FRAGMENTOS DO TEMPO – INFÂNCIA III

INFÂNCIA III

Apreciava bastante a companhia do cachorro, gostava de vê-lo balançar o rabo sem parar, movimentar as orelhas, levantar a patinha, correr para ir buscar o que eu arremessava longe, enfim, me divertia bastante com ele, ao contrário do gato, que passava bom tempo dormindo, e quando me dava atenção, só me respondia “não”, era todo arredio. Corria desesperado quando procurava pegá-lo no colo, certamente temendo que eu repetisse alguma das brincadeiras que ele não gostava.

Divertia-me bastante com os periquitos barulhentos que dançavam com as penas arrepiadas ao som de um lá, lá, lá, e palmas, chamavam meu nome pela metade e outros mais. Contudo, bom mesmo era brincar com as franguinhas que amansava logo que elas nasciam. Isso quando a galinha mãe permitia, pois eram bem valentes. Já em relação aos frangos, tinha que ficar atenta, pois quando entravam em duelos entre si, se não os separasse, lutariam até a morte.

Relembro ainda alguns detalhes marcantes, como o pânico que eu tinha de escuro; o medo de almas; as idas à praia ao raiar do sol, em companhia de meu pai, por ocasião de uma enfermidade que contraí conhecida por coqueluche; a sexta feira santa, em que minha mãe ficava “bem boazinha” e não brigava comigo; da ida ao cinema assistir Paixão de Cristo; da coroação de Maria, pois sempre sonhei ser “um anjinho”.

Havia também os Reisados, as festividades juninas, época das quadrilhas e das fogueiras, forró pé de serra, adivinhações; o “passar fogo” que selava um vinculo entre comadres, afilhadas e madrinhas. A maior fogueira de São Pedro no bairro era nossa, comemorando também o aniversário de mãezinha, com direito a aluá, bolo de milho; pé de moleque, etc. Sem esquecer ainda, das lindas histórias de “trancoso” e dos cordéis emocionantes, que se lia no terreiro da fazenda, no interior onde ia passar férias; banhos nos açudes, e muita comida gostosa.

Enfim, chegara a vez de estudar, nova realidade, contato com outras crianças, brincadeiras e corre, corre, pular corda, amarelinha, esconde, esconde, e principalmente algo que desde cedo aprendi a amar: - Os livros. Lembro-me ainda o primeiro que li: “Os Cisnes selvagens”, emprestado por uma colega de classe, que os pegava escondido do seu irmão, faziam parte de uma coleção maravilhosa, que em pouco tempo consegui ler todos. A partir de então surgiu a minha vocação para escrever, e pensei, vou ser jornalista para ser escritora, mas o sonho não se concretizou, porém isso não impediu que pusesse em prática o meu desejo de escrever. Sempre amei literatura, mas não tinha preconceitos, salvo os livros didáticos, lia tudo, cowboy, cordel, revistas, gibi, etc.,

Com o passar do tempo fui aprimorando meu gosto, passei a me interessar por romances, - Que maravilha! Lia avidamente os livros disponíveis da biblioteca da escola, no intervalo para o lanche, tomava emprestado e rapidamente devolvia, mesmo sob os protestos de Mãezinha, que alegava o meu desinteresse pelas demais atividades. Passei então a escolher os mais volumosos, visando obter mais emoções, indubitavelmente até hoje não consegui sensação melhor e mais edificante do que mergulhar em uma boa história, viajar no tempo, no espaço, e nas asas da imaginação! F I M

Mira Maia 16/06/2014