Goiá
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GERSON COUTINHO DA SILVA
(46 anos)
Cantor e Compositor
* Coromandel, MG (11/01/1935)
+ Uberaba, MG (20/01/1981) - CAPRICORNIO
 
Mais conhecido como Goiá, foi um cantor e compositor brasileiro.
 
Logo abaixo está a transcrição fiel da biografia do poeta, datilografada por ele mesmo de forma resumida, quase como um currículum:
 
GERSON COUTINHO DA SILVA (GOIÁ)
Filiação: Celso Coutinho da Silva e Margarida Rosa de Jesus
 
Nasci em 11 de janeiro de 1935, em Coromandel, na Rua Raul Soares, numa casa que muitos anos depois ficou conhecida por Casa do Períque (o nosso Péricles, de saudosa memória);
 
 
Desde pequenino, sempre gostei de "falar versos" (recitar trovas), e como sempre recebia em troca um "cachê" (doce, queijo, requeijão, etc.), meu entusiasmo cresceu sobremaneira, até que um dia, no auge da interpretação, quis dar um colorido especial à uma frase, expressando-a com bastante força, mas, o que todos ouviram foi um longo e grave ruído, considerado impróprio e vergonhoso, na presença "dos mais velhos", e foi assim que Coromandel perdeu seu declamador, de quatro anos de idade...
 
Ganhei de meu pai uma gaita de boca, que foi minha companheira por muitos anos, até que a troquei por um cavaquinho, mas, a minha alegria maior foi quando ganhei um violão "de tarrachas", que era o meu grande sonho...
 
 
Comecei a cantar em dupla com vários parceiros, dentre eles, Anterino Coutinho, meu irmão NelsonGeraldo Telles (Geraldinho do Vigilato), seu irmão José (Zé do Vigilato), e quando chegávamos naquelas festas animadas, o pessoal sempre dizia:
 
Goi%C3%A1+2.jpg- "Chegou o fio do Cerso cum seus cumpanhêro!"
 
E a coisa "fervia" até o nascer do sol!
 
Essa época marcou muito para mim e é responsável, em grande parte, pela saudade impossível que sinto da infância!
 
Comecei a estudar música com o mestre José Ferreira e enquanto não terminava o cursoarrow-10x10.png, passei a ser o tocador de bumbo ou bombo, e como por essa ocasião eu formava dupla com oMiguelinho (filho do "Miguel Batalhão"), arranjei para ele um lugar na banda de música, como tocador de Tarol. E depois das retretas (Chapadão, Alegre, Mateiro,Santa Rosa, etc), a gente cantava nas"Barracas" e o incentivo era imenso.
 
Após passarmos uma temporada em Lagamar, em casa de minha irmã Maria e de meu cunhado "Fulô", fomos (eu e Miguelinho) para Patos de Minas, onde cantamos, por alguns meses, no programa do Compadre Formiga, meu querido amigo Padre Tomaz Olivieri.
 
Mas eu não suportava passar mais que dois meses fora de Coromandel! Saia e voltava, voltava e saia...
 
Foi em 1953 que parti para Goiânia, (então com dezoito anos de idade, juntamente com o meu pai) onde fiquei conhecendo gente maravilhosa, e onde permaneci por dois anos, aprendendo muito, em todos os sentidos!
 
Formei o Trio da Amizade, (o primeiro nome artístico foi Rouxinol), com programas diários na inesquecível Rádio Brasil Central, e fomos os primeiros do Estado agravar discos em São Paulo (dois discos com 78 RPM na antiga Columbia, atual CBS).
 
Tenho um carinho especial pelo Estado de Goiás, notadamente por Goiânia, onde deixei grandes amigos, que jamais esquecerei!
 
De lá parti, no último dia do ano de 1955, e confesso, parti com lágrimas nos olhos, mas a grande meta era São Paulo, o grande eixo, também no mundo artistico.
 
Aqui, gravei alguns discos com o Trio Mineiro e após uma temporada na Rádio Nacional, nos programas do amigo Nhô Zé, transferí-me para a Rádio Bandeirantes, onde fui contratado como apresentador de programas, inicialmente no Maiador da Fazenda, do amigo e parceiro Zacarias Mourão, e posteriormente lancei o Choupana do Goiá, além de ser substituto eventual dos saudosos Capitão Balduino e Comendador Biguá, em seus tradicionais programas Brasil Caboclo eSerra da Mantiqueira.
 
Esqueci-me de dizer que durante toda minha trajetória, de Coromandel a Patos, Goiânia e São Paulo, jamais deixei de compor minhas músicas, e através delas, chorava a grande saudade de minha terra, mas, eu tinha em mente um ideal, e todo ideal exige sacrifícios, e de todos, o maior era a ausência prolongada de minha cidade, de minha gente, "meus amores...".
 
