Vicente Celestino
ANTÔNIO VICENTE FILIPE CELESTINO
(73 anos)
Cantor, Compositor, Instrumentista e Ator
* Rio de Janeiro, RJ (12/09/1894)
+ São Paulo, SP (23/08/1968) - VIRGEM
Vicente Celestino foi um dos mais importantes cantores brasileiros do século XX.
Nasceu no bairro de Santa Teresa, filho de italianos da Calábria. Dos seis homens (eram onze irmãos), cinco dedicaram-se ao canto e um ao teatro. Desde os 8 anos, por causa de sua origem humilde, Vicente Celestino teve de trabalhar: sapateiro, vendedor de peixe, jornaleiro e, já rapaz, chefe de seção numa indústria de calçados.
Começou cantando para conhecidos e era fã de Enrico Caruso. Antes do teatro cantava muito em festas, serenatas e chopes-cantantes. Estreou profissionalmente cantando a valsa "Flor do Mal" no Teatro São José e fez muito sucesso. Esta música também entrou no seu primeiro disco vendendo milhares de cópias em 1916 na Odeon.
Em 1920 montou uma companhia de operetas, mas sem nunca deixar o carnavalesco de lado, emplacando sucessos como "Urubu Subiu". Rapidamente, depois de oportunidade no teatro, alcançou renome. Formou companhias de revistas e operetas com atrizes-cantoras, primeiro com Laís Areda e depois com Carmen Dora.
As excursões pelo Brasil renderam-lhe muito dinheiro e só fizeram aumentar sua popularidade. Nos anos 20, reinava absoluto como ídolo da canção. Na década de 30 começou a demonstrar seus dotes como compositor resultando em clássicas de seu reportório, como "O Ébrio", sua música mais lembrada até hoje, inclusive transformada em filme por sua esposa.
Vicente Celestino teve uma das mais longas carreiras entre os cantores brasileiros. Quando morreu, às vésperas dos 74 anos, no Hotel Normandie, em São Paulo, estava de saída para um show com Caetano Veloso e Gilberto Gil, na famosa gafieira Pérola Negra, que seria gravado para um programa de televisão.
Na fase mecânica de gravação, fez cerca de 28 discos com 52 canções. Com a gravação elétrica, em 1927, sentiu uma certa inaptidão quanto ao rendimento técnico, logo superada. Aí recomeçaria os sucessos cantados em todo o Brasil.
Vicente Celestino e Gilda de Abreu
Em 1935 foi contratado pela RCA Victor, praticamente daí sua única gravadora até falecer. No total, gravou em 78 RPM cerca de 137 discos com 265 músicas, mais dez compactos e 31 LPs, nestes também incluídas reedições dos 78 RPM.
Vicente Celestino, que tocava violão e piano, foi o compositor inspirado de muitas das suas criações. Duas delas dariam o tema, mais tarde, para dois filmes de enorme público: "O Ébrio" (1946) e "Coração Materno" (1951). Neles Vicente Celestino foi dirigido por sua mulher Gilda de Abreu, cantora, escritora, atriz e cineasta.
Vicente Celestino passaria incólume por todas as fases e modismos, mesmo quando, no final dos anos 50, fiel ao seu estilo, gravou "Conceição", "Creio Em Ti"e "Se Todos Fossem Iguais a Você". Seu eterno arrebatamento, paixão e inigualável voz de tenor, fizeram com que o povo o elegesse como "A Voz Orgulho do Brasil".
Nunca saiu do Brasil e manteve sua voz grave que era marca registrada independente do estilo musical que estava executando. Teve suas músicas regravadas por grandes nomes, como Caetano Veloso, Marisa Monte e Mutantes.
Morte
No dia 23/08/1968, após o jantar, Vicente Celestino subiu para o quarto do Hotel Normandie, em São Paulo. Segundo Gilda de Abreu, sua esposa, ele estava feliz e cantara com entusiasmo: "Abri o peito como havia muito tempo não o fazia. Até os músicos me aplaudiram!". A então viúva narra o último momento de Vicente Celestino, segundo suas memórias:
Abriu a janela, procurando respirar o ar gelado que entrava, mas que não o aliviava [...]. Agarrado a mim, ele disse então a frase que nunca esquecerei:
- Gilda... estou morrendo...
E estava mesmo. Atirando-se de costas sobre a cama, murmurou:
- Meu Deus, mate-me! Mate-me, meu Deus!