Carlos Chagas
A Gripe Espanhola chegou ao Brasil em 1918 e, no Rio de Janeiro, tal enfermidade atacou dois terços da população (por volta de seiscentos mil habitantes) e fez onze mil vítimas, devido às precárias condições de higiene e saneamento, além da falta de assistência médica. Tal quadro fez com que o então presidente da República Wenceslau Braz convidasse Carlos Chagas a assumir o controle da situação.
(56 anos)
Médico, Cientista e Bacteriologista
* Oliveira, MG (09/07/1878)
+ Rio de Janeiro, RJ (08/11/1934) - CANCER
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas foi um médico sanitarista, cientista e bacteriologista brasileiro, que trabalhou como clínico e pesquisador. Atuante na saúde pública do Brasil, iniciou sua carreira no combate à malária. Destacou-se ao descobrir o protozoário Trypanosoma Cruzi, cujo nome foi uma homenagem ao seu amigo Oswaldo Cruz e a Tripanossomíase Americana, conhecida como Doença de Chagas. Ele foi o primeiro e o único cientista na história da medicina a descrever completamente uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor (Triatominae), os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia.
Foi diversas vezes laureado com prêmios de instituições do mundo inteiro, sendo as principais como membro honorário da Academia Brasileira de Medicina e Doutor Honoris Causa da Universidade de Harvard e Universidade de Paris. Também trabalhou no combate à leptospirose e às doenças venéreas, além de ter sido o segundo diretor do Instituto Oswaldo Cruz.
Infância e Juventude
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas nasceu no município de Oliveira, Minas Gerais, em 9 de julho de 1878, filho de José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas. O lugar de seu nascimento foi na Fazenda Bom Retiro, onde seus antepassados, de ascendência portuguesa, se enraizaram.
Seu pai, cafeicultor, morreu quando Carlos Chagas tinha quatro anos de idade, ficando a cargo de sua mãe a administração do cultivo de café e da criação dele e de seus outros quatro irmãos: Maria Rita, José (que morreu com três anos de idade), Marieta e Serafim. Eles foram morar em outra propriedade da família, a Fazenda Boa Vista, próxima a Juiz de Fora, também no estado de Minas Gerais.
Em Oliveira, teve convivência direta com três tios maternos, Cícero, Olegário e Carlos. Os dois primeiros eram advogados formados em São Paulo e incentivaram o sobrinho a se dedicar aos estudos. Porém, o último, era formado em medicina e organizou uma casa de saúde na cidade. As ações desse tio o influenciaram para seguir a carreira médica.
Aos oito anos de idade e já alfabetizado, foi matriculado no Colégio São Luís, dirigido por jesuítas, em Itu, interior de São Paulo, mas fogiu do internato em 1888, para ir ao encontro da mãe, em Juiz de Fora, ao saber que os escravos recém-libertados estariam depredando fazendas. A punição para essa fuga foi a expulsão de Carlos Chagas do colégio pelos padres jesuítas.
Após encerrar os estudos secundários, Carlos Chagas ingressou no curso preparatório para a Escola de Minas de Ouro Preto por vontade de sua mãe, que gostaria de vê-lo formado em engenharia. Aí, com a companhia de colegas do curso, aderiu a vida boêmia. Adoentado, em 1896, depois de reprovado nos exames, voltou para Oliveira.
Durante o tempo de recuperação em sua cidade-natal, seu tio Carlos fortaleceu a vontade de Carlos Chagas em ser médico e ajudou-o a vencer a barreira de sua mãe, que acabou aceitando a opção de seu filho. Seguiu então para São Paulo, para obter os diplomas básicos exigidos para matrícula no curso médico. Conseguindo tal certificado, em fevereiro de 1897, seguiu para o Rio de Janeiro a fim de entrar à Faculdade de Medicina.
Aos 18 anos, passou a cursar a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde este mesmo tio trabalhava, em abril de 1897. Tal faculdade vivia uma "revolução pasteuriana", pois havia adquirido as teses de Louis Pasteur e estava passando por um processo de renovação. Carlos Chagas, assim, também leva essas idéias adiante em seu trabalho.
Ao longo do curso, dois professores exerceram grande influência em sua carreira:Miguel Couto, que apresentou a Carlos Chagas as noções e as práticas da clínica moderna e com quem passaria a ter uma estreita amizade, e Francisco Fajardo, que colocou Carlos Chagas no estudo de doenças tropicais, especialmente da malária, e que seria de grande importância para sua futura carreira. Assim, esses dois professores apresentaram os dois caminhos que se abriram para Carlos Chagas no decorrer de seu curso médico: a clínica e a pesquisa científica.
