Biografia de MOACIR BUENO ARRUDA
Moacir Bueno Arruda é conhecido pelos seus colegas como o presidente “intelectual” da ASIBAMA, graças ao seu extenso currículo profissional como pesquisador, professor universitário, gestor público, sindicalista político-partidário e militante socioambiental!!!
É realmente impressionante o leque de atuações que esse destacado servidor público se envolveu ao longo de sua carreira com mais de quarenta anos nas áreas de cidadania e ecologia.
Moacir nasceu no interior de São Paulo, na cidade de Presidente Prudente, filho de Mariano Bueno de Arruda e Maria Polli Arruda; teve como irmãos Milton, Marina, Mauro e Marcos.
Cresceu no seio de uma família de ferroviários que atuavam na operação da Estrada de Ferro Sorocabana, que era o transporte usado para escoar os produtos agropecuários, tais como: café, algodão, carne e madeira. Sua mãe foi professora e filha de imigrantes da cidade de Treviso, região próspera do Norte da Itália.
Seus estudos de níveis básico e médio foram realizados no Colégio Estadual Comendador Tannel Abbud, a melhor escola pública de Presidente Prudente que fervilhava com as contradições políticas e de costumes dos anos 1960. Nessa década o Brasil passava por grandes transformações sociais e econômicas. Estava se tornando um país urbano com a crescente migração de moradores do campo para as cidades, o processo de industrialização estava a todo vapor, e a influência de diversos movimentos populares dos Estados Unidos e da Europa mexiam com a juventude brasileira. Surgimento do Rock n´ Roll, movimento hippie, lutas pelos direitos das mulheres, combate ao racismo, protestos pela paz mundial, polêmicas envolvendo a guerra fria, entre tantas outras questões são um exemplo da efervescência cultural e política dos anos sessenta.
Por outro lado, nosso país vivia a ditadura militar. Moacir e seus amigos do Colégio Tannel Abdub já tinham sensibilidade e atuavam no movimento secundarista, incomodados com o autoritarismo político dos militares.
Desse grupo, vários colegas se destacaram passando em vestibulares em conceituadas instituições de ensino superior: Universidade de São Paulo (USP), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ). Em 1969, Moacir ingressou no curso de Ciências Biológicas no campus da USP de Presidente Prudente.
Em 1971, realizou sua primeira pesquisa sobre ecologia animal, quando estudou as relações ecológicas de duas famosas formigas cortadeiras, as saúvas, das espécies Atta capiguara e Paratrochina fulva. Essas formigas são consideradas pragas pelos fazendeiros e proprietários rurais, pois elas atacam as plantações e pomares causando enormes prejuízos. Em sua primeira pesquisa como Biólogo, Moacir estudou essas espécies buscando a solução aos problemas provocados pelas saúvas na produção do campo. Já no seu começo como pesquisador ele foi moldando seu interesse da pesquisa na resolução de problemas. Enquanto muitas pesquisas eram focadas apenas no estudo específico de alguma planta ou animal, Moacir teve o privilégio de iniciar suas investigações de modo aplicado, tentando entender as relações bicho-planta-homem, fazendo surgir daí um senso mais crítico e contextualizado como estudioso.
Além disso, Moacir também gostava de se envolver com os problemas de ordem política e social da universidade. Ele foi presidente do Centro Acadêmico Isaac Newton no biênio 1972/73.
Em 1974 mudou-se para São Paulo, capital, para ingressar no curso de mestrado em Oceanografia Biológica da USP, onde realizou pesquisas sobre relações ecológicas entre peixes e crustáceos, com a orientação do Prof. Dr. Plinio Soares Moreira, então Diretor do Instituto de Oceanografia (IOUSP). E simultaneamente, realizou o segundo curso de graduação, em Geografia, na USP. Época em que usufruiu dos ensinamentos dos professores Paulo Nogueira Neto, Aziz Ab’Saber, Paulo Sawaya, Nanuza Menezes, Leopoldo Magno Coutinho, Yara Novelli e Roberto Tomazzi – grandes intelectuais que influenciaram uma geração de estudantes que no futuro se tornariam protagonistas em várias áreas da sociedade brasileira.
Por meio de concurso, ingressou no Banco do Brasil em 1974 e passou a trabalhar na escala noturna para custear os seus estudos. Aí iniciou suas atividades no Sindicato dos Bancários de São Paulo como diretor, na gestão que foi, então, presidida pelo bancário do Banespa, Luiz Gushiken durante os anos de chumbo.
