A realeza adormecida

Era uma princesa, que não se sentia como uma. Presa num quarto, na torre mais alta que existia no mundo, ou pelo menos era a mais alta na sua sua mente. Estava presa num quarto mal arrumado, com cinzas de cigarro na roupa de cama escolhida cuidadosamente pelo rei, o cheiro era uma mistura do seu doce perfume de baunilha com a fumaça do cigarro de palha que acabara de tragar. A varanda era como a vista pro mundo que ela tão cedo não conheceria, mas a sua mente era tão sedenta pela liberdade que não importava o quão longe estaria o horizonte, ela poderia alcança-lo para enxergar a sujeira do mundo. Era tanta sujeira que era possível sentir o cheiro pútrido das redondezas do palácio. O cheiro das prostitutas do subúrbio, o cheiro do egoísmo e da selvageria humana. Talvez o que a tivesse mantido no quarto real, era medo de que a liberdade não fosse tão preenchedora como ela idealizara. Ela sentia que a liberdade era uma ameaça ao próprio âmago, era algo tão individual e egoísta e tão solitária quanto a própria solidão que existia em seu peito. Não era só uma solidão, era a dor de não conseguir ignorar as existências macabras do mundo e poder seguir com a sua vida perfeita. Ela estava adoecida pela própria prisão.