Concluído o curso, em 1902, para elaborar sua tese, pré-requisito para o exercício da medicina, dirigiu-se ao Instituto Soroterápico Federal, na Fazenda de Manguinhos, levando uma carta de apresentação de seu professor, Miguel Couto, a Oswaldo Cruz, diretor do Instituto, onde teve seu primeiro contato com aquele que veio a trabalhar, ser seu grande mestre e tornar-se amigo.
Aceito e orientado por Oswaldo Cruz, Carlos Chagas começou a trabalhar no Instituto Soroterápico Federal, que após 1908 passou-se a chamar Instituto Oswaldo Cruz, e elegeu como tema de sua tese o ciclo evolutivo da malária na corrente sangüínea". Assim, em março de 1903, estava concluído a sua tese, o"Estudo Hematológico do Impaludismo" e em maio do mesmo ano terminou seus estudos.
Oswaldo Cruz, que assumiu simultaneamente a direção de Manguinhos e a Diretoria Geral de Saúde Pública, nomeou Carlos Chagas como médico do instituto, cargo que foi recusado por preferir, em 1904 trabalhar como clínico no Hospital de Jurujuba, em Niterói. Nesse ano instalou seu laboratório particular no Rio de Janeiro e casou-se com Íris Lobo, que dessa união nasceriam seus dois filhos, Evandro (1905) e Carlos Filho (1910). Ambos seguiriam a carreira médica do pai.
Combate a Malária
Devido à tese de doutorado sobre a malária, em 1901 foi recrutado por Oswaldo Cruz para missão de controlar a doença em Itatinga, interior de São Paulo, que atacava a maioria dos trabalhadores da Companhia Docas de Santos, que construía uma represa na região, causando a paralisação das obras. Assim, realizou a primeira ação bem-sucedida contra a malária no Brasil, colocando em prática procedimentos que mais tarde se tornariam corriqueiros nas outras campanhas.
Segundo ele, para se impedir a propagação da doença em regiões em que não havia ações sistemáticas de saneamento, fazia-se necessário concentrar as medidas preventivas nos locais onde viviam os homens e os mosquitos infectados com o parasito da malária. Seguindo tal orientação, em cinco meses Carlos Chagas conseguiu debelar o surto da doença - fato que serviu de base para o efetivo combate à moléstia no mundo inteiro.
De volta ao Rio de Janeiro, Carlos Chagas continuou servindo a Diretoria Geral de Saúde Pública e, em 19 de março de 1906, transferiu-se para o Instituto Oswaldo Cruz. Foi solicitado, no ano seguinte, pela Diretoria Geral, a organizar o saneamento na Baixada Fluminense, onde estava acontecendo obras para a captação e bombeamento de água ao Rio de Janeiro. Junto com Arthur Neiva, seguiu para Xerém, e os resultados positivos que conseguiu nessa obra confirmaram a sua teoria da infecção domiciliar da malária.
Em junho de 1907 Carlos Chagas foi enviado pelo Instituto Oswaldo Cruz à cidade de Lassance, Minas Gerais, perto do Rio São Francisco, para combater uma epidemia de malária entre os trabalhadores de uma nova linha de trem da Estrada de Ferro Central do Brasil, instalando-se durante dois anos num vagão de trem, montando um pequeno laboratório e um consultório para atendimento dos doentes.
Neste tempo, capturou, classificou e estudou os hábitos dos anofelinos, mosquitos transmissores da doença, e examinou o sangue de animais em busca de parasitas. Assim, Carlos Chagas identificou no sangue de um sagüi uma nova espécie de protozoário, ao qual deu o nome de Trypanosoma Minasensis. Um engenheiro da ferrovia alertou-o para a infestação de um inseto hematófago nas residências rurais, da espécie Triatoma Infestans, conhecido como Barbeiro, assim chamado porque suga o sangue das pessoas durante a noite, atacando o rosto delas. Carlos Chagas levou alguns deles ao seu laboratório e percebeu que nos seus intestinos havia outros Trypanosoma Minasensis, já numa fase evoluída.
