Lindolfo Collor
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LINDOLFO LEOPOLDO BOECKEL COLLOR
(52 anos)
Jornalista e Político
* São Leopoldo, RS (04/02/1890)
+ Rio de Janeiro, RJ (21/09/1942)-AQUARIO
 
Foi um jornalista e político brasileiro. O neto, Fernando Collor de Mello, foi presidente do Brasil de 1990 a 1992.
 
Filho de João Boeckel e Leopoldina Schreiner, luteranos, descendentes dos primeiros imigrantes alemães que aportaram ao Brasil no começo do século passado.
 
Infância e Juventude
 
Tinha poucos anos quando perdeu o pai. Sua mãe mudou-se então com os três filhos AlcidesElvira Lindolfo, para São Gabriel da Estrela, onde tornou a casar-se, pouco depois, com um alemão nato, que havia sido dono da linha de navegação do Rio Caí, João Antônio Collor. Dessa união não nasceram filhos, mas o padrasto criou grande afeição pelo menino, a quem se empenhou em dar a melhor educação que pode. Como penhor de gratidão e de afeto, desde jovem Lindolfo acrescentou o sobrenome do padrasto ao do pai.
 
Frequentou a escola pública primária da Barra do Ribeiro, alguns anos mais tarde, já casada sua irmã Elvira e residindo em Porto Alegre, teve ele possibilidades de transferir-se para a capital, onde tirou os preparatórios provavelmente como aluno do professor Emílio Meyer.
 
Em 1906, aos 15 anos, é confirmado pelo bispo da Igreja Episcopal do Brasil em Porto Alegre. Em março desse ano havia ingressado no seminário dessa mesma igreja na cidade do Rio Grande, onde permaneceu até o ano seguinte, 1907. Nessa época publica seus primeiros livros de versos e paralelamente colabora com artigos e poesias de inspiração apostólica no semanário O Estandarte Cristão. Torna-se membro militante da Legião da Cruz, o que o faz iniciar a pregação do evangelho na cadeia pública da cidade do Rio Grande e acompanhar o reverendo Américo Vespúcio Cabral, pároco da Igreja da Trindade em Porto Alegre, em viagens missionárias.
 
Em 1907 trabalha numa escola dominical da Igreja da Trindade, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, e ensina português na Associação Cristã de Moços. Dirige uma classe de ensinos bíblicos na Igreja da Trindade e se torna membro da direção de um boletim mensal da mesma Igreja.
 
Deixando o Seminário EpiscopalLindolfo Collor forma-se em Farmácia, profissão muito procurada àquela época por rapazes de poucos recursos. Sendo essa, entretanto, uma atividade muito diversa da sua vocação. nunca a exerceu, mas transferiu-se, pouco depois, para Bagé, onde trabalhou durante um ano no jornal O Dever, de Adolfo Dupont.
 
Em 1907 e 1909 publicou seus primeiros livros, todos de versos: Bosque Heleno,Orquestração de LuzCaminho de Flores e Poema dos Matizes, dedicado este último ao poeta gaúcho Zeferino Brasil, com as seguintes palavras: "A Zeferino Brasil, Mestre e Amigo, esta pedra fundamental do meu edifício literário".
 
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Carreira na Capital da República
 
Em 1911, aos 21 anos, seguiu para a capital da República levando apenas uma carta de recomendação para João Lage, proprietário de jornal O Paiz. O início de sua carreira jornalística no Rio de Janeiro está relatado no artigo que em 1942, na semana seguinte ao seu falecimento, escreveu João Luso:
 
"Não havendo vaga na redação de O Paiz trabalhou como colaborador do jornal, onde publicou entrevistas sobre teatro nacional com autores, críticos, jornalistas e homens de letras. Abria a série uma entrevista com Coelho Neto de quem se fez grande amigo e cuja casa passou a frequentar nos saraus semanais em que o poeta reunia as estrelas literárias do tempo".
 