Em 1979, Moacir mudou-se para belíssima cidade de Fortaleza, para tomar posse como professor do curso de bacharelado em ecologia do departamento de geografia da Universidade Estadual do Ceará. Lá permaneceu até 1981 onde conheceu o Prof. Ignacy Sachs e mudou-se para Paris para estudar no Centro de Estudos em Ecodesenvolvimento da Escola de Altos Estudos da França. Após a conclusão do estágio, mudou-se para a cidade de Toulouse no sul da França. Empreendeu, à época, viagens com incursões pela Europa, África e Ásia.
Moacir já tinha uma formação profissional de qualidade, pois cursara o segundo grau em uma excelente escola pública de Presidente Prudente, possuía dois cursos superiores e mestrado na USP, tinha trabalhado na maior empresa bancária nacional, tornara-se professor universitário. Entretanto, além de tudo isso, teve o privilégio de ser pupilo de um dos maiores pensadores contemporâneos, prof. Ignacy Sachs, conhecendo na década de 1980 os conceitos embrionários do desenvolvimento sustentável em sua passagem pelo continente europeu.
Regressou da Europa em 1982 e passou a morar em outra capital nordestina – desta vez em São Luiz do Maranhão, onde juntou-se ao Dr. Warvick Estevan Kerr que havia organizado o primeiro semestre do curso de Biologia na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Colaborou nos estudos de diagnóstico ecológico e ambiental do Golfão Maranhense (Baia de São Marcos) onde se instalava o Porto de Itaqui.
Moacir retornou a São Paulo em 1983 e ingressou na Companhia Estadual de Saneamento Ambiental (CETESB), que foi um dos primeiros órgãos estaduais a tratarem dos impactos ambientais. Na CETESB, ele teve oportunidade de trabalhar durante a gestão do Governador André Franco Montoro com distintos ambientalistas, tais como: Moema Viezzer, Mário Mantovani, Lucio Gregory, Kazue Matsushima, Fredmar Correa e José Pedro de Oliveira. Implantaram os primeiros projetos de educação ambiental e revegetação das encostas da Serra do Mar que havia sido destruída pela chuva ácida dos parques industriais de São Paulo e Cubatão. Moacir participou do incipiente movimento ambientalista da época escrevendo artigos críticos ao projeto do aeroporto internacional para a região de Caucaia do Alto na Mata Atlântica que foram publicados na Revista Nova Stela da USP, bem como, pelo movimento organizado pela ONG OIKOS liderado pelo ambientalista Fábio José Feldman (fundador da Fundação SOS Mata Atlântica), além dos professores da USP Aziz Ab’Saber, Nanuza Menezes e José Pedro de Oliveira.
Nova mudança, agora para Florianópolis – SC. Em 1985, foi aprovado em concurso para trabalhar no Governo de Santa Catarina, durante a gestão do governador Esperidião Amin Helou Filho. Trabalhou inicialmente na Fundação do Meio Ambiente (FATMA). Em seguida tomou posse na Secretaria Estadual de Educação, onde coordenou a implantação do Programa Estadual de Educação Ambiental.
Em Florianópolis, Moacir foi pioneiro no Movimento Ecológico Livre (MEL) e criou a Assembleia Permanente Ecologista de Santa Catarina (APE), que envolviam diversas entidades e movimentos populares para tratar de temas ambientais.
Também colaborou com os estudos para a criação e planejamento da Estação Ecológica de Carijós, que é uma Unidade de Conservação administrada pelo governo federal. Pela qualidade técnica de seu trabalho, ele foi convidado para ser o primeiro chefe da ESEC Carijós pelos dirigentes da SEMA – Secretaria Especial do Meio Ambiente vinculada ao Ministério do Interior (MINTER). Nesse ano foi selecionado para participar do Curso de Especialização em Educação Ambiental na Universidade de Brasília (UnB) e organizado pela SEMA.
Em todos os lugares que Moacir chegava, não lhe faltavam convites e oportunidades para desenvolver seus talentos.
Logo que chegou à capital federal, Moacir foi selecionado para o Curso de Mestrado em Ecologia da Universidade de Brasília, sob orientação do Prof. José Maria de Almeida e desenvolveu a dissertação com o tema “Ecologia e Antropismo na região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Estado do Piauí”.