Por Lassance não ter condições para uma pesquisa mais aprofundada, enviou alguns exemplares de barbeiros para Oswaldo Cruz, pedindo que os alimentasse em sagüis. Um mês depois, foi comunicado da presença de tripanossomos no sangue dos animais. Voltou ao Rio de Janeiro para confirmar a pesquisa, e descobriu que não se tratava dos Trypanosoma Minasensis, mas de uma nova espécie. Carlos Chagas chamou esse novo parasita de Trypanosoma Cruzi e mais tarde batizou de Schizotrypanum Cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz.
Retornando a Lassance, Carlos Chagas suspeitava que o parasita poderia causar algum mal aos outros animais e aos humanos, visto que o barbeiro estava sempre em lugares freqüentados por pessoas e o hábito desse inseto em mordê-las. Recolheu amostras de sangue de um gato infectado em 14 de fevereiro de 1909 e, em 23 de abril do mesmo ano, descobriu o Trypanosoma em uma menina de três anos, chamada Berenice, que apresentava febre e anemia. Tal tripanossoma foi o segundo descoberto a causar uma doença, a Tripanossomíase Americana, pois até então o único confirmado é o causador da doença do sono, ou Tripanossomíase Africana, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé.
Também observou inclusões parasitas no cérebro e no miocárdio dela, que poderiam explicar algumas manifestações clínicas em pessoas doentes. Para completar seu trabalho sobre a patologia da nova doença, o cientista descreveu 27 casos de formas agudas e realizou mais de cem autópsias de pacientes que tinham a forma crônica da doença. Se concluiu, então, o ciclo da doença, tendo identificado o vetor (barbeiro), o agente causal (Trypanosoma Cruzi), o reservatório doméstico (gato), a doença nos humanos (o caso de Berenice) e suas complicações. Ao longo da pesquisa, Carlos Chagas propôs algumas complicações da doença que, mais tarde, mostraram-se equivocadas. Exemplo disso foi ao anunciar que o bócio era um sintoma da Tripanossomíase Americana. O trabalho que Carlos Chagas realizou foi o primeiro e o único na história da medicina, descrevendo completamente a nova doença infecciosa: anatomia patológica, o meio de transmissão (Triatoma Infestans), etiologia, suas formas clínicas e sua epidemiologia.
Carlos Chagas também foi o primeiro a descobrir o gênero Pneumocystis, um fungo parasita nos pulmões dos animais experimentalmente infectados com tripanossoma. Nessa altura ele não o reconheceu como um organismo distinto e portanto ele descreveu o gênero Schizotrypanum de modo a acomodar ambos os ciclos de vida, que ele ilustrou. Porém, a sua descoberta levou outros a aprofundar a investigação e descrever Pneumocystis como um gênero distinto, que agora é reconhecido como um fungo. Carlos Chagas, seguia atentamente a literatura e rapidamente confirmou a distinção, pelo que novamente adotou o nome Trypanosoma Cruzi que havia originalmente cunhado. Pneumocystis é agora associado a uma outra doença, PCP ou Pneumocistose, causada por uma espécie (P. Jirovecii), mas a espécie original de Pneumocystis, observada por Carlos Chagas em espécies de porquinho-da-Índia, não foi ainda nomeada como uma espécie separada.
A descoberta da doença foi levada ao conhecimento da comunidade científica através de uma nota prévia escrita por Carlos Chagas em 15 de abril de 1909 e publicada na Revista Brasil-Médico em 22 de abril. No mesmo dia, Oswaldo Cruz anunciou formalmente a Academia Nacional de Medicina, que decidiu levar a Lassance uma comissão para verificar o trabalho. Miguel Couto, presidente da comissão, sugeriu que a nova doença se chamasse Doença de Chagas, mas o próprio Carlos Chagas preferia chamar a doença como Tripanossomíase Americana.
Na Europa o trabalho teve repercussão em revistas científicas, em especial na Alemanha e na França, pois esses países tinham interesses em doenças tropicais, visto que a Tripanossomíase Africana vinha prejudicando o plano imperialista em tal continente.
Em 26 de outubro de 1910, a Academia Nacional de Medicina reconheceu formalmente o trabalho realizado pelo cientista e o recebeu como membro honorário, já que tal entidade não dispunha de lugares vagos no momento. Nessa solenidade, Carlos Chagas proferiu a primeira conferência sobre a doença. Em 1911 divulgou os resultados à Sociedade de Medicina e Cirurgia de Minas Gerais e, em agosto, uma segunda conferência à Academia Nacional de Medicina. Nesse mesmo ano ocorreu a Exposição Internacional de Higiene e Demografia, em Dresden, Alemanha, onde, no pavilhão brasileiro, foi mostrado a doença, que despertou grande público. Em 1912 foi a vez da classe médica paulista recebê-lo para uma apresentação sobre a doença descoberta em Lassance.