Pouco depois entrava Lindolfo Collor, pela mão de João Luso, para a edição da tarde do Jornal do Comércio, ao tempo uma das folhas de mais difícil acesso no Rio de Janeiro. Começou então a escrever sobre o assunto de sua predileção, a política, em folhetim semanal por ele lançado, O Meu Sábado. A esse propósito escreveu João Luso:
 
"Logo na primeira crônica se definiu o seu feitio de combatente. Precisava de batalhar, por isto ou contra aquilo, mas, coisa rara naquela idade, não se inflamava, não se excedia nos conceitos, não se desmandava no estilo. Esta foi sempre, de fato, uma das suas características mais constantes como escritor, como político, como homem privado: o equilíbrio, o espírito de justiça, a sinceridade de atitudes, o cuidadoso manejo das palavras".
 
Em 1913, paralelamente a estas atividades jornalísticas, entrou Lindolfo Collor para o quadro de funcionários do Jardim Botânico e exerceu funções no gabinete do Ministro da Agricultura. Logo que se transferiu para o Rio de Janeiro, Lindolfo Collor morou algum tempo em Niterói, mas em seguida fixou-se no então Distrito Federal em casa de um casal espanhol, Tomasa e Gregório Landeira, pertencente este ao corpo de funcionários da companhia de seguros Sul América, com sede em Madri. O casal Landeira privava da amizade de uma compatriota, Maria Eugênia Sanchez Dias, casada com o jornalista Luiz Bartolomeu de Souza e Silva e mãe de uma moça que aos Landeira parecia ser a esposa ideal para Lindolfo, pela beleza e fina educação que possuía. Insistia Dona Tomasa em convidar seu hóspede para juntos visitarem a família Bartolomeu de Souza e Silva, quando, um belo dia, ouviu dele uma resposta inesperada: "Eu hoje vi a moça com que desejaria casar-me".
 
Lindolfo Collor não soube responder de quem se tratava. Havia visto na rua uma linda jovem, que acompanhou de longe para saber onde morava. Com espanto e alegria constatou Dona Tomasa Landeira ser exatamente aquela a pessoa que desejavam aproximar do seu jovem amigo. Dentro de alguns meses, a 19 de fevereiro de 1914, realizava-se o enlace de Lindolfo Collor com Hermínia de Souza e Silva. A formalidade do pedido em casamento foi cumprida por um amigo chegado, o escritor gaúcho Alcides Maia, que pouco depois viria a ser deputado federal pelo Rio Grande do Sul e membro da Academia Brasileira de Letras.
 
Desde janeiro de 1914 começara Lindolfo Collor a trabalhar na redação de A Tribuna, jornal de que eram proprietários seu sogro e o Senador mato-grossense Antônio Azeredo, que se tornaria mais tarde presidente do Senado. Seus primeiros artigos em A Tribuna ocupavam o espaço de uma coluna a que ele dava o título de Pela Ordem.
 
Nessa época escreveu Lindolfo Collor seu terceiro e último livro de versos, Elogios e Símbolos, causa de uma séria desavença entre o autor e o crítico literário Gilberto Amado. Encontrando-se os dois na Rua do Ouvidor, Lindolfo Collor interpelou-o por suas criticas, que considerou deselegantes. A discussão acalorou-se e houve troca de empurrões que jogaram ao chão Gilberto Amado. Este, sacando do revólver, alvejou seu contendor, que já se afastava, indo os tiros encravar-se na fachada da Livraria Garnier, ponto de reunião de escritores e intelectuais da época. Possivelmente porque lhe houvesse pesado o excesso que, fora dos seus hábitos, cometera, ou porque concordasse que não era a poesia o caminho para o seu belo talento, resolveu Lindolfo Collor retirar das livrarias todos os exemplares dos seus livros de versos e não tornou a escrever outros.
 
Já depois de casado, em 1917, formou-se no Rio de Janeiro pela Academia de Altos Estudos Sociais, Políticos e Econômicos, que teve vida breve.
 
Nesse mesmo ano, há 15 de maio de 1917, a propósito de uma tentativa de legislação social recomendada em mensagem à Câmara dos Deputados pelo presidente Delfim Moreira, Lindolfo Collor publica na Tribuna um artigo com o título Questão Social, onde já demonstra sua clara compreensão desse problema. São de Lindolfo Collor, então com 27 anos de idade, estas palavras:
 
"Engana-se profundamente quem supuser que, dentro da nova ordem de coisas que nasce com o fim da luta das potências, (a 1ª Guerra Mundial) seja possível ainda ir eludindo a verdadeira situação do proletariado e adiando sua definitiva incorporação moral e econômica na civilização ocidental... A consciência do mundo está amadurecendo para a reforma social... O que é preciso é dar aos operários leis civis adequadas às suas necessidades nos diversos meios".
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Lindolfo Collor (de óculos) sendo nomeado ministro, junto com outras personalidades, por Getúlio Vargas, em 03 de novembro de 1930.
 
