PARNASIANISMO - ALBERTO DE OLIVEIRA
ALBERTO DE OLIVEIRA - parnasiano
ANTONIO MARIANO ALBERTO DE OLIVEIRA
* 1857 – Palmital de Saquarema – Estado do Rio de Janeiro
+ 1937 – Niterói
O nome Alberto foi adotado depois
VIDA
Foi professor de Literatura, funcionário público, inspetor escolar, poeta
- formado em Farmácia mas não exerceu profissão
- viveu na capital da República longe das agitações literárias e da boemia
COMENTÁRIOS
- Grande leitor dos clássicos, conhecedor da língua, mestre da versificação, foi por muitos considerado o mais perfeito ou o mais característico dos parnasianos brasileiros.
- Iniciou sua carreira literária ao tempo das lutas anti-românticas, projetou-se logo como integrante da “trindade parnasiana”, afeiçoou-se depois à sensibilidade simbolista e quando estourou o movimento modernista não se mostrou tão reacionário como seus confrades da Academia Brasileira de Letras diante da irreverência dos jovens de 1922.
- Atravessando diversas correntes estéticas, é como parnasiano que Alberto de Oliveira deve ser apreciado, pelo que criou dentro da Escola e pelo magistério que exerceu sobre seus colegas.
- Em Canções Românticas, sua estréia em 1978, apresenta ainda feições românticas, apesar da severidade na técnica e sobriedade das imagens.
- Meridionais o firma no Parnasianismo em 1884
- Um dos mais fiéis seguidores da estética “arte pela arte”
- Sua obra é composta de poesia
OBRAS
POESIA
- Canções Românticas – 1878 – estréia
- Meridionais – 1884 – firma-o no Parnasianismo
- Sonetos e Poemas – 1885
- Versos e Rimas – 1895
- Poesias Completas (os anteriores, menos o primeiro) – 1900
- Poesias – 2ª série – 1906, 3ª série – 1913, 4ª série – 1927.
- Póstuma – 1944 (Além de várias antologias, as últimas em colaboração com José Jobim)
CARACTERÍSTICAS
1 – Técnica de composição apurada
2 – Ritmo elegante, vocabulário exato, rimas trabalhadas
3 – Não se demorou na análise do sentimento humano – preocupação em apresentar paisagens coloridas
4 – discípulo de Heredia e Gautier – identificado com a natureza – beleza da descrição aliada à simplicidade e ao sentimento amoroso, sutil.
5 – Vista de longe, sua obra parece conter dois defeitos contrários: prosaísmo e preciosismo.
6 – Sentimento angustioso de pesadelo que aparece do começo ao fim na sua obra – indício de inquietação maior.
7 - Poesia simples – temas da natureza
COMPOSIÇÕES CONSAGRADAS
- Vaso Grego,
- Vaso Chinês
- Aspiração
- O Muro (É um velho paredão, todo gretado / Num canto em flor ensangüentado / E num pouco de musgo em cada fenda)
- Alma em Flor
- A Voz das Árvores:
Acordo à noite assustado
Ouço lá fora um lamento
Quem geme tão tarde? O vento,
Não. É um canto prolongado
- Hino imenso a envolver toda a montanha
***
TAÇA DE CORAL
Lícias, pastor — enquanto o sol recebe,
Mugindo, o manso armento e ao largo espraia.
Em sede abrasa, qual de amor por Febe,
— Sede também, sede maior, desmaia.
Mas aplacar-lhe vem piedosa Naia
A sede d'água: entre vinhedo e sebe
Corre uma linfa, e ele no seu de faia
De ao pé do Alfeu tarro escultado bebe.
Bebe, e a golpe e mais golpe: — "Quer ventura
(Suspira e diz) que eu mate uma ânsia louca,
E outra fique a penar, zagala ingrata!
Outra que mais me aflige e me tortura,
E não em vaso assim, mas de uma boca
Na taça de coral é que se mata"
***
VASO CHINÊS
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
***
ASPIRAÇÃO
Ser palmeira! existir num píncaro azulado,
Vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando;
Dar ao sopro do mar o seio perfumado,
Ora os leques abrindo, ora os leques fechando;
Só de meu cimo, só de meu trono, os rumores
Do dia ouvir, nascendo o primeiro arrebol,
E no azul dialogar com o espírito das flores,
Que invisível ascende e vai falar ao sol;
Sentir romper do vale e a meus pés, rumorosa,
Dilatar-se a cantar a alma sonora e quente
Das árvores, que em flor abre a manhã cheirosa,
Dos rios, onde luz todo o esplendor do Oriente;
E juntando a essa voz o glorioso murmúrio
De minha fronde e abrindo ao largo espaço os véus
Ir com ela através do horizonte purpúreo
E penetrar nos céus;
Ser palmeira, depois de homem ter sido esta alma
Que vibra em mim, sentir que novamente vibra,
E eu a espalmo a tremer nas folhas, palma a palma,
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra:
E à noite, enquanto o luar sobre os meus leques treme,
E estranho sentimento, ou pena ou mágoa ou dó,
Tudo tem e, na sombra, ora ou soluça ou geme,
E a distendo, a subir num caule, fibra a fibra;
Que bom dizer então bem alto ao firmamento
O que outrora jamais — homem — dizer não pude,
Da menor sensação ao máximo tormento
Quanto passa através minha existência rude!
E, esfolhando-me ao vento, indômita e selvagem,
Quando aos arrancos vem bufando o temporal,
— Poeta — bramir então à noturna bafagem,
Meu canto triunfal!
E isto que aqui digo então dizer: — que te amo,
Mãe natureza! mas de modo tal que o entendas,
Como entendes a voz do pássaro no ramo
E o eco que têm no oceano as borrascas tremendas;
E pedir que, o uno sol, a cuja luz referves,
Ou no verme do chão ou na flor que sorri,
Mais tarde, em qualquer tempo, a minh'alma conserves,
Para que eternamente eu me lembre de til
***
A VINGANÇA DA PORTA
Era um hábito antigo que ele tinha:
Entrar dando com a porta nos batentes.
— Que te fez essa porta? a mulher vinha
E interrogava. Ele cerrando os dentes:
— Nada! traze o jantar! — Mas à noitinha
Calmava-se; feliz, os inocentes
Olhos revê da filha, a cabecinha
Lhe afaga, a rir, com as rudes mãos trementes.
Urna vez, ao tornar à casa, quando
Erguia a aldraba, o coração lhe fala:
Entra mais devagar... — Pára, hesitando...
Nisto nos gonzos range a velha porta,
Ri-se, escancara-se. E ele vê na sala,
A mulher como doida e a filha morta.
***
VASO GREGO
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que o suspendia
Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois... Mas, o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
***
HORAS MORTAS
Breve momento após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.
Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.
Chegas. O ósculo teu me vivifica
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;
E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.
***
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