Entrevista com Tânia Barros
Entrevista com Tânia Barros, Formada em Letras pela UFF, Escreve contos, poesias, crônicas, roteiros, etc. Mora em Niterói, Rio de Janeiro. E tem em seu blog http://arte-bis.zip.net/index.html um canal de expressão.
Tema: Leitura e escrita.
1) Leandro Diniz – Vamos começar com seus projetos, o que tem feito e planejado?
Resposta Tânia Barros : Estou escrevendo mais que nunca contos para a Web.
E como projeto “eterno” busco incentivar a leitura através de artigos que tratam o tema da forma mais abrangente e diversa possível. Um dos projetos atuais é juntar um círculo de colegas em encontros quinzenais para falar de filmes e livros. É uma oportunidade ótima para estar em contato com gente e idéias, fertilizar a mente, o espírito.
2) Leandro Diniz – Como pessoa formada em Letras em uma das faculdade expoentes do Estado do Rio de Janeiro como você vê a estrutura de ensino universitário? Como que ela volta, benéfica ou maleficamente, para a sociedade em termos de profissionais? Influenciando na educação e um maior incentivo na leitura dos adolescentes e jovens.
Resposta Tânia Barros: A UFF é das poucas Universidades Federais que , ainda, oferecem cursos de pós-graduação latu-sensu gratuitos e de bom nível na área de Letras e Educação. Citarei apenas aqueles que tive oportunidade de cursar algumas aulas: Leitura e Produção Textual, e Literatura Infanto-juvenil. São cursos que qualificam melhor o professor do ensino fundamental e médio.
3) Quais projetos do governo, seja o municipal, estadual ou federal na área de propagação de leitores que você acha bons? Acha que o preço dos livros e a política editorial brasileira influencia da baixa leitura brasileira?
Resposta Tânia Barros: O governo pouco atua com políticas constantes e incisivas pelo incentivo à leitura. Os preço dos livros são absurdos, por mais que se venha tentando, ultimamente, aliviar os custos para editores por conta de isenções fiscais
(algumas leis que estão tentando implantar). Há poucas bibliotecas públicas para o tamanho do nosso país e da nossa população. Na época do conhecimento, um país que não priorize a educação de qualidade será sempre escravizado.
4) Melhorando o clima da entrevista, como você começou a ler, seu primeiro livro, você se lembra? Você acha que o ambiente familiar pode influenciar alguém na leitura?
Resposta Tânia Barros: Sempre fui curiosa pelo “objeto” livro. Desde a infância abria os livros que estivessem ao meu alcance, seja em casa, na escola, ou em bibliotecas e livrarias por onde passasse, como quem sabia estar entrando num universo especial ou não. É maravilhoso poder decidir o que é bom, preencher lacunas de aprendizado, fantasiar, imaginar. Os livros me promovem saltos, promovem vôos, promove, consciência, possibilidade de ir além.
Comecei na infância com livros de aventura. Depois vieram os clássicos e os contemporâneos nacionais. Passei a ler filosofia, teatro, e poesia na adolescência, aos 15 anos (era um tanto E.T. rs...). Um pouco depois comecei a pesquisar assuntos de meu interesse como filosofia oriental, um pouco de parapsicologia. Hoje, a Internet nos auxilia em pesquisas, mas se não houver, entre os jovens e crianças, uma leitura crítica dos conteúdos, tudo será apenas cópia, nunca construção de conhecimento.
5) Como educar um(a) filho(a) a ler com tantos atrativos visuais e dinâmicos, como a internet, jogos, vídeo games, televisão etc?
Resposta Tânia Barros: O bom senso é o caminho. Assim como há muita sedução da imagem, da TV, vídeo game, os pais devem ser os primeiros a mostrar, no dia a dia, o ato, o gesto, de parar para ler. Infelizmente tem muita gente que prefere passar o domingo assistindo a um péssimo programa de TV, em lugar de buscar um livro na biblioteca mais próxima de casa, e compartilhar com seus filhos pequenos a aventura da literatura, ou de algum assunto que gostem.
6) Escrever, como que você encara escrever poesias, contos ou crônicas? Tem um desprendimento de energia diferente para cada um? Quanto demoras preparando em sua mente um texto?
Resposta Tânia Barros: O Poema flui diferente. É como uma explosão, um big bang.
Crônica e conto vão se formando, percebo seu processo, e há mais revisões. Mas tudo pode mudar de uma hora para outra, e um poema demorar a ser construído, quando uma crônica também pode sair como raio. É relativo.
7) O que pode ser feito a curto prazo para inverter esse quadro caótico de pessoas sem cultura alguma de leitura e pessoas que não sabem nem escrever uma linha coesa e expressar suas idéias mais básicas?
Resposta Tânia Barros: Só acredito em mudanças em curto prazo no âmbito individual. Em termos de política cultural, nacional, só há mudanças em médio prazo. Temos iniciativas como a instituição da Câmara Setorial do Livro e Leitura, do Fundo Pró-Leitura, campanhas de estímulo à leitura no rádio e televisão, a formação de agentes de leitura e caravanas de escritores, e, do Plano Nacional do Livro e Leitura e das diretrizes básicas de uma Política Nacional do Livro, Leitura e Bibliotecas para os próximos 20 anos. Hábitos coletivos não mudam de um dia para a noite. É um processo de participação de toda a sociedade também. A sociedade civil sabe se mobilizar quando quer. Precisamos de Feiras de livros em pequenas, médias, e grandes cidades, aos montes. Precisamos de Rodas de leitura, concursos de crônicas, poesias, contos, nas escolas de ensino fundamental e médio.
A pior pobreza, cujos sucessivos governos no Brasil vêm fomentando na sociedade, é o desleixo para com a educação das nossas crianças e jovens. É um direito sagrado e de todos os bens culturais da humanidade. Isso só se alcança com um leitor crítico, e que também através da escrita, seu texto, possa interagir no meio em que vive.
Por Leandro Diniz, em 02/09/2005