Pesadelo sem fim
O que fazer quando essas lembranças vêm à tona em meus pensamentos?
Lembranças que só me fazem sofrer,
Que trazem toda a tristeza e angustia em que eu vivi.
Lembranças do pesadelo da minha vida,
Dos piores dias e meses que eu poderia ter vivido.
Dia 13 de agosto de 2010, nesse dia começava o meu pesadelo.
Uma semana de pura agonia e acima de tudo esperança,
esperança de que ela iria voltar pra casa,
ter que ir pra escola de cabeça erguida como se nada estivesse acontecendo,
todos me perguntando o que ela tinha,
e eu sempre me fazendo de forte e dizendo que ela ia ficar bem,
Enquanto isso na ida para escola no ônibus,
as lagrima escorriam silenciosas e doloridas,
Cada dia uma tortura,
cada dia a esperança de que ela iria voltar para casa,
Mesmo na escola, meus pensamentos estavam sempre nela,
Nas aulas eu tentava prestar atenção na matéria,
enquanto segurava as lagrimas,
O meu maior medo estava prestes a acontecer,
Depois de uma longa e dolorosa semana,
eu fui visita lá na UTI, a pior sena que eu poderia ver,
ela estava em coma e respirando só pelos aparelhos,
Eu como sempre me fazendo de forte,
me aguentei para não chorar,
mais uma vez segurei as lagrimas para que ela não ouvisse,
porque eu tenho certeza que ela estava me ouvindo,
Não consegui falar tudo o que eu queria,
só consegui chamar ela pela ultima vez de mãe,
com a esperança que ao ouvir a minha voz ela iria acordar,
não fiquei muito tempo no quarto,
já não estava aguentando segurar o choro.
A médica chamou minha irmã para explicar como ela estava,
e quando ela saiu da sala, saiu chorando, e nos abraçamos,
nesse momento eu desabei,
a doutora falou que ela não iria aguentar,
que já não tinha muito o que fazer,
só com um milagre para ela sobreviver.
Eu me sentei na sala de espera e não parava de chorar,
e nunca vou esquecer de uma mulher que estava lá,
sem nem me conhecer me abraçou e me consolou,
ela também estava com um parente na UTI.
Como já era tarde e eu não podia ficar no hospital tive que ir embora,
como esperado, eu não consegui dormir, quando foi umas 22:00 minha irmã e meu pai chegaram, eles não ficaram no hospital, depois eu consegui pegar no sono por uma meia hora só e o celular da minha irmã tocou, já era mais ou menos 00:00, era do hospital e chamaram pelos familiares, na hora eu já sabia que algo de ruim tinha acontecido, eu fiquei muito aflita, eu ligava toda hora pra saber noticia mas eles não me falavam quase nada pra não me deixar mais aflita ainda, mas eu senti uma pontada no peito muito forte como se tivessem arrancado um pedaço de mim e nesse momento eu já sabia o que tinha acontecido.
Quando foi umas 4:00 eles chegaram, quando abrimos a porta eles estavam cho-rando e eu também comecei a chorar, o pior já tinha acontecido, me senti como se o meu mundo tivesse acabado junto com ela, nunca chorei tanto na minha vida, todas as lagrimas que havia guardado a tanto tempo já não foram possíveis segu-rar, meu mundo desmoronou minha vida perdeu o sentido.
As 6:00 da manhã foi o velório, tantas pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida, e outras que fazia anos que eu não via, pessoas que não a procuraram em vida foram para se despedir, e isso me deixou pior, pessoas que eu via ela falar que queria muito rever, pessoas que ela sentia muita saudade, nessa hora começou a me dar um acesso de choro, me venho um filme na cabeça, lembranças de eu pe-quena e todos momentos que eu passei com ela, eu só queria chorar, pessoas me abraçando e me falando palavras de conforto, outras se apresentando e dizendo que eram muito amigas dela, eu não estava acreditando no que estava acontecen-do, parecia um pesadelo e a qualquer momento eu iria acordar e íamos estar todos em casa. Na hora em que meu primo que é pastor falou algumas palavras em ho-menagem a ela, me emocionou muito, ele contou varias coisas sobre ela e de quando ela cuidava dele quando pequeno.
O pesadelo só estava começando, depois fomos todos para Piratini a cidade natal dela, para fazer a sua vontade, de ser enterrada junto dos seus pais, os meus avós, lá eu revi mais algumas pessoas que eu não via a anos, e me venho lembranças de eu pequena indo lá com a minha mãe, quando eu fui na casa dos meus tios lá, me deu outro acesso de choro, me venho mais um monte de lembranças, fazia 7 anos que não íamos lá e era tudo o que ela queria, era o sonho dela rever os irmãos, me venho as palavras dela dizendo que ia ver eles só no dia do enterro dela, e eu não estava acreditando que o que ela falou estava acontecendo.
Sim a minha vida daria um filme, são muitas coisas pelas quais eu passei,
foram dois meses na casa da minha irmã mais velha, por que eu não queria voltar pra casa, tendo que ir no ônibus da linha todos os dias para escola mesmo sem ter cabeça para estudar, o primeiro dia em que eu voltei para escola achei que não ia ter coragem, ao chegar na escola todos começaram a me abraçar, e isso me fez eu me sentir um pouco melhor, e nesse dia eu tinha uma prova, e como de esperado não consegui fazer e entreguei em branco pro professor e falei que eu não estava com cabeça para fazer prova, falei quase chorando.
Aos pouco fui sendo obrigada a voltar pra casa, nos primeiros dias foi muito estra-nho, o vazio na casa sem ela, as vez eu até me esquecia do que havia acontecido e na hora de dormir eu pensava em ir no quarto dela para dar o abraço de boa noite como de costume, e só então eu me lembrava de que ela não estava mais aqui, entrar em seu quarto e ver tudo como antes, sua cama arrumada e sem ela era tão difícil, eu só queria poder abraçá-la novamente e dizer o quanto eu a amo, e o quanto é difícil viver sem ela.
A realidade é que nunca estamos preparados para perder uma pessoa tão Próxima, ainda mais a nossa mãe que foi quem nos deu a vida, por mais que eu soubesse que um dia isso iria acontecer eu não esperava que fosse ser tão cedo, é duro ver a pessoa que a gente mais ama partindo e não poder fazer nada, tudo o que eu que-ria naquele momento era partir com ela ou dar a minha vida pela dela, pois a minha vida só tinha sentido com ela.
Hoje mais madura e mais vivida, eu posso dizer que apesar da saudade eu só tenho a agradecer por ter tido ela por 17 anos na minha vida, os melhores anos que eu poderia ter, pois hoje eu sei que tem muitas pessoas que não tem esse privilegio, umas perdem a mãe muito cedo e outras nem chegam a conhecer a mãe, deve ser muito mais difícil viver a vida toda sem ter nenhuma lembrança de sua mãe do que ter muitas recordações para guardar para sempre. E tudo o que eu sou eu tenho que agradecer a ela que me amou e me educou com todo amor do mundo.
Jana Alves