Mestre Vitalino
VITALINO PEREIRA DOS SANTOS
(53 anos)
Ceramista e Músico
* Sítio Campos, Zona Rural de Caruaru, PE (10/07/1909)
+ Caruaru, PE (20/01/1963)
CANCER
Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, foi um ceramista popular brasileiro.Mestre Vitalino foi um artesão por retratar em seus bonecos de barro a cultura e o folclore do povo nordestino, especialmente do interior de Pernambuco, e a tradução do modo de vida dos sertanejos. Esta retratação ficou conhecida entre especialistas como arte figurativa.
Seu pai, lavrador, lidava com a roça, e sua mãe era louçeira , produzia panelas, recipientes e pratos. Desde a infância, Vitalino pegava os restos de barro do trabalho de sua mãe para modelar bichos lúdicos, como bodes, vacas e cavalos, uma forma de produzir os seus próprios brinquedos. Os bonecos eram os brinquedos do menino Vitalino.
Na época já existia uma feira na cidade, onde seus pais e irmãos vendiam as louças produzidas pela mãe. Vitalino passou a mandar junto com as louças os seus bonequinhos de barro para serem vendidos. Com o passar dos anos, além de modelar os bichinhos de sua infância, passou a modelar os personagens de sua região.
Do barro passou a expressar através de formas o homem do agreste, os acontecimentos da região e costumes. Em 1947, aos 38 anos, permanecia na roça, e sob influência do amigo Augusto Rodrigues, artista plástico, foi morar em Alto do Moura, próximo de Caruaru, com sua mulher e filhos.
Logo ficou famoso através da Feira de Caruaru e em todas Alto do Moura, onde tudo era comercializado em barracas. Na sua barraca oferecia os seus bonecos feitos de barro, esculpidos para expressar de maneira cada vez mais perfeita os costumes de sua região. Seus trabalhos demonstravam forte originalidade.
O seu trabalho influenciou outros artesãos a realizarem o mesmo tipo de trabalho, e muitas vezes, o próprio Mestre Vitalino ensinava as técnicas. Ensinava a escolher o barro, a socar, peneirar, secar, a queimar no fogo à lenha e a como modelar. Mestre Vitalino era uma pessoa atenciosa, amável, analfabeto e devoto de Padre Cícero.
Ele criou, na década de 1920, a Banda Zabumba Vitalino, da qual é o tocador de pífano principal.
Sua atividade como ceramista permanece desconhecida do grande público até 1947, quando o desenhista e educador Augusto Rodrigues (1913 - 1993) organizou no Rio de Janeiro a Exposição de Cerâmica Popular Pernambucana, com diversas obras suas. Seguiu-se uma série de eventos que contribuiram para torná-lo conhecido nacionalmente e foram publicadas diversas reportagens sobre o artista, como a editada pelo Jornal de Letras em 1953, com textos de José Condé, e naRevista Esso, em 1959.
Em janeiro de 1949, a fama foi ampliada com exposição no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Em 1955, integrou a exposição Arte Primitiva e Moderna Brasileiras, em Neuchatel, Suíça. O Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais e a Prefeitura de Caruaru editaram o livro "Vitalino", com texto do antropólogo René Ribeiro e fotografias de Marcel Gautherot e Cecil Ayres. Nessa época, conheceu Abelardo Rodrigues, arquiteto e colecionador, que formou um significativo acervo de peças do artista, mais tarde doadas para o Museu de Arte Popular, atual Museu do Barro de Caruaru.
Mestre Vitalino, em 1960, realizou viagem ao Rio de Janeiro e participou da Noite de Caruaru, organizada por intelectuais como os irmãos João Condé e José Condé, ocasião em que suas peças são leiloadas em benefício da construção doMuseu de Arte Popular de Caruaru. Participou de programas de televisão e exibições musicais, compareceu a eventos e recebeu diversas homenagens, como a Medalha Sílvio Romero. Nessa ocasião, a Rádio MEC realizou a gravação de seis músicas da banda de Vitalino, lançadas em disco pela Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro na década de 1970.
Em 1961, atendendo a pedido da Prefeitura de Caruaru, doou cerca de 250 peças ao Museu de Arte Popular, inaugurado nesse ano.
Em 1971, foi inaugurada no Alto do Moura, no local onde o artista residiu, a Casa Museu Mestre Vitalino. No espaço, administrado pela família, estão expostas suas principais obras, além de objetos de uso pessoal, ferramentas de trabalho e o rústico forno a lenha em que fazia suas queimas. O entorno é ocupado por oficinas de artesãos.
O reconhecimento do artista foi ampliado após a sua morte. Sua biografia inspirou o samba-enredo da Império da Tijuca nos carnavais de 1977 e 2012. A Festa de São João de Caruaru o adotou como a personalidade homenageada de 2009.
Suas obras mais famosas são "Violeiro", "O Enterro na Rede", "Cavalo-Marinho","Casal no Boi", "Noivos a Cavalo", "Caçador de Onça" e "Família Lavrando a Terra".
A produção do artista passou a ser iconográfica e inspirou a formação de novas gerações de artistas, especialmente no Alto do Moura, bairro de Caruaru, PE, onde viveu.
Parte de sua obra pode ser contemplada no Museu do Louvre, em Paris, na França. No Brasil, a maior parte está nos museus Casa do Pontal e Chácara do Céu, Rio de Janeiro, no Acervo Museológico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife, e em Alto do Moura.
Mestre Vitalino faleceu em 20/01/1963, deixou como herança diversos discípulos, entre eles os seus filhos Severino e Amaro.