O estudo da moléstia avançou nas décadas de 1940 e 1950 através do Instituto Oswaldo Cruz, no município mineiro de Bambuí.
Na década de 1910, o Instituto Oswaldo Cruz promoveu viagens científicas no interior brasileiro, com o objetivo de investigar os problemas médicos do país. Em 1912, com a crise do extrativismo da borracha na Amazônia, o governo federal firmou parceria com a instituição para verificar as condições de salubridade do vale do Rio Amazonas e elaborar um plano de exploração racional dos recursos naturais.
Expedição à Amazônia
Na década de 1910, o Instituto Oswaldo Cruz promoveu viagens científicas no interior brasileiro, com o objetivo de investigar os problemas médicos do país. Em 1912, com a crise do extrativismo da borracha na Amazônia, o governo federal firmou parceria com a instituição para verificar as condições de salubridade do vale do Rio Amazonas e elaborar um plano de exploração racional dos recursos naturais.
A Gripe Espanhola chegou ao Brasil em 1918 e, no Rio de Janeiro, tal enfermidade atacou dois terços da população (por volta de seiscentos mil habitantes) e fez onze mil vítimas, devido às precárias condições de higiene e saneamento, além da falta de assistência médica. Tal quadro fez com que o então presidente da República Wenceslau Braz convidasse Carlos Chagas a assumir o controle da situação.
Tal ação não foi fácil, pelo fato do próprio estar doente, além de sua mulher e de seus filhos. Porém, dentre suas atitudes, criou um serviço especial de postos de atendimento à população em vinte e sete pontos diferentes da cidade. Ao mesmo tempo que providenciou tal tarefa, criou cinco hospitais emergenciais e publicou cartazes e panfletos de alerta aos habitantes e buscando apoio de profissionais da sua área, conseguindo ajuda da maioria dos clínicos cariocas e de vários membros da Academia Nacional de Medicina.
No Instituto Oswaldo Cruz, incentivou a pesquisa da doença, como causa da infecção, meio de contágio e diagnóstico. Carlos Chagas trabalhou integralmente para o desaparecimento da doença, em novembro do mesmo ano.
Três dias após a morte de Oswaldo Cruz, em 14 de fevereiro de 1917, Carlos Chagas foi nomeado para a direção do Instituto de Manguinhos através de um decreto presidencial. Ao assumir o cargo, buscou consolidar o modelo estabelecido por Oswaldo Cruz semelhante ao Instituto Pasteur, onde a autonomia administrativa e financeira eram as características principais, além de estreitar a relação entre a pesquisa, o ensino e a fabricação de produtos medicinais e veterinários.
Direção do Instituto Oswaldo Cruz
Três dias após a morte de Oswaldo Cruz, em 14 de fevereiro de 1917, Carlos Chagas foi nomeado para a direção do Instituto de Manguinhos através de um decreto presidencial. Ao assumir o cargo, buscou consolidar o modelo estabelecido por Oswaldo Cruz semelhante ao Instituto Pasteur, onde a autonomia administrativa e financeira eram as características principais, além de estreitar a relação entre a pesquisa, o ensino e a fabricação de produtos medicinais e veterinários.
No campo da pesquisa, sua administração ficou marcada pela investigação das principais epidemias que assolavam a zona rural brasileira em sua época, e com o objetivo de controlá-las, inaugurou em 1918 o Hospital Oswaldo Cruz, nas dependências do Instituto, para constituir em um centro de estudos para os pesquisadores do Instituto. Mais tarde, em 1942, o hospital passaria a ser chamado Hospital Evandro Chagas.
Carlos Chagas foi responsável pela criação de seções científicas independentes, separando-as por áreas de conhecimento, com o intuito de estabelecer uma divisão de trabalho mais nítida no Instituto. Assim, são instaladas seções de Química Aplicada, Micologia, Bacteriologia, Zoologia, Anatomia, Protozoologia e Fisiologia. Quanto ao ensino, o cientista amplia o programa dos Cursos de Aplicação do Instituto, oferecidos desde 1908 como especialização em Microbiologia.
