ORLANDO BRITO
Por José Ouverney
ORLANDO BRITO era fluminense de Niterói, onde nasceu em 27 de novembro de 1927, filho de Amaro Brito e Irma Denti Brito. Morou nas cidades de São Paulo (SP), Pindamonhangaba (SP) e São Luís (MA), onde fixou residência a maior parte da vida e onde veio a falecer, no dia 21 de agosto de 2010.
Orlando Brito não recebeu o título de Magnífico Trovador por questões de circunstâncias, porque ele foi, sem dúvida um dos maiores poetas líricos que o Movimento Trovadoresco brasileiro já conheceu.
Segundo Colbert Rangel, Orlando Brito foi “o maior trovador lírico do Brasil!"
Muitos outros grandes trovadores lhe renderam homenagens, como o próprio José Maria Machado de Araújo, que afirmou: "Orlando Brito, tu não és um dos mais brilhantes, tu és o mais brilhante entre todos que cultivam a trova!" Dele também disse Waldir Neves: "Admiro a precisão dos seus versos, a sonoridade e riqueza de suas rimas, a originalidade de suas imagens; enfim, penetrar e entender o seu universo poético é verdadeiramente um privilégio, uma graça que, de coração eu agradeço."
Orlando Brito foi um poeta pleno, inteiro. Desses que usam a poder da palavra para hipnotizar quem o lê. Desses que são capazes de dizer muito com pouco. Essa é a impressão que tenho ao ler suas trovas. E essa mesma impressão é compartilhada por todos aqueles que leem seus versos.
Homenagear postumamente alguém, talvez não fosse tão difícil, se esse alguém que nos deixa não fosse Orlando Brito. Porque não há só o envolvimento de admiração pelo extraordinário poeta que ele sempre foi e continuará sendo: há uma relação de estima, amizade, gratidão. Por onde passou, Orlando Brito sempre foi uma luz de intenso brilho. Ele veio a este mundo com uma missão especial: a de encantar as pessoas, fosse com seu carisma, com seu bom humor ou com o esplendor de seus versos. E ele acabava nos encantando em todos os quesitos.
Nasceu em Niterói mas correu mundo, inspirado, talvez, por um de seus poetas preferidos: Fagundes Varela, não só pela tendência boêmia mas principalmente “pela sua vocação de andarilho, faminto de estradas e distâncias, sem pouso determinado”.
Em São Paulo, em 1957, conheceu Luiz Otávio, de cujo encontro fica fácil prever o quanto isso foi bom para a Trova. Ainda sob a égide do GBT (posteriormente UBT), Brito foi nome constante e obrigatório nas primeiras diretorias, até sua conseqüente saída da capital dos paulistas.
Mudando-se para Pindamonhangaba na segunda metade da década de 60, por motivos profissionais, residiu por quase uma década na “terra roxa do saber e da aptidão”. Com seu habitual dinamismo, revolucionou os costumes culturais da cidade. Foi diretor do centenário jornal “Tribuna do Norte” no período de 1972 a 1975. Criou os 1ºs Jogos Florais, num trabalho conjunto com as prefeituras de Pinda e Campos do Jordão. Os bailes de debutantes (um glamour, na época) obrigatoriamente tinham que ter Orlando fazendo uma saudação em versos. No bar “Ponto Chic”, na esquina da Praça Monsenhor Marcondes com Rua dos Andradas, poetas e amantes da boemia formavam roda em torno daquela figura emblemática que tinha sempre um irreverente improviso para cada ocasião. Mais tarde, em sociedade com o artista plástico Pimentel, inaugurou a “Lanchonete Baiúca”, cujas paredes eram todas revestidas de gravuras e versos. Lembro-me ainda: uma das muitas ilustrações continha um bêbado, já todo arriado sobre a mesa, mal se agüentando com o copo na mão, e os dizeres:
Bebei, bebei sem receio!
Homem que bebe e tem brio,
não gosta de copo cheio,
nem pode vê-lo vazio...
Com sua ida para São Luís, no Maranhão, o movimento trovístico na cidade arrefeceu, só voltando à ativa em 1992, com a chegada de José Valdez e a retomada dos concursos.
Mas aqui em Pinda, em todo canto onde ele pisou, deixou marcas e fez nascer flores. Flores que me levam a recordar palavras do próprio Orlando, em carta a mim enviada em 21.04.2000, ao referir-se a concursos de trovas. No texto ele dizia: “Não sou contra os concursos de trovas, acho-os excelentes, pois atraem e descobrem novos trovadores, e promovem o entrelaçamento, o encontro fraternal de vários poetas, das mais distantes regiões, e acordam no coração do povo sentimentos que estavam esquecidos, como: a paz, a fraternidade, o amor, a amizade, a coragem, a saudade, a alegria, a esperança, e outros... Mas, na verdade, não gosto de participar, pois os temas propostos, obrigatórios, tiram a espontaneidade do ato de criação. Gosto quando a trova nasce por si, abrindo-se dentro do peito como uma flor...”
Agora que o Poeta passou para outro Plano, em 21 de agosto de 2010, eu até poderia dizer que o Amor está mais pobre... Mas, não. Ficou mais intenso. Reforçou correntes.
Quando parte um ser querido,
é que se mede o teor
do verdadeiro sentido
deste sentimento: AMOR!
Orlando Brito sempre viveu entre flores: seus familiares, suas inúmeras amizades, seus infinitos versos... O aroma desses valores o completava. Conforme descreveu sua filha Michele: “Papai estava tão bonito, com uma expressão tão serena, foi velado num lugar bonito, o dia estava ensolarado e limpo. Teve todas as honras que merecia e seu velório estava cheio de parentes, amigos e admiradores....”
E eu diria a você, Michele, e à Safira, e a todos os filhos e netos do poeta que, nesse caso, não houve acaso. Foi tudo programado. Simplesmente porque Deus e seu pai falam o mesmo idioma! O idioma das flores!