Paulo da Portela
Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres, Gilberto Alves, Alcebíades Barcelos e Armando Marçal
PAULO BENJAMIN DE OLIVEIRA
(47 anos)
Sambista
* Rio de Janeiro, RJ (17/06/1901)
+ Rio de Janeiro, RJ (31/01/1949) - GEMEOS
Paulo Benjamin de Oliveira tem sua história confundida com o surgimento e a fixação do próprio samba na cidade do Rio de Janeiro. De origem negra e proletária, vivendo no subúrbio carioca de Oswaldo Cruz, logo percebeu a importância desse gênero musical e a possibilidade de organização e valorização de sua gente a partir do samba.
Paulo foi capaz de interferir positivamente e contribuir para que o samba, da forma como era cultivado nos morros, se popularizasse.
Nascido em 17/06/1901, na Santa Casa de Misericórdia, era filho de Joana Baptista da Conceição e Mário Benjamin de Oliveira, que mais tarde abandonaria a mulher e os três filhos, tornando-se uma figura nebulosa na vida de Paulo.
Paulo só teve a instrução primária e trabalhou desde cedo para ajudar a família que mudou-se para Oswaldo Cruz no início dos anos 20. O subúrbio de então era comparado a uma roça, sem estrutura apropriada para abrigar a população de baixa renda. Porém, os pobres se divertiam em fandangos e em animados pagodes. Como muitos moradores vinham do Estado do Rio de Janeiro ou de Minas Gerais, cultivava-se o Jongo e o Caxambu.
Aos 20 anos de idade, Paulo já era conhecido por suas boas maneiras e jeito elegante em se vestir, apesar dos poucos recursos. Frequentador assíduo de festas, ajudava em suas organizações tendo fundado o primeiro bloco (e pretenso rancho como o costume da época) de Oswaldo Cruz: o "Ouro Sobre Azul".
Os pais de Natalino José do Nascimento (o "Seu Natal"), que viria a ser, muito mais tarde, presidente do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, relacionavam-se com alguns sambistas do bairro do Estácio, entre eles os jovens bambas Ismael, Aurélio, Baiaco e Brancura, que passaram a travar relacionamento com Paulo.
Em 1922, ao lado dos companheiros Antônio Rufino dos Reis e Antônio da Silva Caetano, Paulo fundou o bloco "Baianinhas de Oswaldo Cruz". Vem dessa época o nome artístico Paulo da Portela (referência à Estrada do Portela), que servia para diferenciá-lo de outro Paulo, também sambista, de Bento Ribeiro. O nome Portela ficou conhecido inicialmente a partir do próprio Paulo. A escola veio depois.
Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres, Gilberto Alves, Alcebíades Barcelos e Armando Marçal
Os três companheiros passaram a se reunir sob uma mangueira no número 461 da Estrada do Portela, visando uma atividade sócio-cultural que reunisse os amigos. Foi um sucesso e virou uma referência de samba no bairro.
No dia 11/04/1926, fundou-se o "Conjunto Carnavalesco Escola de Samba de Oswaldo Cruz". Antes de estabelecer-se na Estrada do Portela, a futura agremiação teve muitas sedes provisórias. A mais curiosa foi um vagão do trem que partia da Central do Brasil às 6:04 hs em direção ao subúrbio, onde os sambistas se reuniam diariamente para passar o samba. Um grupo saía de Oswaldo Cruz para encontrá-los pontualmente na Central do Brasil e dar início à atividade.
Aos domingos, todos conheciam os sambas ensaiados durante a semana. Conta-se que Paulo advertia quem se comportava mal e dava bom exemplo usando terno, gravata e chapéu, sendo seguido por alguns companheiros. "Seu Paulo", como fazia questão de ser chamado, gostava de ver todos com "pés e pescoços ocupados".
Paulo da Portela tinha consciência de que a atividade artística que produziam era rica e poderia tornar-se profissional, daí a preocupação em diferenciar a imagem do sambista do malandro vadio perseguido pela polícia. Paulo era conhecido por"professor" e é assim que muitos sambistas, ainda hoje, se referem a ele.
A Portela apresentou-se pela primeira vez com o nome "Quem Nos Faz é o Capricho", no carnaval de 1930. A partir de 1931, desfilou com o nome de "Vai Como Pode". A partir do dia 01/03/1935, a escola assumiu o nome Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, a pedido de um delegado de polícia que não gostava do antigo nome.
Inúmeros depoimentos dão testemunho da criatividade, inteligência e liderança dePaulo da Portela, de fato um verdadeiro professor que, apesar do baixo nível de escolaridade, lia muito e expressava-se muito bem, capaz de memoráveis discursos improvisados. Seus sambas cantam o próprio samba e o jeito simples da vida suburbana, cantam o amor da forma mais singela e terna, exaltam a mulher e a cidade que o conheceu e o aplaudiu. Paulo da Portela foi um sambista, mas também um cronista de sua gente simples que tanto soube valorizar.
Paulo afastou-se de sua escola querida em 1941 após desentendimento em pleno desfile, saindo magoado como revelam os versos de "O Meu Nome Já Caiu No Esquecimento":
"O meu nome já caiu no esquecimento
O meu nome não interessa a mais ninguém
E o tempo foi passando
E a velhice vem chegando
Já me olham com desdém
Ai quantas saudades
De um passado que se vai no além
Chora, cavaquinho, chora
Chora, violão, também
O Paulo no esquecimento
Não interessa a mais ninguém
Chora, Portela
Minha Portela querida
Eu que te fundei
Serás minha toda vida"
Paulo saiu da Portela e levou seu carisma para a Lira do Amor, pequena escola que o recebeu de braços abertos. Poderia ter ido para o Estácio ou a Mangueira, onde tinha companheiros como o compositor Cartola, mas já era muito conhecido e foi emprestar seu nome e sua imagem a Lira do Amor, escola de Bento Ribeiro.
Paulo da Portela faleceu em 31/01/1949, vítima de um Ataque Cardíaco. Seu cortejo fúnebre foi acompanhado por cerca de 15.000 pessoas. O comércio de Madureira fechou na véspera de mais um carnaval para chorar de saudade por seu poeta e professor.
Nas inúmeras rodas de samba que alegram a cidade, Paulo da Portela é lembrado pelos versos de "O Quitandeiro" (samba cuja segunda parte é assinada por Monarco, compositor e integrante da Velha Guarda da Portela). "Cocorocó" é outro divertido samba, para sempre registrado na voz de Clementina de Jesus.
No ano de seu centenário de nascimento, 2001, esperava-se uma homenagem maior da agremiação que ajudou a fundar. Mas a Portela não correspondeu aos desejos dos admiradores da obra de Paulo da Portela. No carnaval de 2001, o professor foi homenageado pelo bloco Mis a Mis com o enredo "De Pés e Pescoços Ocupados".