ZAQUIA JORGE
(33 anos)
Atriz, Empresária e Vedete
* RJ (06/01/1924) + (22/04/1957) - CAPRICORNIO
Zaquia Jorge, atriz, empresária e vedete do teatro de revista, nasceu no Rio de Janeiro, em 6 de janeiro de 1924, e faleceu na mesma cidade em 22 de abril de 1957.
Estreou no teatro, como girl, na Companhia de Walter Pinto. Mais tarde, já como vedete, foi para a Companhia Juan e Mary Daniel, no Teatro Follies, em Copacabana. Tornou-se, a seguir, empresária do Teatrinho de Bolso, na Praça General Osório, onde encenou várias peças, em 1951.
Em Madureira, na década de 1950, tornou-se proprietária do único teatro de rebolado do subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira. Era conhecida como a "Estrela do Subúrbio" e "Vedete de Madureira".
Em Madureira, na década de 1950, tornou-se proprietária do único teatro de rebolado do subúrbio carioca, o Teatro de Revista Madureira. Era conhecida como a "Estrela do Subúrbio" e "Vedete de Madureira".
Coragem, Simplicidade e Pailleté
Na Companhia de Walter Pinto, em 27 de abril de 1945, no Teatro Recreio, estavaZaquia Jorge. A revista era Bonde da Laite, revista política feérica, de Luiz Peixotoe Geysa Bôscoli em 2 atos e 23 quadros que atingiu 200 apresentações, sendo prestigiada por mais de 900 mil pessoas e ressaltada pela crítica jornalística.
Participou, também, como corista da célebre revista "Canta, Brasil!" de Luiz Peixoto, Geysa Bôscoli e Paulo Orlando, que estreou em 23 de agosto de 1945. O jornalista Salvyano Cavalcanti, no livro "Viva o Rebolado", comenta que nesta revista "despontava Zaquia Jorge, com sua beleza esfuziante".
Dercy Gonçalves também tinha a sua trupe e a moça Zaquia Jorge lançou seus sorrisos em trabalhos nesta parceria. Fez parte do elenco da revista "Sinhô do Bonfim", de Peixoto e Bôscoli, da Companhia Dercy Gonçalves, que estreou no dia 17 de março de 1947 no Teatro João Caetano. Ainda pela observação de Cavalcanti: "subindo a cada peça de girl a soubrette, vedetinha e, logo, estrela."
Enquanto a Companhia Dercy Gonçalves continuava suas montagens teatrais, na revista "Deixa Falar" que estreou em 15 de maio de 1947, a mudança ocorreu: o elenco reformulou-se e Zaquia Jorge, apoiada por Júlio Leiloeiro, traçou novas metas, outros caminhos, rememorando também que obteve o apoio da crítica especializada devido a sua simpatia, na qual a elegante moça "fazia cada vez mais admiradores", conforme discorre Salvyano Cavalcanti em seu livro.
Héber de Bôscoli, sobrinho de Jardel Jércolis e Geysa Bôscoli, trabalhava com o programa "Trem da Alegria" naRádio Nacional do Rio de Janeiro, porém resolveu investir no formatorevista com muita responsabilidade, empresariando e fundando a Organização Teatral e Cinematográfica LTDA., que se dissolveria depois com o passar dos tempos.
Tendo como primeira revista "Quero Ver Isso De Perto..." de Luís Iglesias, aCompanhia de Héber contratou elenco grandioso: Dercy Gonçalves, Oscarito,Renata Fronzi, Yara Salles, dentre outros. Zaquia Jorge estava lá, contratada para compor o elenco, estando no palco com a Revista em cartaz no Teatro Carlos Gomes, de 9 de setembro a 17 de novembro de 1949. A estrela contracenara com Oscarito na charge "Camisa" e no esquete "O Rádio", no qual nossa querida artista cantava "A Penha" em um quadro popular.
Com esse novo panorama no universo da diversão, o Teatro de Revista dividiu-se em superproduções para revistas de grande porte e produções mais sucintas para revistas de bolso, encenadas em pequenas salas em vários bairros no Rio de Janeiro, com 150 a 200 lugares. Eram revistas compactadas, com rica estrutura trazendo novamente uma proximidade entre atores e público, resgatando a cumplicidade existente na revista das décadas anteriores, embora apresentando elementos da modernidade revisteira.
Juan Daniel inaugurou o Teatro Follies em 10 de novembro de 1949 e chegou a hora da moça Zaquia Jorge, de belos olhos, despontar. Foi contratada pelaCompanhia e promovida a primeira atriz. Destacava-se com Mesquitinha na peça de estréia do Teatro Follies, em Copacabana, no Rio de Janeiro, na empresa Juan Daniel , "Já Vi Tudo", de Mary Daniel e Floriano Faissal.
Em 1950, Juan Daniel e Jorge Murad escreveram uma revista sobre o carnaval, a liberdade existente nessa festa e a descontração dos foliões. "Ele Vem Aí!..."tinha direção de recitativo, danças de Mary Daniel e os atores Zaquia Jorge,Evilásio Marçal, Carmen Lamar, dentre outros no elenco.
A revista ficou em cartaz de janeiro até 12 de fevereiro. Seguindo a temporada do ano no Teatro Follies, aponta "Tô De Olho", com 21 quadros e 1 ato, com o mesmo elenco da peça anterior, ficando em cartaz de 1 de março até 2 de abril. Ainda na mesma empresa, Zaquia Jorge atuou na revista "Boa Noite, Rio", com texto original distribuído em 18 quadros, de Alberto Flores e outros, tendo músicas de César Siqueira e outros compositores.
A estréia aconteceu em 8 de abril de 1950 e permaneceu em cartaz por 3 semanas. A atriz participou dos quadros "Boa Noite, Rio", "Marido Modelo","Responda Segismunda!", "A Criada Fez Greve", contracenou com Grande Otelono quadro "O Novo Rico" e participou da apoteose final junto a toda a Companhia.
A Companhia de Juan Daniel avançou a década de 50 encenando muitas revistas, porém com diferenciado foco artístico e inegável faro comercial, tendo Luz del Fuego em seu cast. O diretor e pesquisador teatral Delson Antunes, na obra "Fora Do Sério" observa: "Vivendo um período de grande ascensão em sua carreira, a vedete em breve se desligaria da trupe de Juan Daniel para fundar o próprio teatro em Madureira, levando ao subúrbio muitos espetáculos e artistas (...)"
Embora o Teatro de Madureira tenha se configurado posteriormente, em 1952, com muito trabalho e esforço de Zaquia Jorge e seu companheiro Júlio Monteiro Gomes, o Júlio Leiloeiro, anteriormente, em 1951, a moça investiu em uma parceria com o ator Fernando Vilar no Teatro de Bolso, localizado em Ipanema, Rua Jangadeiros nº 28 A-B, na Praça General Osório.
Zaquia Jorge, trabalhando com a comédia, lutou junto ao Serviço Nacional do Teatro através de várias cartas, pedindo apoio ao órgão para auxílio de temporada iniciada em 30 de março de 1951. Constam em documentação da Cia. 11 peças teatrais, dentre elas, A inimiga dos homens - comédia de R. Praxy, com tradução de J. Ribeiro, com sessões noturnas e uma vespertina aos domingos, dividindo-se a comédia em 3 atos, com a morena Zaquia no papel de Maria Cândida.
"As Pernas Da Herdeira", de autoria de De Leone, com direção artística de Esther Leão, foi outra peça de seu repertório, tendo Zaquia Jorge como Margot, seguindo-se, assim, a peça "O Dote", de Arthur Azevedo, a qual a atriz escolheu montar a rigor, com ares de 1907.
Embora todo o esforço tenha sido empenhado para que a Companhia se mantivesse viva em sua criação e com boa manutenção financeira, seus donos propuseram ao Serviço Nacional do Teatro alugar o teatro para que ele não fechasse suas portas. Zaquia Jorge preocupava-se com seus companheiros, já que não queria deixar sem trabalho as pessoas que viviam ali em entrega à arte, sendo que pessoalmente tinha o exato conhecimento da batalha por um fascínio – o teatro.
Paralelamente, materializava-se um grande sonho dela, a construção de um teatro no subúrbio. Zaquia Jorge percebeu a carência de oferta de espetáculos para o subúrbio e decidiu que o povo que ali morava também poderia ter acesso ao Teatro de Revista, assim como acontecia no Centro e na Zona Sul - bem estruturado e com excelente qualidade.
Em parceria com Júlio Leiloeiro e, com peculiar cuidado e estima a linguagem artística, construiu o prodigioso Teatro Madureira, situado à Rua Carolina Machado, 386, em frente à estação de trem do bairro. Neste bairro, trouxe a alegria do espetáculo ao público, o entendimento da arte teatral, estabeleceu a criação de uma plateia em uma região que não era bem agraciada com diversões dessa espécie.
O teatro possuía 450 lugares, 12 camarins e muitos camarotes. Com estreia marcada para 23 de abril de 1952, o teatro inaugurou oficialmente em 30 de abril, com a revista "Trem De Luxo", escrita especialmente para sua estreia por Walter Pinto e Freire Júnior, com 22 quadros, tendo como cômicoEvilásio Marçal. Zaquia Jorge participou dos quadros "Dona Boa E Brotinhos","Campanha Das Donas De Casa","Velhos Amigos", "Existencialismo" e a apoteose "Exaltação à Bahia".
Inicialmente, Zaquia Jorge enfrentou uma platéia totalmente desacostumada a ter um teatro tão próximo e a usufruir desta iguaria. O público ainda não havia descoberto o teatro, isto acarretou problemas de bilheteria, mesmo assim tal circunstância não abalou a moça que, com seu senso de marketing aguçado, empregou estratégias para atrair as pessoas - facilitou o acesso das pessoas ao teatro, reduzindo o preço do convite, divulgando constantemente, deixando pessoas assistirem de graça aos espetáculos.
Zaquia Jorge permaneceu investindo junto a Júlio Leiloeiro no teatro, além do constante diálogo com o Serviço Nacional de Teatro, escrevendo cartas e nem sempre obtendo o resultado desejado. Buscava apoio das entidades, ajuda financeira para melhor realizar o seu trabalho, pedidos de reavaliação de tarifas pelos direitos autorais das músicas a serem utilizadas nas montagens da empresa, embora sempre tenha tido que segurar firmemente as rédeas financeiras de seu sonho.
Em 1952, constavam na Companhia Zaquia Jorge 17 artistas e, em 1955, 12 artistas e 14 girls, dentre todos, Salúquia Rentini e Carmen Lamar. A atriz fazia questão de fomentar a montagem de peças de autores e compositores nacionais e, juntamente ao cotidiano do teatro, com esforço esmerado, funcionava uma escola para jovens artistas, dando oportunidade aos novos artistas. Lá aprendiam representação, canto e coreografia. Muitos por ali passaram e seguiram desenvolvendo trabalhos em outros teatros como Gloria May, Lia Mara, dentre outros.
Avançando a década de 50, o número de peças existentes em revista, oscilava. Apesar da alastrada afeição que a televisão e as telenovelas causaram na população, a revista caminhava, estrelando os palcos cariocas. Ronaldo Grivet, autor da peça "A Vedete Do Subúrbio", feita para homenagear Zaquia Jorge, conta-nos em sua pesquisa, que o teatro passou a ser o mais frequentado da cidade, com carros vindos de todos os bairros, e que se prezava pelo uso do duplo sentido nas peças – elemento original do gênero – não eram utilizados palavrões ou assuntos como bebida e tóxico, raramente inseria tipos políticos e destacava a alegria. Teatro de boas intenções, de verdadeira feitura na Arte – esta era a esfera do Teatro Madureira e a Companhia Zaquia Jorge.
Em 1953, algumas revistas se destacaram, dentre elas, montagens do Teatro Madureira – "Ajuda Teu Irmão", "Chegou O Guloso", com a grande cantora Aracy Côrtes - dama da voz e dos palcos - em participação especial, "A Galinha Comeu","O Baixinho É Menor" e "Tá Na Hora".
Além das obras citadas, o palco do Teatro Madureira projetou as seguintes peças:"O Negócio É Rebolar", "Confusão Na Arena", "Macaco, Olha O Teu Rabo", "Tira O Dedo Do Pudim", "Bota O Café No Fogo", "Boca De Espera", "Vê Se Me Esquece", "Pintando O Sete", "Satélite De Mulheres", "Garoto Enxuto", "Mengo,Tu És Meu", "Vai Levando", "Curió", "Tudo É lucro", "O Pequenino É Quem Manda", "Vamos Brincar", "Vira O Disco", "Banana Não Tem Caroço", "Alegria Do Peru", "Sacode A Jaca", "Mistura E Manda", "Tudo De fora", "Você Não Gosta".
Zaquia Jorge foi homenageada com os sambas "Zaquia Jorge - Vedete Do Subúrbio - Estrela De Madureira", de Avarese, sendo tema da Escola de Samba Império Serrano, em 1975 e "Madureira Chorou", de Carvalhinho e Júlio Leiloeiro, e uma peça "A Vedete Do Subúrbio", de Ronaldo Grivet e José Maria Rodrigues.
Madureira Chorou
Zaquia Jorge teve morte trágica, na praia da Barra da Tijuca, quando tomava banho de mar em companhia de várias outras artistas. Era comum as vedetes se bronzearem 'al natural' na Barra, por ser uma praia deserta na época. A edição do jornal O Globo de 23 de abril de 1957 assim noticiou a morte de Zaquia Jorge:
"Rapidamente, a notícia foi propagada, e grande número de atores da Companhia da Revista Zaquia Jorge e de outras empresas chegou ao local. Em poucos instantes as brancas areias da praia foram pisadas por centenas de pés, já que também foi grande o número de curiosos que acorreu.
Quando um guarda-vidas retirou, do perau em que caíra, o corpo da vedete, Celeste Aída, uma das que a acompanhavam, abraçou-se ao cadáver, chorando copiosamente. Celeste Aída vira a amiga desaparecer e tudo fizera para salvá-la, não o conseguindo porque era muito fundo o perau. Enquanto ela se esforçava, os dois homens que integravam o grupo e que estavam longe aproximaram-se. Na areia, muito assustadas, cinco girls assistiam à luta de Celeste Aída, sem poder ajudá-la.
Afinal, cansada e desanimada, Celeste Aída voltou às areias, Zaquia Jorge desaparecera e, quando foi encontrada, já estava quase sem vida. Morreu pouco depois...
Foi sepultada no Cemitério de São Francisco Xavier, pranteada por artistas e populares, que a reverenciaram como a pioneira do teatro suburbano carioca. Das 06:00h às 16:30hs de ontem, mais de 4.000 pessoas afluíram ao Teatro de Madureira, em cujo palco ficou exposto o corpo da artista. Com a platéia e os balcões apinhados, o ambiente fazia lembrar um grande dia de récita. Contudo, a emoção do público era intensa, guardando os presentes muito respeito.
No palco, no alto, por cima do caixão de Zaquia Jorge, havia um grande quadro de São Jorge. A artista morrera na véspera do dia consagrado ao santo. Ontem fazia cinco anos que inaugurara seu teatro, com a peça 'Trem De Luxo', de Válter Pinto e Freire Júnior.
Sobre uma fileira de dez cadeiras havia dezenas de coroas entre elas, do Teatro Santana (São Paulo), do Corpo de Bombeiros, das escolas de samba Sampaio e Império Serrano, de inúmeras entidades e figuras da arte e de outros setores. O povo humilde do subúrbio formou filas, subindo ao palco para dar seu último adeus a Zaquia Jorge..."
Em sua homenagem foi composta a música "Madureira Chorou", um samba de sucesso no carnaval de 1958.
"Rapidamente, a notícia foi propagada, e grande número de atores da Companhia da Revista Zaquia Jorge e de outras empresas chegou ao local. Em poucos instantes as brancas areias da praia foram pisadas por centenas de pés, já que também foi grande o número de curiosos que acorreu.
Quando um guarda-vidas retirou, do perau em que caíra, o corpo da vedete, Celeste Aída, uma das que a acompanhavam, abraçou-se ao cadáver, chorando copiosamente. Celeste Aída vira a amiga desaparecer e tudo fizera para salvá-la, não o conseguindo porque era muito fundo o perau. Enquanto ela se esforçava, os dois homens que integravam o grupo e que estavam longe aproximaram-se. Na areia, muito assustadas, cinco girls assistiam à luta de Celeste Aída, sem poder ajudá-la.
Afinal, cansada e desanimada, Celeste Aída voltou às areias, Zaquia Jorge desaparecera e, quando foi encontrada, já estava quase sem vida. Morreu pouco depois...
Foi sepultada no Cemitério de São Francisco Xavier, pranteada por artistas e populares, que a reverenciaram como a pioneira do teatro suburbano carioca. Das 06:00h às 16:30hs de ontem, mais de 4.000 pessoas afluíram ao Teatro de Madureira, em cujo palco ficou exposto o corpo da artista. Com a platéia e os balcões apinhados, o ambiente fazia lembrar um grande dia de récita. Contudo, a emoção do público era intensa, guardando os presentes muito respeito.
No palco, no alto, por cima do caixão de Zaquia Jorge, havia um grande quadro de São Jorge. A artista morrera na véspera do dia consagrado ao santo. Ontem fazia cinco anos que inaugurara seu teatro, com a peça 'Trem De Luxo', de Válter Pinto e Freire Júnior.
Sobre uma fileira de dez cadeiras havia dezenas de coroas entre elas, do Teatro Santana (São Paulo), do Corpo de Bombeiros, das escolas de samba Sampaio e Império Serrano, de inúmeras entidades e figuras da arte e de outros setores. O povo humilde do subúrbio formou filas, subindo ao palco para dar seu último adeus a Zaquia Jorge..."
Em sua homenagem foi composta a música "Madureira Chorou", um samba de sucesso no carnaval de 1958.
Filmografia
- 1946 - Sob A Luz De Meu Bairro
1946 - Fantasma Por Acaso
1946 - Caídos Do Céu
1949 - Pinguinho De Gente
1950 - A Serra Da Aventura
1951 - Aguenta Firme, Isidoro
1957 - A Baronesa Transviada