Na área de produção, Carlos Chagas diversificou os medicamentos e produtos fabricados no Instituto, com a estimulação do comércio dos mesmos e a renda gerada por eles tornou-se fundamental para o funcionamento da instituição. Uma medida para a expansão da área de Produção foi a criação do Serviço de Medicamentos Oficiais, destinado para produzir, entre outros medicamentos, a quinina, usada no combate à malária. Na década de 1920 o Instituto ficou responsável por verificar o controle de qualidade dos produtos utilizados na medicina brasileira, tanto os fabricados em laboratórios nacionais quanto os importados. Outra iniciativa foi a incorporação do Instituto Vacinogênio Municipal, ficando a cargo do Instituto Oswaldo Cruz a fabricação da vacina antivaríola.
Em 1920 a autonomia administrativa do Instituto ficou preservada, mesmo que estivesse subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Financeiramente, a autonomia assegurou-se graças ao regulamento criado por Carlos Chagas e aprovado em 1919, onde toda a receita gerada por trabalhos realizados em Manguinhos a pedido de particulares seria dividida igualmente entre a instituição e os funcionários que os executassem.
Porém, com o aumento das atividades do Instituto, no decorrer da década de 1920, acarretou num acúmulo de problemas financeiros, além das limitações orçamentárias agravadas pela crise econômica de 1929. Isso prejudicou o aperfeiçoamento tecnológico e a manutenção das instalações físicas da instituição, com uma conseqüente perda da qualidade dos produtos.
Tal quadro se agravou na década de 1930, onde, com a criação do Estado Novo e a ditadura de Getúlio Vargas, aos poucos pôs-se o fim da autonomia administrativa e um aumento da intervenção do Estado. A nova ordem política brasileira trouxe conseqüências diretas a estrutura e o funcionamento de Manguinhos, que, sob a denominação de Departamento de Medicina Experimental, passou à jurisdição do recém-criado Ministério da Educação e Saúde. A partir desse momento até a sua morte, em 1934, Carlos Chagas enfrentou os efeitos da perda do modelo institucional criado por Oswaldo Cruz.
Ao tomar posse em 1919, para reorganizar a saúde pública nacional, o presidente Epitácio Pessoa nomeou Carlos Chagas para a então Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), acumulando a função com aquela praticada em Manguinhos. Um ano seguinte tal instituição se chamaria Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), ligado ao Ministério da Justiça de Negócios Exteriores.
Direção do Departamento Nacional de Saúde Pública
Ao tomar posse em 1919, para reorganizar a saúde pública nacional, o presidente Epitácio Pessoa nomeou Carlos Chagas para a então Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), acumulando a função com aquela praticada em Manguinhos. Um ano seguinte tal instituição se chamaria Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), ligado ao Ministério da Justiça de Negócios Exteriores.
Sua primeira atitude, exposta na Bilblioteca Nacional em fevereiro de 1921, foi a centralização das atividades, que até então o Departamento Nacional de Saúde Pública vinha trabalhando com a descentralização, onde os estados e municípios brasileiros tinham maior liberdade de organizar seus sistemas sanitários. Acordos com os mesmos foram essenciais para a segunda ação - a interiorização, em busca da erradicação das epidemias rurais, principalmente malária, ancilostomose e tripanossomíase americana. Em paralelo a esse projeto, criou um minucioso de medidas referentes à higiene pública.
Com apoio da Fundação Rockefeller, Carlos Chagas criou o Serviço de Enfermagem Sanitária e, com o desdobramento desse serviço, fundou, em 1923, a Escola de Enfermagem Anna Nery, introduzindo o ensino profissionalizante de Enfermagem no Brasil. Os alunos foram instruídos também no Hospital São Francisco de Assis, fundado também por Carlos Chagas para tal finalidade.
Carlos Chagas também foi responsável pela criação do primeiro curso de Higiene e Saúde Pública do Brasil, onde garantia vagas nos cargos federais aos aprovados. Como diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública, representou o país no Comitê de Higiene da Liga da Nações, associação sediada em Genebra e percussora da Organização Mundial de Saúde (OMS). O médico permaneceu à frente do órgão até novembro de 1926, ao fim do mandato do presidente Arthur Bernardes. O Departamento Nacional de Saúde Pública foi transferido para o Ministério da Educação e Saúde, em função da reforma política do Estado Novo.