Retorno ao Rio Grande do Sul e Início da Carreira Política
 
Em 1919 foi convidado por Borges de Medeiros, governador do Rio Grande do Sul e chefe do Partido Republicano Rio-Grandense, para tomar parte na direção de A Federação, órgão oficial do Partido e o maior jornal do estado. Mudou-se de volta a Porto Alegre com a esposa e as duas filhas pequenas. Apesar da dúvida inicial acerca do recém-chegado, volvido um ano, contando Lindolfo Collor apenas 30 anos, já era diretor do jornal.
 
Sua estreia na política se daria em 1921, quando foi eleito deputado estadual, ao lado de João Neves da Fontoura e Getúlio Dorneles Vargas integrou a Assembleia Legislativa gaúcha, onde foi relator da Comissão de Orçamento.
 
Era diretor de A Federação quando houve no Rio Grande, em 1922-23, renhida campanha eleitoral entre os dois partidos que desde a Revolução de 1893 vinham se defrontando: O Libertador, que apoiava a candidatura de Assis Brasil à sucessão estadual, contra a do presidente do Estado, Borges de Medeiros, que pleiteava sua 5ª reeleição embora já estivesse no cargo há 4 sucessivas reeleições. Essa luta eleitoral transformou-se em protesto armado depois da nova reeleição de Borges de Medeiros.
 
O estado do Rio Grande do Sul era a única unidade da Federação cuja Constituição, baseada nas ideias de Augusto Comte, permitia a reeleição dos seus governadores. As notícias a respeito dos combates que se sucediam no interior do estado eram afixadas nos "placards" dos dois principais jornais de Porto Alegre, instalados na mesma rua em prédios fronteiros no centro da cidade. O Correio do Povo, defendendo o Partido Libertador, dos assisistas ou maragatos e A Federação, órgão oficial do Partido Republicano, apoiando os borgistas ou pica-paus.
 
Formavam-se ali agitadas aglomerações que comentavam cada notícia com entusiasmo ou com animosidade, a ponto de provocar constantemente a intervenção dos cavalarianos da Brigada Militar. Nessas ocasiões o diretor de A Federação vinha à sacada do prédio e dirigia a palavra aos manifestantes exaltados, testemunhando assim sua decisão e coragem pessoal nunca desmentidos, nesse como em outros momentos de sua vida pública. Como acontecera na revolução de 1893, também esta, de 1923, só terminou com a mediação do governo federal: o Ministro da Guerra, general Setembrino de Carvalho, natural do Rio Grande do Sul, foi enviado a Porto Alegre para negociar a assinatura do Tratado de Paz de Pedras Altas, que pacificou os espíritos tornando inelegível, daí por diante, o governador do Estado.
 
Em 1924, quando da vitória eleitoral de Artur Bernardes para a Presidência da República, o governo estadual se posicionara em favor da candidatura de Nilo Peçanha em oposição à de Artur Bernardes, também combatida pelo grupo de tenentes revolucionários que se deslocava pelo sul do Brasil em suas marchas de protesto contra o governo federal. Mas, depois de eleito Artur Bernardes, o governador Borges de Medeiros resolveu sensatamente aceitar a decisão das urnas e nesse sentido orientou o diretor de A Federação, que escreveu um artigo assegurando ao novo presidente da República o apoio político do Rio Grande do Sul. Esse artigo, intitulado Pela Ordem, a mesma rubrica sob a qual publicara Lindolfo Collor seus primeiros artigos na A Tribuna do Rio, atraiu para seu autor o desagrado dos tenentes revoltosos. Isto valeria mais tarde sérias dificuldades a Lindolfo Collor no seu desempenho como Ministro do Trabalho, quando os mesmos tenentes passaram a exercer influente presença política no cenário federal, depois de haver apoiado a Revolução de 1930.
 
