Rubem Braga
Rubem Braga (E) e Newton Braga (D) em 1932
"A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser conde."
"Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento."
"O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres. Quando não estava apaixonado por uma em particular, estava apaixonado por todas. Eu o levei para a Globo... Ele escrevia todos os textos que exigiam mais sensibilidade e qualidade, e fazia isto mantendo um grande apelo popular."
RUBEM BRAGA
(77 anos)
Escritor, Repórter, Redator, Editorialista e Cronista
* Cachoeiro de Itapemirim, ES (12/01/1913)
+ RJ (19/12/1990) - CAPRICORNIO
Rubem Braga foi um escritor, irmão do poeta e jornalista Newton Braga. Era considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, em 12 de janeiro de 1913.
Iniciou seus estudos em Cachoeiro de Itapemirim, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, RJ, onde moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano.
Iniciou a faculdade de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais - no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros.
Rubem Braga (E) e Newton Braga (D) em 1932
Na capital mineira se casou, em 1936, com Zora Seljan Braga, de quem posteriormente se desquitou, mãe de seu único filhoRoberto Braga.
Rubem Braga foi correspondente de guerra doDiário Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a FEB na Itália", em 1945, sendo que lá fez amizade com Joel Silveira. De volta ao Brasil morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro. Primeiro numa pensão do Catete, onde foi companheiro de Graciliano Ramos. Depois, numa casa no Posto Seis, em Copacabana, e por fim num apartamento na Rua Barão da Torre, em Ipanema.
Sua vida no Brasil, no Estado Novo, não foi mais fácil do que a dos tempos de guerra. Foi preso algumas vezes, e em diversas ocasiões andou se escondendo da repressão.
Seu primeiro livro, "O Conde e o Passarinho", foi publicado em 1936, quando o autor tinha 22 anos, pela Editora José Olympio. Na crônica-título, escreveu:
"A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser conde."
De fato, quase tanto como pelos seus livros, o cronista ficou famoso pelo seu temperamento introspectivo e por gostar da solidão. Como escritor, Rubem Bragateve a característica singular de ser o único autor nacional de primeira linha a se tornar célebre exclusivamente através da crônica, um gênero que não é recomendável a quem almeja a posteridade.
Certa vez, solicitado pelo amigo Fernando Sabino a fazer uma descrição de si mesmo, declarou:
"Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento."
Foi com Fernando Sabino e Otto Lara Resende que Rubem Braga fundou, em 1968, a Editora Sabiá, responsável pelo lançamento no Brasil de escritores comoGabriel García Márquez, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges.
Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a marca registrada dos texto de Rubem Braga é a "crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza."
A chave para entendermos a popularidade de sua obra, toda ela composta de volumes de crônicas sucessivamente esgotados, foi dada pelo próprio escritor: ele gostava de declarar que um dos versos mais bonitos de Camões, "A Grande Dor Das Coisas Que Passaram", fora escrito apenas com palavras corriqueiras do idioma. Da mesma forma, suas crônicas eram marcadas pela linguagem coloquial e pelas temáticas simples.
Como jornalista, Rubem Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio de Janeiro, de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de O Globo em Paris, em 1947, e do Correio da Manhã em 1950.
Amigo de Café Filho, vice-presidente e depois presidente do Brasil, foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Rubem Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países.
Quando faleceu, era funcionário da TV Globo. Seu amigo Edvaldo Pacote, que o levou para lá, disse:
"O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres. Quando não estava apaixonado por uma em particular, estava apaixonado por todas. Eu o levei para a Globo... Ele escrevia todos os textos que exigiam mais sensibilidade e qualidade, e fazia isto mantendo um grande apelo popular."
Morte
Na noite de segunda-feira, 17/12/1990, o escritor Rubem Braga reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez mais selecionados por ele, na sua cobertura em Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas claramente subentendida pelos amigos Moacyr Werneck de Castro, Otto Lara Resende e Edvaldo Pacote.
Às 23:30 hs da noite de quarta-feira, 19/12/1990, sedado num quarto do Hospital Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho como desejara e pedira aos amigos. A causa da morte foi uma Parada Respiratória em conseqüência de um tumor na laringe que ele preferiu não operar nem tratar quimicamente.
Homenagem
Foi inaugurada no dia 30/06/2010 a terceira saída da estação General Osório do Metrô em Ipanema, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. O novo acesso, que conta com duas torres com dois elevadores ligando a Rua Barão da Torre ao Morro do Cantagalo, recebeu o nome de Complexo Rubem Braga, em homenagem ao escritor que por anos morou na cobertura do prédio vizinho à estação.
Crônica
- 1936 - O Conde e o Passarinho
- 1944 - O Morro do Isolamento
- 1945 - Com a FEB na Itália
- 1948 - Um Pé de Milho
- 1949 - O Homem Rouco
- 1951 - 50 Crônicas Escolhidas
- 1954 - Três Primitivos
- 1955 - A Borboleta Amarela
- 1957 - A Cidade e a Roça
- 1958 - 100 Crônicas Escolhidas
- 1960 - Ai de Ti, Copacabana
- 1961 - O Conde e o Passarinho e O Morro do Isolamento
- 1964 - Crônicas de Guerra - Com a FEB na Itália
- 1964 - A Cidade e a Roça e Três Primitivos
- 1967 - A Traição das Elegantes
- 1988 - As Boas Coisas da Vida
- 1990 - O Verão e as Mulheres
- 200 Crônicas Escolhidas
- Casa dos Braga: Memória de Infância (Público Juvenil)
- 2002 - 1939 - Um episódio em Porto Alegre (Uma Fada no Front)
- Histórias do Homem Rouco
- Os Melhores Contos de Rubem Braga (Seleção Davi Arrigucci)
- O Menino e o Tuim
- Recado de Primavera
- Um Cartão de Paris
- Pequena Antologia do Braga
Romance
- Casa do Braga
Adaptações
- O Livro de Ouro dos Contos Russos
- Os Melhores Poemas de Casimiro de Abreu (Seleção e Prefácio)
- Coleção Reencontro Audiolivro - Cirano de Bergerac - Edmond Rostand
- Coleção Reencontro: As Aventuras Prodigiosas de Tartarin de Tarascon Alphonse Daudet
- Coleção Reencontro: Os Lusíadas - Luis de Camões (Com Edson Braga)
Tradução
- Antoine de Saint-Exupéry - Terra dos Homens.
Sobre Rubem Braga
- Na Cobertura de Rubem Braga (João Castello)
- Rubem Braga (Jorge de Sá)
- Rubem Braga - Um Cigano Fazendeiro do Ar (Marco Antonio de Carvalho)
No volume publicado, também de crônicas, "As Coisas Boas da Vida", em 1988,Rubem Braga enumera, no texto que dá título ao livro "as dez coisas que fazem a vida valer a pena". A última delas: "Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte - o assim chamado descanso eterno".