Zózimo Bulbul
"Fui capa de revista, um sucesso! Só que não me conformaria em ser um ator vazio."
"Tinha morado em Nova York quando a ditadura apertou por aqui. Fiz muitos contatos, que sempre me ajudaram na organização dosfestivais de cinema. Spike esteve no Brasil e o único cineasta brasileiro que quis entrevistar foi a mim. Porque ele sabia do meu comprometimento com os irmãos africanos e em fazer com que o cinema seja ferramenta de luta."
"Que maravilha de atuação. Impôs-se com rigor e inteligência como não se via há muito."
"É um sentimento horrível, horroroso, mas o que existe agora é um grande alívio, pois ele estava sofrendo muito. Tenho a certeza de que ele lutou muito, o tempo todo, e se orgulhava muito de todas as coisas que conquistou em vida. É um guerreiro, um rei africano."
"Minha ficha ainda não caiu. Por enquanto ainda estou reagindo de uma maneira prática a tudo isso. Mas é muito doloroso perder o Zózimo desta maneira. Ele tinha uma força de viver muito grande. Acho que é exatamente isso que está unindo as pessoas neste momento."
"Foi contando a história dele que comecei a dirigir. Meu primeiro trabalho no Canal Brasil foi um 'Retratos Brasileiros' sobre ele. Descobri-lo como o primeiro negro protagonista masculino de uma telenovela no Brasil e tantas outras coisas me revelou um novo mundo"
"O povo brasileiro tem avançado muito nessa caminhada para construir a igualdade de oportunidades entre negros e não negros, e o Zózimo é um dos protagonistas que vêm de longe lutando contra o racismo e em prol da igualdade. Por isso eu digo que o Brasil ficou hoje menos afro-brasileiro, com uma dor intensa. Mas as futuras gerações conhecerão o trabalho de Zózimo, a riqueza de sua obra e de sua militância."
"Ele não era só um ator de qualidade, mas um ícone da cultura negra, um líder do movimento negro. Tinha uma capacidade imensa de agregar pessoas em torno dele."
(75 anos)
Ator, Cineasta e Roteirista
* Rio de Janeiro, RJ (1937)
+ Rio de Janeiro, RJ (24/01/2013)
Primeiro ator negro a protagonizar uma novela na televisão brasileira, "Vidas Em Conflito" (1969) na extinta TV Excelsior, onde foi par romântico de Leila Diniz. O escândalo do par fez com que a censura da ditadura militar vetasse a novela. Aproveitando-se da polêmica, o estilista Dener Pamplona convidou Zózimo para desfilar, tornando-o o primeiro modelo de uma grande grife brasileira.
(Zózimo Bulbul)
Sua carreira começou nas peças do Centro Popular de Cultura da UNE e se encorpou no cinema, no qual se tornou um dos maiores expoentes da cultura afro-brasileira, como fazia questão de ressaltar, nas décadas de 1960 e 70. No cinema, estreou em 1962 em um dos episódios do filme "Cinco Vezes Favela", um dos no marcos do Cinema Novo. Ao longo de 50 anos de carreira, Zózimo Bulbul atuou em mais de 30 filmes, incluindo clássicos como "Terra em Transe", de Glauber Rocha, "Compasso de Espera", de Antunes Filho e "Grande Sertão", de Geraldo Santos Pereira.
Chacrinha chamava o ator Zózimo Bulbul de "O negro mais bonito do Brasil".
Em 1974, estreou como diretor com o curta em preto e branco "Alma no Olho", uma reflexão da identidade negra por meio da linguagem corporal. Zózimoaproveitou os negativos que sobraram do filme de Antunes Filho para rodar seu curta-metragem. Os integrantes da censura achavam que a obra tinha tom"subversivo" e o chamaram para depor. Perguntaram sob ordem de quem ele havia feito filme tão sofisticado, imaginando que chegariam a uma complexa mente comunista. "Sob ordens do amigo e poeta Vinicius de Moraes", respondeu Zózimo.
Seu filme mais conhecido, no entanto, é um documentário de 1988 intitulado"Abolição", com entrevistas de personalidades sobre o centenário da abolição.
Fundador do Centro Afro Carioca de Cinema que, realizou no final do ano passadoo 6º Encontro de Cinema Negro Brasil/África. Realizou três curtas, cinco medias e um longa-metragem, todos com foco na cultura afro descendente e na luta contra as desigualdades.