Eleito deputado federal em 1924, voltou ao Rio de Janeiro onde assumiu o posto de redator-chefe de O Paiz. Membro da Comissão de Finanças da Câmara, escreveu numerosos artigos sobre a estabilização da moeda, sobre o problema do padrão ouro e, já então, sobre a transformação da moeda nacional em cruzeiro.
 
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No princípio do ano de 1925 integrou Lindolfo Collor a Embaixada Especial que, chefiada pelo então senador Lauro Müller, representou o Brasil nas solenidades comemorativas do 1º Centenário da Independência do Uruguai. Voltando ao Brasil, apresentou à Câmara dos Deputados pareceres sobre o convênio assinado em Montevidéu a 30 de março, e sobre o protocolo adicional que o acompanhou a seguir. O convênio estatuía "regras práticas de vigilante amizade e de recíproca cooperação das Altas Partes Contratantes em caso de alteração da ordem nos seus respectivos territórios".
 
Em 1926 foi Lindolfo Collor reeleito para a Câmara Federal, tendo sido então o deputado proporcionalmente mais votado no Brasil.
 
Em seguida, visitou a Bacia do Prata e o Chile, convidado para pronunciar conferências no auditório de La Prensa, de Buenos Aires, e na Universidade do Chile.
 
Em 1928 fez parte da delegação brasileira, chefiada pelo senador Raul Fernandes, à VI Conferência Pan-americana reunida em Havana, onde, em nome dos colegas congressistas, pronunciou um discurso sobre José Martí, o herói nacional cubano. Em julho do mesmo ano participou também da Conferência Inter-Parlamentar de Comércio, em Paris.
 
Em 1929 foi um dos fundadores da Aliança Liberal, movimento político iniciado pelo presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, para, em oposição à candidatura oficial de Júlio Prestes, pleitear a sucessão presidencial para o Rio Grande do Sul na pessoa de seu presidente, Getúlio Vargas. Coube a Lindolfo Collor redigir o Manifesto da Aliança Liberal, e em seguida foi-lhe confiada a direção do jornal A Pátria, no Rio de Janeiro, onde seus editoriais, assinados com o pseudônimo de Gil Pereira, eram a voz da campanha aliancista.
 
Na Câmara Federal teve como companheiros novamente Getúlio Vargas e João Neves da Fontoura, e os três se revezavam na liderança da bancada gaúcha. Nessa posição não faltaram a Lindolfo Collor ocasiões de reafirmar o seu talento oratório. Entre seus brilhantes discursos marcou época uma oração pronunciada no dia seguinte ao assassinato de João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, em Recife, que começava com estas palavras: "Presidente da República, que fizeste do Presidente da Paraíba?"
 
Aquele acontecimento lamentável, sublinhado pelo comentário oportuno e inteligente de Lindolfo Collor, foi o estopim da rebeldia contra a eleição de Júlio Prestes e, desfazendo a indecisão do Rio Grande do Sul quanto à oportunidade de uma atitude de intransigência, precipitou o início da rebelião armada de 1930.
 
No encerramento da campanha da Aliança Liberal o candidato oposicionista,Getúlio Vargas, leu sua plataforma de governo. Esse documento, redigido por Lindolfo ColIor, continha, entre outros pontos do programa a ser cumprido, a promessa da elaboração de uma legislação trabalhista. Com isso sairiam da alçada policial as questões surgidas entre o capital e o trabalho e o operariado brasileiro teria seus direitos assegurados.
 
Quando estourou a revolução, a 3 de outubro de 1930, estava Lindolfo Collor em Porto Alegre. Junto a Osvaldo Aranha participou da tomada do Quartel General, onde foi aprisionado o comandante da Região Militar, general Gil de Almeida. Dias depois deslocava-se para Buenos Aires, incumbido de adquirir armas para as forças rebeladas e de obter o reconhecimento do governo revolucionário a ser instalado no Brasil.
 
A 24 de outubro, vitoriosa a revolução com a sublevação da guarnição do Rio de Janeiro e deposto o presidente Washington Luís, ocupou o Governo da República uma Junta Provisória da qual fazia parte o general Tasso Fragoso, a chamado de quem regressou Lindolfo Collor ao Brasil em 27 de outubro.
continua segunda parte...
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