Permaneci na Rádio Bandeirantes até meados de 61, quando então a quase totalidade do cast sertanejo daquela emissora havia gravado músicas minhas;Pedro Bento e Zé da Estrada, Liu e Léo, as Irmãs Galvão, Zilo e ZaloCaçula e MarinheiroTibagi e MiltinhoSouza e MonteiroPrimas Miranda e outros tantos.
 
Fui para a Rádio 9 de Julho (ainda como apresentador) a convite do Geraldo Meirelles e Zé Claudino, lá ficando por dois anos, quando me despedi, e depois de uma curta temporada com Zacarias Mourão na Rádio Excelsior, decidi dedicar-me inteiramente às composições.
Com exceção de alguns meses como free-lancer na Rádio Nacional, no programa Biá e Seus Batutas, nunca mais voltei a apresentar programas, tendo me dedicado, de corpo e alma, aos meus "versos"...
 
Um dia, para a alegria do povo de Coromandel, a dupla, Goiá e Biá, gravou o seu primeiro LP, com as composições de Goiá, e muitas falando de Coromandel e do Estado de Goiás, sendo que nesta época o seu parceiro e cunhado era bem conhecido na música sertaneja, através da dupla Palmeira e Biá, assim concretizando de vez os seus sonhos no âmago de sua alma.
 
Sentindo certas dificuldades ao cantar em dupla, não com relação a Biá, que sempre foi o seu Parceiro-Amigo-Irmão, como ele mesmo dizia, separou-se de Biápara gravar individualmente o seu primeiro LP em duas vozes, sendo um dos primeiros no Brasil a gravar neste estilo.
 
Assim, Goiá mostrou a sua familiaridade com o violão, pois tinha uma impressionante capacidade de musicar, não somente suas letras como também de muitos parceiros seus, vestindo a cada dia uma roupagem nova na Música-Política-Sertaneja.
 
Goi%C3%A1+1.jpgE, sempre acompanhado de grandes personalidades da época, Goiá viveu dias intensos de viagens earrow-10x10.png shows por todo esse Brasil.
 
Mas nem tudo foi um mar de rosas. Além das dificuldades que todos enfrentam neste país, ele tinha também o seu lado de esposo e pai, sempre mostrando um carinho muito grande pela sua família, já composta de três filhos: RóbsonMyre eHilger. Aí passou a ver o lado financeiro de suas músicas, pois até então, de direitos autorais, pouco recebia, devido a não regulamentação desse direito no Brasil.
 
Como exemplo, Goiá compôs a trilha sonora do filme A Vingança de Chico Mineiro, onde quase nada recebeu por um grande trabalho de uma qualidade indiscutível.
 
Por volta de 1971, começou um tempo negro em sua vida. Goiá passou a ser portador de Diabetes, e como ele mesmo dizia, abusava muito de sua saúde, não se alimentando corretamente, passando longos períodos de viagens earrow-10x10.png cantorias, ficando até três anos sem fazer um exame de sangue sequer.
 
E foi em dezembro de 1979, nos exames realizados em Uberlândia que ficou comprovado: Além do açúcar no sangue, Goiá era portador de Cirrose Hepática, já bem acentuada, Ascite, água no peritônio.
 
De volta a São Paulo, começou a corrida aos hospitais na tentativa de estacionar a Cirrose, e com isso ele perdia peso assustadoramente.
 
Foi quando em novembro de 1980, já vivendo praticamente só de cama, transferiu-se para Uberaba, ficando mais perto de Coromandel, podendo ser visitado freqüentemente pelos seus conterrâneos, trazendo para si, forças para continuar, mesmo acamado, a escrever suas canções.
 
Nos últimos anos de sua vida, Goiá já escrevia para o estilo sertanejo moderno e já era gravado por Chitãozinho e Xororó, João Mineiro e Marciano, Cezar e Paulinho,Milionário e José Rico, Duduca e Dalvan, Chico Rey e Paraná e muitos outros.
 
No dia 20 de Janeiro de 1981, às 8:00 hs, morre Goiá em Uberaba, Minas Gerais, aos 46 anos. Seu corpo foi levado para Coromandel e esperado por uma multidão de pessoas, exatamente na Placa de 5 Km, onde outrora foi sempre esperado pelo seu povo.
 
Seu corpo foi velado na Igreja de Sant'ana e sepultado no Cemitério Municipal de Coromandel, no dia 21 de janeiro, passando a viver conosco somente de forma espiritual.
 
No seu túmulo, ficou escrito o que humildemente pediu numa de suas canções, mostrando mais uma vez a sua natureza humana: "A humildade, que era o seu gesto maior".
 
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