Quando estava no meio de seu mestrado, Moacir viu o nascimento do IBAMA, pela Lei nº 7.735 de 22 de fevereiro de 1989, durante o mandato do Presidente José Sarney, que ocorreu pela fusão da SEMA com outros três órgãos federais: Superintendência da Borracha (SUDHEVEA), Superintendência da Pesca (SUDEPE) e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).
Moacir tinha a opção de permanecer como servidor do governo de Santa Catarina ou fazer parte do recém-criado Instituto. Optou pelo reenquadramento, aconselhado pelos amigos Alvamar de Queiroz, Genebaldo Freire e Joaldo Bezerra.
Naquela época, o IBAMA contava em seu organograma com a Diretoria de Pesquisa (DIRPED), que apoiou financeiramente o trabalho de campo que Moacir realizou percorrendo as cavernas e sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra da Capivara, declarado pela UNESCO em 1991 como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Dando sequência ao seu esforço em capacitação, Moacir foi selecionado para a realização do Doutorado em Ecologia pela UnB, sob a orientação da Profª. Dóris Santo e desenvolveu a tese com o título “Representatividade ecológica com base na biogeografia de biomas, ecótonos e ecorregiões continentais do Brasil – O caso do bioma Cerrado”. Foram realizados estudos “Sandwiche” no Japão.
Mesmo estando bastante envolvido com pesquisas, Moacir nunca deixou de lado sua atuação em movimentos sociais e na luta de classe como ativista ambiental.
Participou ativamente na criação e das atividades da Associação de Servidores do IBAMA (ASIBAMA) durante toda sua carreira.
Em 1992, foi ao Rio de Janeiro para participar da Rio 92, Conferência Mundial de Meio Ambiente, organizada pela ONU. Para aquele evento histórico, a então presidente da ASIBAMA, Ana Maria Evaristo Cruz, organizou uma excursão rodoviária alugando diversos ônibus para levar os membros da Associação. Durante a viagem eles iniciaram as articulações para a próxima eleição da Diretoria da ASIBAMA, período 92/94. Formou-se um bom time com Moacir – presidente; Leda Famer, vice-presidente; Mariomir, Dilson, Ivone e Luzia que tomou posse em 21 de agosto de 1992.
Foi um período conturbado com grande arrocho salarial, muitas greves e paralizações. Por outro lado, instigante e fecundo. A Diretoria da ASIBAMA desse período e todos os associados deixaram como legado as seguintes conquistas:
a) Realização do Primeiro Congresso dos Servidores do IBAMA, de 14 a 18 de março de 1994, na FLONA de Ipanema - SP, cujo relatório aponta diversas propostas de pauta aprovadas, como a criação do Departamento de Meio Ambiente, vinculado à CONDSEF, criação da gratificação por titularidade, dentre outras. Nesse Congresso, Moacir apresentou a proposta de criação da ASIBAMA nacional que não foi aprovada. b) A ASIBAMA conseguiu a aprovação da inclusão dos servidores do IBAMA na Carreira de Ciência e Tecnologia no Congresso Nacional (Projeto de Lei 3.170/92, que inexplicavelmente, foi vetado pelo Planalto, do então, Presidente Itamar Franco. c) Criação da biblioteca sobre meio ambiente, disponível aos servidores na área de laser. d) Introdução de palestras e debates sobre temas ambientais durante as paralizações e greves. e) Publicação da Folha do Meu Ambiente, - tabloide com artigos e informações sobre a carreira e políticas ambientais; e o Ciclo de Debates Ambientais, com palestrantes externos convidados, que originou a criação do CDS - Centro de Desenvolvimento Sustentável, em parceria com a UnB. f) Criação do Coral do IBAMA, Grupo de teatro amador ECAlogia e as Quintas Musicais. g) Excelentes relações trabalhistas com os trabalhadores da ASIBAMA.
Desde que ingressou no IBAMA permaneceu lotado na Diretoria de Ecossistemas (DIREC) por quase 20 anos, saindo apenas quando ocorreu em 2007 o desmembramento dessa pasta com a criação do Instituto Chico Mendes (ICMBio).
