Flores de Plástico não morrem

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“As flores de plástico não morrem”, repetia insanamente, enquanto aos berros dizia:
"-Quero doar meu corpo para o IML..."

Estava sendo atendida no setor de emergência do atendimento ao magistério Estadual do Rio de Janeiro.
A sua mente catatônica, após a violência que lhe estuprara a maneira simples e educada e os modos quase indígenas,aliados a comiseração e drogas lícitas mal administradas em locais despreparados...

Mergulhou num turbilhão silencioso quando ouviu a palavra INTERNAÇÃO...

Pensou no filho querido, e num rasgo de decência, calou-se ao ouvir do doutor, do qual sequer lembra o nome, que seria encaminhada ”Ao melhor Hospital Psiquiátrico” credenciado ao setor dos servidores públicos...

Afinal, há um bom tempo, seu filho estava aos cuidados, ora da mãe, ora da irmã, ora da avó... E nas vezes que ficava, orando ao lado de sua cama, pedindo que, por favor, ela não morresse, que melhorasse, ela não conseguia reagir...


Após alguns anos desse acontecimento, ela lembra-se que num desses dias, o filho, ajoelhado a seu lado, perguntara:
-Mãe como as pessoas morrem?
Ela disse-lhe:
-Eu creio meu filho, que quando Ele vê que é chegada a hora, Ele chama...
O filho, quase chorando, lhe pedira:
- Mãe, por favor, se Ele chamar você, finja que não está ouvindo!

...
E foi em estado de choque que o amor ao filho a levou  a engolir sem gritar e ser levada, sem precisar ser amarrada, mas devidamente "sedada" ao “Melhor Hospital”do Estado do Rio de Janeiro...
Ela acreditou que sairia melhor...

Hospital localizado, soube depois, no Rio Comprido.

Foram cinco dias no Inferno!

Sujeira, cobertores fétidos, banheiros sem portas, banhos sem supervisão... As roupas que lhe trouxeram foram roubadas e divididas entre as pacientes, que rondavam...

Houve logo na primeira noite um incidente...
Seus cigarros haviam acabado.
Pediu a enfermeira. Ela ao invés de um sedativo disse que se insistisse em querer cigarros (- Cigarros só na visita!),chamaria o doutor e lhe dariam choques.

Ela "pensou" que talvez o médico fosse mais razoável. Quando ele veio, após perguntar o que ela queria e dizer algumas palavras que o tempo apagou veio a resposta em aflição e pavor:
- “Quero ir para casa!”

Aí foi “contida”...
Levada a um local onde ele lhe colocou fios atrás das orelhas e enquanto aplicava (várias vezes) a descarga, repetia: - Nunca mais faça isso!


Após cinco dias a família, enfim descobriu o “paradeiro” da paciente e assinado uns termos de responsabilidade retiram-na...

Trazia nos braços as marcas da crueldade. Hematomas que ninguém viu, pois o medo e a mente aturdida a impediram de mostrar.
Língua com vários cortes...
Não houvera proteção durante tratamento-punição...


Foi muda e ficou muda cerca de um mês aos cuidados de uma irmã...

Apresentava após esse período, comportamento de rebeldia, diferente daqueles anteriores a essa fatalidade.
Nesse período houve greve estadual e ela estava vomitando muito, com crise biliar, tentou uma licença médica...Foi negada!
Medo da Psiquiatria e outros detalhes omitidos...
Faltou por depressão e disse a diretora que aderira a greve...
Lançadas as faltas...

Inquérito Administrativo, quase perda do emprego e perda salarial!
Rápida, covarde, cruel e sem levar em consideração o filho menor...

 
 
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Interromperam a florada...

Deus, somente Deus, guiou seus passos e a fez abrir a boca no local certo, com a Assistente Social do Setor de Perícias.

Em 1991:
Ressecou e quase morreu. Por desgosto, associada a medicação inapropriada, em crise delirante, creu que poderia voar e , sozinha em casa, lançou-se da sacada do 1º andar.

Havia socorro médico emergencial na cidade em 1991?
Hoje tampouco há!

Sequelas...
Considera-se um bonsai às vezes. Literalmente machucada não alcançou a estatura de suas metas na profissão.
 
E relembra hoje:
“A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem”


 
**Texto da coletânia de INEZTEVES intitulada:
No Limiar da Loucura

 
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Flores de plástico não morrem
Saiba mais, conheça os outros textos:
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INEZTEVES, IASERJ e SEERJ
Enviado por INEZTEVES em 22/09/2014
Reeditado em 29/10/2014
Código do texto: T4971416
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