Em 2010, a convite do governo do Senegal, Zózimo fez o média-metragem"Renascimento Africano", que mostra o país nas comemorações dos 50 anos de independência deste país.
Em novembro de 2012, o ator foi homenageado pelos 50 anos de carreira no 6º Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe, evento que foi criado por ele.
Uma das últimas entrevistas que concedeu foi para o documentário em produção do cineasta americano Spike Lee. Em novembro de 2012, comentou como transcorreu a conversa.
Zózimo já estava enfraquecido pelo câncer que enfrentava havia alguns anos. Falava com dificuldade. Estava muito atento ao noticiário e enalteceu a figura do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, na condução do julgamento do mensalão.
Zózimo Bulbul trabalhou até novembro de 2012.
Morte
Zózimo Bulbul sofreu um infarto às 9:50 hs de quinta-feira, 24/01/2013, aos 75 anos. Zózimo estava seu apartamento, na praia do Flamengo, ao lado da mulher, Biza Vianna com que era casado havia 30 anos. Ele lutava desde junho de 2012 contra um câncer no colo do intestino.
O velório começou às 17:00 hs de quinta-feira, 24/01/2013, na Câmara dos Vereadores do Rio. O enterro será às 12:00 hs de sexta-feira, 25/01/2013, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária da cidade.
(Biza Vianna, viúva de Zózimo)
Comentários e Notas de Pesar
(Monalisa Alves, que trabalhava com o diretor no Centro Afrocarioca de Cinema há três anos)
"Zózimo Bulbul teve uma trajetória fantástica, reconhecida. Mais que um ícone do seu tempo, é alguém que rompe paradigmas, faz o novo e por isso se torna conhecido no Brasil e no exterior. Ele nos deixa o exemplo de quem sempre quis fazer mais e melhor. E fez."
(Marta Suplicy - Ministra da Cultura)
(Lázaro Ramos)
(Eloi Ferreira de Araujo - Presidente da Fundação Cultural Palmares)
"Ele foi o primeiro cara que cunhou esse termo 'cinema negro', com características brasileiras, mas muito africano. Aqui no Brasil ele me colocou em conexão com o cinema mundial. Para mim, é uma perda muito pessoal desse pai do cinema negro, mas que também muitas vezes assumiu o papel de um pai biológico para mim."
(Jefferson De - Diretor de "Bróderr" e "5x Favela")
"Ele não era só um ator de qualidade, mas um ícone da cultura negra, um líder do movimento negro. Tinha uma capacidade imensa de agregar pessoas em torno dele."
(Cacá Diegues)
O Centro de Articulação de Populações Marginalizadas divulgou nota lamentando a morte do ator e cineasta, um dos contemplados em 2011 na última edição doPrêmio Camélia da Liberdade, concedido pela entidade. De acordo com a nota,Zózimo Bulbul manifestou grande emoção pelo reconhecimento de seu trabalho de luta contra o preconceito.
Carreira
Televisão
- 1996 - Xica da Silva
1994 - Memorial de Maria Moura
1969 - Vidas em Conflito
Cinema
- 2005 - As Filhas do Vento
2004 - O Veneno da Madrugada
2003 - Oswaldo Cruz - O Médico do Brasil
2002 - A Selva
1988 - Natal da Portela
1987 - Tanga (Deu no New York Times?)
1984 - Quilombo
1982 - A Menina e o Estuprador
1980 - Giselle
1980 - Parceiros da Aventura
1978 - A Deusa Negra
1975 - Ana, a Libertina
1974 - El Encanto Del Amor Prohibido
1974 - Brutos Inocentes
1974 - Pureza Proibida
1971 - Quando as Mulheres Paqueram
1970 - A Guerra dos Pelados
1970 - O Palácio dos Anjos
1970 - República da Traição
1969 - O Cangaceiro Sem Deus
1969 - A Compadecida
1969 - Em Compasso de Espera
1968 - O Engano
1968 - O Homem Nu
1967 - Terra em Transe
1967 - Garota de Ipanema
1967 - El Justicero
1967 - Proezas de Satanás na Vila do Leva-e-Traz
1966 - Onde a Terra Começa
1965 - O Grande Sertão
1963 - Ganga Zumba
1962 - Cinco Vezes Favela