Como biólogo do IBAMA e ICMBio, Moacir teve oportunidade de participar e coordenar relevantes projetos e ocupar vários cargos em comissão, conforme destaca-se a seguir: Programa Nacional do Meio Ambiente – PNMA-Banco Mundial-GTZ, unidades de conservação; Cooperação Internacional JICA-Japão/IBAMA-Brasil, Programas RPPN e Corredores Ecológicos; Cooperação Internacional DFID-Grã-Bretanha-IBAMA-Embrapa-UnB, Projeto CMBBC; Implementação do Programa de Corredores Ecológicos: Itenez-Guaporé; Araguaia-Bananal; Paranã-Pirineus; Jalapão-Mangabeiras; Rio Paraná; Caatinga e Resolução Conama que instituiu os Corredores Ecológicos; Projetos de definição das Ecorregiões dos biomas brasileiros, em cooperação com o WWF, TNC e Universidades, especialmente, as Ecorregiões do bioma Cerrado; Representante do Ibama na implementação dos Estudos de Representatividade Ecológica por biomas; Criação de Unidades de Conservação, p.e.: ESEC Carijós – SC, ESEC Serra Geral do Tocantins (Jalapão), APAS Costa dos Corais – PE-AL, Meandros do Rio Araguaia – TO-GO; Chapada do Araripe - CE–PE, Várzeas do Rio Paraná – MS-PR, PARNA Serra da Cutia, RO, RESEX Rio Cautário – RO; Elaboração da ENCEA – Estratégia Nacional de Educação Ambiental em Áreas Protegidas, dentre outros.
A partir de 2009, Moacir foi convidado para colaborar como gestor junto ao Governo do Distrito Federal, tendo ocupado vários cargos comissionados, tais como, Presidente do Instituto Brasília Ambiental (IBRAM), Subsecretário de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Resíduos Sólidos, Presidente do Conselho de Recursos Hídricos do GDF.
Ao longo da sua carreira, Moacir teve sua atividade acadêmica desenvolvida com pesquisas, projetos de extensão e docência em graduação e pós-graduação, com orientação e/ou julgamento de teses, dissertações e monografias em diversas universidades federais, estaduais e particulares (UFSC, UFCE, UnB, Uniceub etc.).
É considerado um dos maiores intelectuais e pesquisadores da história do IBAMA, tendo publicado artigos em diversas revistas científicas e dezenas de livros, dentre os quais destaca: Os verdes na Alemanha Ocidental (1984); Conservação, Ecologia Humana e Sustentabilidade na Caatinga – Estudo da região do Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí (1994); Ecossistemas brasileiros (1997); Roteiro Metodológico para a Gestão de Áreas de Proteção Ambiental (2001); Gestão Ambiental no Brasil (2002); Expedição Científica e Conservacionista ao Jalapão (2002); Corredores Ecológicos – Gestão integradora de ecossistemas (2004); Representatividade ecológica com base na biogeografia de biomas, ecótonos e ecorregiões continentais do Brasil – O caso do bioma Cerrado (2005); Gestão integrada de ecossistemas aplicada a Corredores Ecológicos (2006); Mudanças climáticas – Como colaborar para reduzir o aquecimento no Brasil (2008).
Desde que chegou a Brasília, Moacir continuou militando no movimento social ambientalista como pioneiro na ONG Patrulha Ecológica, 1987; fundou a REAL-DF, Rede de Entidades Ambientalistas do Distrito Federal em 1991; foi eleito o primeiro representante do movimento ambientalista para o CPA – Conselho de Política Ambiental do GDF (hoje CONAM – Conselho de Meio Ambiente do GDF) em 1991; fundou e presidiu o Fórum de ONG do Distrito Federal a partir de 1992; participa ativamente do IPAN – Instituto PanAmericano do Ambiente e Sustentabilidade.
Como reconhecimentos aos seus valiosos serviços prestados a causa ambiental, recebeu diversas homenagens: 1) Medalha de Ordem do Mérito Imperador Dom Pedro II; 2) Moção de Louvor, concedida pela Câmara legislativa do Distrito Federal; 3) Medalha de Mérito Cidadão Candango 2012, concedida pelo GDF, dentre outras.
Moacir aposentou-se do ICMBio em agosto de 2013 e continua atuando como biólogo, docente e militante dos movimentos sociais e sindicais.
Muita gente às vezes não entende bem qual a razão da força e destaque que a ASIBAMA possui, pois só quem conhece de perto os profissionais que fizeram e fazem parte da construção dessa importante instituição no decorrer desses 25 anos compreende isso.
Conhecer a história de Moacir Bueno Arruda é um dos meios mais fáceis para se entender as qualidades e talentos diversos que tornam a ASIBAMA um exemplo positivo para todo Brasil!!!
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Brasília – DF, Setembro de 2014.
Giovanni Salera Júnior
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187
Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior