PAULO CÉSAR SARACENI
(78 anos)
Ator, Roteirista, Produtor de Cinema e Cineasta
* Rio de janeiro, RJ (05/11/1933)
+ Rio de Janeiro, RJ (14/04/2012) - ESCORPIÃO
Paulo César Saraceni nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1933 e, quando garoto, estava mais interessado nos esportes, praticando pólo aquático, natação e até arriscando-se nos gramados dos campos de futebol, chegou inclusive a ingressar no time juvenil do Fluminense na década de 1950.
Porém, os revolucionários anos 1960 estavam se aproximando, assim como a vontade de Sarra, como seus amigos o chamavam, de falar sobre cinema. Ele começou a trabalhar como crítico em 1954, iniciou-se nas artes como assistente de direção de algumas peças teatrais e deu seus primeiros passos no audiovisual ao realizar o curta "Caminhos" (1957), em 16mm.
Em 1960, dirigiu "Arraial do Cabo" e conquistou uma bolsa para estudar noCentro Experimental de Cinematografiaem Roma, com o neorrealismo a todo vapor na Itália. Ao entrar em contato com diretores como Bernardo Bertolucci,Marco Bellochio e Guido Cosulich, sabia muito bem o tipo de cinema que queria realizar.
Retornou ao Brasil em 1962, cheio de ideias que estavam alinhadas com as de outros cineastas da época, comoGlauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Gustavo Dahl. Juntos, iniciaram o Cinema Novo, repudiando Hollywood, as produções daAtlântida e da Vera Cruz, e propondo uma cinematografia brasileira, de fato, e engajada politicamente. Glauber Rocha declarou certa vez que Paulo César Saraceni, na verdade, é o autor da famosa frase "Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", máxima símbolo do movimento.
A primeira obra de Paulo César Saraceni no Cinema Novo foi "Porto das Caixas"(1962), com roteiro de Lúcio Cardoso, um parceiro com quem ele voltaria a colaborar em 1974, com "A Casa Assassinada", e em 1998, com "O Viajante". Musicados por Tom Jobim, eles formam uma trilogia não-oficial sobre a paixão.
"O Desafio", de 1965, é uma de suas obras mais comemoradas, ao colocar em xeque a própria esquerda política brasileira diante do golpe de estado realizado no ano anterior. Filmado em pouco mais de duas semanas e com baixo orçamento, o cineasta usa a trajetória de um jornalista em crise amorosa e moral para analisar os acontecimentos políticos do país, que só viriam a piorar.
Seu trabalho seguinte, "Capitu" (1968), foi a ousada adaptação do clássico livro"Dom Casmurro", de Machado de Assis. O filme, no entanto, não foi bem recebido, com severas críticas tanto pela narrativa escolhida, que não conseguiu trazer a ambiguidade típica da obra literária, quanto pela dupla principal de atores: Othon Bastos, como Bentinho, e Isabella, na época esposa do diretor, como Capitu.
Paulo César Saraceni era um apaixonado por samba e carnaval, e abordou o tema quatro vezes em sua filmografia. Em 1973, realizou "Amor, Carnaval e Sonhos", comLeila Diniz no elenco. Em 1988, "Natal da Portela", com Milton Gonçalves e Paulo César Peréio, sobre um lendário bicheiro carioca. Ele também retornou à música por meio de documentários, com "Bahia de Todos os Sambas" (1996) e "Banda de Ipanema - Folia de Albino" (2003).
Além de samba e política, Paulo César Saraceni também gostava de sexo, como demonstrou no longa "Ao Sul do Meu Corpo" (1982), estrelado por sua segunda mulher Ana Maria Nascimento e Silva.
Em 1993, lançou o livro "Por Dentro do Cinema Novo", no qual narra os bastidores do movimento cinematográfico e sua trajetória pessoal. Como Paulo César Saraceni sempre foi conhecido como um grande conquistador de mulheres, as pessoas estavam mais interessadas nos "nomes" do que analisar o conteúdo da obra.
Em 1999, o diretor também provocou algumas risadas no Festival de Miami, onde apresentava "O Viajante". Ao seu lado estava o colega documentarista Silvio Tendler, que levou "Castro Alves". Perguntado por um jornalista sobre o que achava do lançamento de "Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma", que invadia os cinemas do mundo todo na época, Paulo César Saraceni simplesmente respondeu que tinha um pacto com George Lucas: jamais assistiria aos filmes dele e o americano faria o mesmo.
Seu bom-humor também foi visto durante as gravações de seu último filme, "O Gerente", ainda inédito no circuito comercial brasileiro. Para que os atores compreendessem o que ele queria, o próprio diretor, apesar da saúde debilitada, fez questão de ensaiar uma cena de dança, estrelada por Letícia Spiller e Ney Latorraca. Em entrevista à Folha de São Paulo, o produtor Zelito Viana disse que"O Gerente" foi realizado no estilo Cinema Novo, com baixo orçamento. Todos da equipe, inclusive atores, teriam trabalhado com o mesmo salário: "Uma ajuda entre amigos".
Paulo César Saraceni preparava o lançamento do filme quando sofreu um AVC. O cineasta lutou por meses, internado num hospital do Rio de Janeiro, mas não resistiu. Ele deixa a esposa Ana Maria Nascimento e Silva, com quem foi casado por 35 anos.
Morte
O cineasta brasileiro Paulo César Saraceni, morreu no início de sábado, 14/04/2012, no Rio de Janeiro, vítima de Falência Múltipla de Órgãos. Paulo César Saraceni estava internado desde outubro no Hospital Federal da Lagoa, na Zona Sul da cidade, após sofrer um Acidente Vascular Verebral (AVC).
O velório aconteceu no domingo, 15/04/2012, no Parque Lage, no Jardim Botânico, na Zona Sul da cidade das 14:00 hs às 22:00 hs. O corpo foi cremado na segunda-feira, 16/04/2012, às 14:00 hs, no Crematório da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária.
Filmografia
- 2011 - O Gerente (Direção e Roteiro)
2003 - Banda de Ipanema - Folia de Albino (Direção e Roteiro)
2003 - O General (Interpretação)
1998 - O Viajante (Direção e Roteiro)
1996 - Bahia de Todos os Sambas (Direção)
1988 - Natal da Portela (Direção e Interpretação)
1983 - Quadro a Quadro Newton Cavalcanti
1981 - Ao Sul do Meu Corpo (Direção e Roteiro)
1977 - Anchieta, José do Brasil (Direção, Produção e Roteiro)
1972 - Amor, Carnaval e Sonhos (Direção, Interpretação e Roteiro)
1970 - A Casa Assassinada (Direção, Produção e Roteiro)
1967 - Capitu (Direção, Produção e Roteiro)
1965 - O Desafio (Direção, Produção e Roteiro)
1964 - Integração Racial (Direção)
1962 - Porto das Caixas (Direção e Roteiro)
1960 - Arraial do Cabo (Curta-Metragem) (Direção)
1957 - Caminhos (Curta-metragem)
Premiações
- 1970 - Candango de Melhor Filme, no Festival de Brasília, por "A Casa Assassinada"
1970 - Candango de Melhor Diretor, no Festival de Brasília, por "A Casa Assassinada"
1998 - Prêmio Especial do Júri, no Festival de Brasília, por "O Viajante"
1967 - Candango de Melhor Roteiro, no Festival de Brasília, por "Capitu"
1998 - Prêmio Especial do Júri, no Festival de Cinema Brasileiro de Miami, por "O Viajante"
1998 - Prêmio FIPRESCI, no Festival de Moscou, por "O Viajante"