Em 1925, o Ministério da Justiça e Negócios Exteriores promoveu a reforma na educação brasileira, permitindo a Carlos Chagas pôr em prática o seu objetivo, criando a especialização em Higiene e Saúde Pública e a cadeira de Doenças Tropicais na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro no ensino médico oftalmologista.
Carlos Chagas faleceu aos 55 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro vítima de um Infarto do Miocárdio.
Idealizador do Centro Internacional de Leprologia, Carlos Chagas recebeu diversas homenagens: uma herma na Praia de Botafogo foi construída em sua memória, de autoria do escultor Modestino Kanto. Um município do estado de Minas Gerais recebeu seu nome, além de cédulas de Cruzado e depois Cruzado Novo, terem circulado com sua imagem durante a década de 1980.
Morte
Carlos Chagas faleceu aos 55 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro vítima de um Infarto do Miocárdio.
Prêmios e Homenagens
Idealizador do Centro Internacional de Leprologia, Carlos Chagas recebeu diversas homenagens: uma herma na Praia de Botafogo foi construída em sua memória, de autoria do escultor Modestino Kanto. Um município do estado de Minas Gerais recebeu seu nome, além de cédulas de Cruzado e depois Cruzado Novo, terem circulado com sua imagem durante a década de 1980.
Quanto aos prêmios recebidos, em 1912 chegou o primeiro, o Prêmio Schaudinn, cedido pelo Instituto de Moléstias Tropicais de Hamburgo, Alemanha. Em 1921 foi nomeado Artium Magistrum, Honoris Causa, da Universidade de Harvard, Estados Unidos. Em 1923 ganhou o Prêmio Hors-Concours, na conferência comemorativa sobre o centenário de Louis Pasteur, em Estrasburgo, França, e em 1925 o Prêmio Kummel, da Universidade de Hamburgo, Alemanha. Ainda receberia em 1926, 1929 e 1934 outros títulos Honoris Causa, vindos da Universidade de Paris,Universidade de Lima e Universidade Livre de Bruxelas, respectivamente.
Recebeu diplomas da Universidade Nacional de Buenos Aires (1917), da Faculdade de Medicina da Universidade de Hamburgo (1925) e da Cruz Vermelha Alemã (1932). Foi nomeado membro da Academia Brasileira de Medicina em 1910, assim que o estudo foi divulgado. Como não havia vagas na época, foi decretado que ele seria um membro honorário. Também pertenceu à Société de Patologie Exótique da França (1919), à Physicans Club of Chicago, dos Estados Unidos (1921), à Associação Médica Panamericana (1922), da Sociedade de Artes Médicas das Índias Orientais Neerlandesas (1924), à Academia de Medicina de New York e à Kaiserlich Deutsch Akademie de Naturforscher zur Halle (1926), à Real Sociedade de Medicina Tropical e Higiene de Londres (1928), da Sociedade de Biologia de Buenos Aires e Academia de Medicina de Paris (1930).
Recebeu o título, em 1920, de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália. Em 1923 de Comendador da Coroa da Bélgica e de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França. Em 1924 o Grau de Oficial da Ordem de São Thiago, de Portugal. Em 1925 o de Comendador da Ordem de Afonso XII, Espanha. Em 1926 Comendador da Ordem de Isabel, a Católica da Espanha e em 1929 Cavaleiro da Ordem da Coroa da Romênia. Além disso, Carlos Chagas recebeu duas indicações para o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, embora não tenha sido laureado.
Publicações
- 1903 - Estudo hematológico do impaludismo, trabalho de tese para Doutorado, Rio de Janeiro.
1909 - Nova espécie de tripanossoma humano, boletim da Société de Pathologie Exotique, Paris.
1909 - Nova tripanossomíase humana, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.
1913 - As formas do novo tripanossoma.
1913 - Revisão do ciclo de vida do tripanossoma cruzi, nota suplementar, Rio de Janeiro.
1916 - Processos patogênicos da tripanossomíase americana, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.
1921 - Tripanossomíase americana: estudo do parasita e sua transmissão, The Chicago Medical Recorder, Chicago.
1925 - Tripanossomíase americana, doença de Chagas, Berlim.
1928 - Aspectos evolutivos do Trypanosoma cruzi e do inseto transmissor, notas da Société Biologique, Paris.
1928 - Aterações decorrentes da doença de Chagas, Paris.
1929 - Tripanossomíase americana, Doença de Chagas, En: Enrico Villela e H. da Rocha Lima, publicado na Handbuch der Tropenkrankheiten, Berlim.