamos. A Banda Musical de Ibiraçu, criada por ele, da qual foi maestro durante bom tempo, também denominou-se “Narceu de Paiva Filho” durante muito tempo,
Fundou o Teatro na paróquia de são Marcos em Ibiraçu, divulgando Ibiraçu além das fronteiras do município.
Em 2002, foi comemorado o "Ano Narceu de Paiva Filho", conforme aprovado no Congresso Nacional da Trova de Brasília.
Narceu nos deixou um rico legado de sua existência: Músicas, poemas, prosas e histórias que nos contam tudo sobre uma Ibiraçu que não chegamos a conhecer, seus personagens e causos. Legado que faz enriquecer todo o conhecimento que temos sobre a Ibiraçu atual e aquela que passaremos a geração futura. Antes de ser poeta era também um boêmio e cantador de serenatas com os amigos.
Em 1963, desiludido com algumas mazelas políticas no município, com a parceria de Arildo Batista (o saudoso Aridin) que musicou os versos, Narceu compôs a valsa a seguir com a letra que se segue:
“SAUDADES DE IBIRAÇU”
"Meu coração vai chorar/quando soar a partida;/em Ibiraçu vou deixar
esta canção minha vida./Ibiraçu das crianças/sempre a brincar na biquinha!
Ibiraçu das lembranças!/Não tens rival és rainha./Ibiraçu, vou partir,
mas eu prometo voltar;/se eu não vier, vou sentir,/eu vou sofrer vou chorar.
Contemplo agora da ermida,/ao som do meu violão/a tua imagem querida,
lugar no meu coração./Adeus amigos queridos/da serenata ao luar;
não deixarei esquecidos/se um dia aqui não voltar.""/
A Cascata, cachoeira existente há alguns quilômetros do centro da cidade, que outrora já foi visitada por turistas de muitas nacionalidades, e que hoje já não tem mais a abundância de águas de outrora, foi cantada pelo professor Narceu, em uma linda valsa em 1972 com o título “CASCATA”
Apaixonado por Ibiraçu, Narceu compôs e musicou em 1975, a marchinha a seguir que hoje é o hino de Ibiraçu.:
“EXALTAÇÃO À IBIRAÇU”
“Ibiraçu, Meu, torrão meu doce lar!
Ibiraçu, Vou morrer se te deixar (bis)
Tuas tardes, seu luar!/Do imigrante uma lição...
Lá na biquinha a garotada.../Eu recordo do passado com emoção.
Que garotas, tão bonitas!/Aos domingos na cascata./Juventude estudiosa,
Madrugada um violão em serenata
Tua gente, tão ordeira!/Lá no outeiro vai rezar
Para a virgem da saúde/Esta terra lá do céu abençoar.”
Em 1977 por ocasião do Centenário da Imigração Italiana de Ibiraçu nosso professor fez o hino do centenário de Ibiraçu. Que intitulou de “CENTENÁRIO DE IBIRAÇU”
Em 1979, Ericina Macedo Pagiola, grande mestra que lecionou até quase setenta anos de idade, (quando, sem condições de prosseguir lecionando, foi obrigada a abandonar a profissão,) morreu de complicações causadas pelo Diabetes. Recebeu homenagem de Narceu com o poema
“PROFESSORA ERICINA”
Em 1985 compôs uma delicada valsinha para a pré-escola da cidade que tinha por professora a filha de dona Ericina a famosa tia Loloi: e chamou de
“JARDIM DANIEL COMBONI”
Em 1981 novamente desiludido com a política local, que armava para ele não ser mais o diretor da escola que tanto amava, compôs a valsa “IBIRAÇU DOS MEUS SONHOS”
Também em 1981, Fez uma valsa para Pendanga, um de seus refúgios preferidos. “Pendanga”
A biquinha, nascente que brota de dentro do morro da COHAB, e serve para uma boa parte da população buscar água para beber (Ricos e pobres bebem água de lá.), foi cantada pelo professor Narceu em 1984 em “BIQUINHA”
Narceu também compôs uma valsa para a sua mãe em 1985,
“PARA MINHA MÃE”
Na carroceria de um caminhão, quase sempre íamos para coqueiral e curtíamos a praia que Ibiraçu não tinha. Narceu demonstra todo o amor por Coqueiral em uma Valsa de 1985:”Coqueiral”
Ajudou a criar o Polivalente. Escola que, quando aqui chegou, era modelo em educação. Tinha Técnicas Agrícolas, Industriais e Comerciais, Educação Para o Lar e várias outras matérias que para nós seus alunos eram diferentes. Ele era exímio diretor. Dotado de excelentes exemplos e portanto digno de ser seguido. Promovia passeios a outros países com as turmas que se formavam, e para conseguir verbas para esses passeios, fazia festivais de cerveja e sorvete, em parceria com os alunos que trabalhavam nos festivais e vendendo as taças e canecos. Tocava violão no recreio, o que o fazia parecer bonachão, mas era muito exigente com uniformes e comportamento.
Sua maior tristeza foi ser destituído desse cargo. Continuou a trabalhar como professor mas não com a mesma alegria. Reinaugurou a escola “Padre José Simionatto", trabalhando com afinco para tentar legalizá-la, até seu fechamento.
Narceu faleceu de insuficiência renal em 05 de março de 1995, depois de muito lutar contra a doença.
Narceu foi digno de muitos louvores e por isso deve estar colhendo no céu, os louros que em vida quase não colheu. Determinado custava a desistir de algo que queria e com seu entusiasmo, conseguia muitos discípulos que o acompanhavam em suas ideias.Tentou educar seus alunos com carinho e rígida disciplina. Amou a educação e mereceu homenagem como nome de uma escola. Triste homenagem por ser póstuma. Foi preciso a doença e a morte para pará-lo. Aqui minha homenagem a este grande vereador, professor, diretor, historiador, boêmio e sonhador entre outros títulos que lhe cabe, que me ensinou a “Levar minha mensagem a Garcia” custe o que custar e nunca dizer não a uma missão .
Obras literárias de Narceu:
"Meu Guandu",
"Ibiraçu, Seu Passado, Sua Gente",
"Ibiraçu de 1955 a 1965",
"Itaguaçu e Sua Gente",
"Homens que fizeram Ibiraçu",
"Famílias Italianas em Ibiraçu",
"O Garoto da Rua Seca" (memórias) , e Baixo Guandu de 1935 a 1955;
"Meus Poemas".
Entre outras...