Caminhar 1
Maria menina ficou mulher e, às vezes, quando lembra que deixara sua terra para trás e todos os desdobramentos dessa experiência “senteepensa” ou “pensaesente”, assim...
Choro por mim, por minha infância interrompida, por minha casa de infância deixada para trás.
Choro por tudo que tinha e lá ficou. Choro por cada pequena coisa.
Por minhas árvores companheiras de folguedos, por meus capins, entre os quais, corria livre, ao vento e experimentava o mais intenso sentimento de liberdade.
Choro por cada pequeno canto, na minha imaginação infantil: veredas, ruas, curvas, cantos, caminhos e esconderijos de infância.
“Espaçostempos” encantados, onde brincava e sonhava.
Choro por meu rio, grotas e riachos; lagos, lagoas e açudes: balanços de águas que me embalavam nos seus líquidos e doces braços.
Lagoa do canto, Açude Velho, Riacho d’Areia, na minha imaginação uma poesia tão bela como o riacho do mestre Lua.
“Riacho do Navio
Corre pro Pajeú
O rio Pajeú vai despejar
No São Francisco
O rio São Francisco
Vai bater no "mei" do mar
O rio São Francisco
Vai bater no "mei" do mar.”
Sentimentos nordestinos que ligam todos que, mais por falta de políticas adequadas do que por falta de chuvas, realmente, foram obrigados a deixar suas terras.
Filhos da diáspora.
Choro por meu avô ter deixado suas raízes e pela interrupção tardia das crenças da minha avó em uma idade em que o tempo não lhes dava mais chances para a reconstrução de suas vidas na perspectiva de lugares outros, a eles estrangeiros.
Choro, sensibilizada, pelo intenso amor que eles nos dedicavam e os fez nos acompanharem nessa travessia.
Uma troca que lhes deixara somente a opção da morte do seu Eu.
Velhos não agüentam a perda das suas raízes.
O que imediato a chegada à nova terra os acompanhou da morte física de seus corpos.
Choro pela ternura dos seus atos despojados, que me ensinaram o que é o amor, de um jeito que me transformou na Maria menina, que sou.